Foto: Danilo Telles/ Rádio Metropolitana
VIDA - ESPAÇO - TEMPO
Pelo Calendário
Gregoriano que adotamos, estamos adentrando em 2022 muito embora pesquisa
histórica indica que, na realidade, iremos ingressar o ano novo de 2028 ou 2029
. Um fato curioso é que apesar de separarmos o tempo histórico em duas fases,
antes e depois de Cristo, não existe o ano zero ! Para o inicio da Era Cristã,
Dionysius Exiguus, monge romeno que vivia em Roma no ano 525 d.C., cometeu um
erro de computação em conseqüência do qual, a nova era se iniciou com 5 anos de
atraso em relação ao nascimento de Jesus Cristo que teria ocorrido no ano 7
a.C. Em seu livro “A Infância de Jesus”,
o papa Bento XVI diz que Maria deu a luz entre os anos 7 e 6 a.C. o que
concorda com os dados dos pesquisadores . Você sabia que uma pesquisa histórica
aponta que desde os albores da civilização, já foram feitos 28 calendários ?
Atualmente os mais em uso são o calendário hebreu, chinês, muçulmano e
naturalmente o nosso. Como tudo envolve
o tempo, você já se perguntou o que é ele ? Segundo Einstein.”o tempo como é
conhecido, não passa de uma invenção”. Sendo assim, pouco importa se estaremos
em 2022 ou 2028.
É importante saber ,
que o nosso Calendário foi instituído em 1582 através de uma bula do papa
Gregório XIII. Mudanças substanciais foram feitas do Calendário Juliano então
em curso. Contudo, em que pese os acertos, fica impossível estabelecer um
Calendário preciso em razão dos tempos de rotação e translação da Terra não
apresentar números pares. Com isso, nosso Calendário apresenta o erro de um dia
a cada 3323 anos. Se essa diferença é
ínfima para o ser humano , na datação de fatos históricos, em Astronomia ,
Ciência Espacial e cálculos relativísticos, tal é inadmissível.
Esses conhecimentos nos
permite algumas reflexões sobre a Vida
, Espaço e Tempo. No mundo atual, como
estranhos em seu próprio habitat, o ser humano ainda não aprendeu encontrar a
grandeza da sua pequenez e da sua
estupidez. Não se interessam em saber o que são , onde estão , para onde vão e seu destino final. Contentam-se naquilo que está escrito nos
livros sagrados. É mais cômodo viver assim. Acham-se entorpecidos por um
sistema que os transforma em máquinas de consumismo como símbolo de felicidade.
Seu dia-a-dia é preenchido pela chupeta eletrônica que os utiliza e descarta
como objetos tornando-os robôs . Advindo qualquer infortúnio, é a vontade de
Deus, concepção que não se sustenta, não conforta mas que encontra entendimento
e sabedoria em algumas milenares filosofias orientais e crenças espiritualistas
do mundo atual.
Continuamos a ser um
enigma, uma gota de incertezas que por um instante aparece e dissipa como
bolhas de sabão que as crianças fazem flutuar no ar. Poucos são cônscios de que
a sabedoria do ser humano não está no quanto ele sabe mas, no quanto ele não
sabe. Que somos ínfima partícula na vastidão cósmica, simples engrenagens
microscópicas de um universo desconhecido ignorando que o Sol, nosso habitat e
os demais planetas, um dia irão desaparecer sem testemunha do último gemido.
Somos todos viajantes dentro de uma cápsula do tempo em um universo com
infinitos mundos habitados no qual, segundo estimativas atuais, não conhecemos mais
do que 4% !! . Uma ínfima fração do que existe. Há portanto 96% de descobertas
a realizar e nesse sentido , muitas delas poderão estar ao alcance do
telescópio espacial James Webb.
O céu nos envolve por
todos os lados e a luz de miríades de estrelas que contemplamos, é um
monumental concerto cósmico que aconteceu há dezenas, centenas ,milhares ou
milhões de anos. Não é pois o estado atual que vemos e sim sua história
passada. Luz de uma estrela com planetas que talvez não existam mais. É essa noção de
tempo, espaço e evolução que só a Astronomia nos revela mais do que qualquer
outra ciência. A observação do céu é uma transformação e ampliação da
consciência, uma elevação espiritual que proporciona uma grande satisfação
íntima e nos ensina que, na história da
Criação, cem milhões de anos passam como um dia; apagam-se e dissipam-se como
fugitivo sonho, nos seio da eternidade que todo absorve. Através da lei
universal de Ação e Reação, Causa e Efeito, há o equilíbrio do universo. O que
aconteceu aqui, o que acontece agora e o que acontecerá no futuro, é resultado da evolução do planeta , dos seres e
das coisas. Neste infindável e desconhecido universo, somos apenas um grão de
poeira ao sabor dos ventos do deserto.
Nelson Travnik é
astrônomo no Museu Aberto de Astronomia, MAAS, de Campinas e Membro Titular da
Sociedade Astronômica da França.