Vereadores acompanharam a apresentação dos dados por
gestores dos hospitais - foto:
Santa Casa e
Hospital dos Fornecedores de Cana apontam aumento dos custos fixos e variáveis
e pedem mais R$ 36 milhões para manter média de 1.700 internações mensais
O aumento
de 58% nos custos variáveis desde 2019, acompanhado do crescimento também das
despesas fixas, levou o comando da Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba e
do Hospital dos Fornecedores de Cana a procurar a Câmara para discutir saídas
ante a projeção de alta de R$ 41 milhões do déficit anual das duas instituições
em 2022, baseada no que já está ocorrendo em 2021.
O cenário, classificado pela gerente financeira do HFC, Luciana
Garcia, como "bastante desafiador", foi compartilhado com os
vereadores na noite desta segunda-feira (29), em reunião na sala da
Presidência, em meio à 48ª sessão ordinária. A preocupação mira a necessidade
de atualização dos valores da contratualização a ser firmada com a Prefeitura,
ainda este ano, para os atendimentos que serão oferecidos a partir de janeiro.
Luciana, o gestor financeiro Wagner Marrano e a administradora
Vanda Petean, ambos da Santa Casa, fizeram a apresentação aos parlamentares por
iniciativa do presidente da Câmara, que os recebeu na semana
passada. Gilmar Rotta (Cidadania) disse que o próximo passo do Legislativo
é ouvir como o Executivo, a quem a situação dos dois hospitais foi informada em
reunião em maio, avalia o cenário. "Estou acertando com o Filemon
[Silvano] para ele vir à Câmara na quinta colocar a versão dele",
comunicou o presidente.
Em carta enviada a Gilmar Rotta no último dia 11 e retransmitida
aos demais vereadores, os gestores da Santa Casa e do HFC creditam o
"déficit histórico" como "oriundo da prestação de serviços ao
SUS [Sistema Único de Saúde]" e apontam prejuízo, somados os dois
hospitais, superior a R$ 50 milhões em 2021, mesmo já consideradas "as
isenções usufruídas através da filantropia, assim como as emendas
parlamentares" e outras fontes de recursos.
A tabela SUS, afirmam, não tem reajuste há mais de 15 anos
"e, atualmente, cobre apenas um terço do custo dos atendimentos". Os
gestores também fazem menção ao crescimento, nos dois últimos anos, dos gastos
fixos dos hospitais (com salários, plantões, contratos de manutenção e
informática) e das despesas variáveis (como compras de materiais de
higienização e equipamentos de proteção individual), as quais chegaram em 2021
a "níveis insuportáveis".
A defasagem dos valores pagos pelo governo federal foi
exemplificada por Luciana, tomando como base a colecistectomia
videopalaroscópica (como é chamada a cirurgia de vesícula). Dois dias de
internação para o procedimento custam aos hospitais R$ 4.592,76; porém, eles
recebem, pela tabela SUS, R$ 826,47 e, pela contratualização da Prefeitura,
outros R$ 905,64. Com isso, o prejuízo arcado pelas instituições com a
realização de cada cirurgia é de R$ 2.860,64.
Para a contratualização a ser firmada com a Prefeitura para
2022, os gestores afirmam que a manutenção do quantitativo atual de serviços
depende de um "incremento no valor do incentivo municipal", como é
chamado o repasse feito pelo Executivo local aos dois hospitais desde 2012, em
R$ 3 milhões mensais (dos quais R$ 1,7 milhão iriam para a Santa Casa e R$ 1,3
milhão ao HFC).
Os R$ 36 milhões a mais no próximo ano, explicou Luciana,
abateriam o déficit de R$ 40.976.802 hoje representado pela soma dos
resultados negativos com custos fixos e variáveis dos dois hospitais. Mesmo
ficando um residual ainda negativo, de quase R$ 5 milhões, a redução do déficit
o faria voltar ao patamar de antes da pandemia, tornando-o novamente administrável
com ferramentas de gestão hospitalar e planos de contingenciamento. Hoje,
frisou a gerente financeira do HFC, a situação "saiu do
controle". "Chegamos ao limite", disse.
Caso os dois hospitais não consigam o acréscimo de R$ 3 milhões
mensais ao incentivo já pago pelo município, a Santa Casa e o HFC afirmam que
"serão obrigados a reduzir o número de internações ao SUS em
aproximadamente 40%, cerca de 7.200 internações no ano, o que geraria um grande
impacto à população de Piracicaba e microrregião". Atualmente, a média
mensal é de 1.700 internações.
O corte no atendimento viria num momento em que a demanda por
leitos vai no sentido contrário: Santa Casa e HFC totalizaram, juntos,
15.851 internações de janeiro a setembro de 2021, o que projeta uma alta, na comparação
anualizada, de 6% em relação às 19.980 internações de 2020. "Hoje, os dois
hospitais respondem por quase 90% dos atendimentos ambulatoriais e internações
de Piracicaba e região", ilustrou Luciana, acrescentando que 80% são
pacientes residentes na cidade e o restante, de municípios da DRS-X.
Durante a reunião, vereadores fizeram questionamentos sobre se o aumento do déficit é acompanhado de uma alta na produtividade de ambos os hospitais, o que foi assegurado por Luciana e Wagner, citando dados disponibilizados pelas duas instituições sobre o cumprimento dos serviços contratualizados com a Prefeitura. Outros parlamentares reafirmaram a disposição em atuar em conjunto com os hospitais, o Executivo e outras esferas de governo na busca por alternativas para elevar a transferência de recursos.