Foto: Guilherme Leite - MTB
Audiência pública discutiu impactos que a não-renovação do convênio terá no fornecimento da merenda escolar às unidades de ensino estaduais de Piracicaba.
A
administração Luciano Almeida (DEM) atribuiu ao governo paulista a
responsabilidade pelo fim do convênio para o fornecimento da merenda nas
escolas estaduais de Piracicaba. Segundo o vice-prefeito e secretário municipal
de Educação, Gabriel Ferrato, o Estado não deu alternativas diante do déficit
de R$ 40 milhões que a Prefeitura teria de absorver em 2022 em virtude da
inclusão de mais 15 unidades de ensino no Programa de Ensino Integral.
O término do convênio e os efeitos que já estão sendo
verificados no dia a dia das escolas foram discutidos na noite desta
segunda-feira (10), em audiência pública no plenário da Câmara convocada pelos
vereadores Paulo Campos (Podemos) e Pedro Kawai (PSDB), autores do requerimento 1.101/2021. O anúncio de que
a parceria não seria renovada foi feito pela Secretaria Municipal de Educação
em 7 de dezembro.
A pasta alega que o aumento do número de estabelecimentos
atendidos faria a licitação para o fornecimento da merenda subir para R$
89 milhões, dos quais cerca de R$ 65 milhões seriam somente para cobrir os
custos em 62 unidades estaduais (59 escolas e três Etecs). Desse montante,
ainda segundo a secretaria, apenas R$ 25 milhões seriam cobertos pelo repasse
do Estado, deixando para o município um déficit de R$ 40 milhões.
"Os repasses do governo do Estado em 2021 já não cobriam os
custos que temos com a merenda. Ao prepararmos a licitação para 2022,
encontramos o valor de R$ 65 milhões só para atender as escolas do Estado, um
número muito superior a tudo que aconteceu na historia da merenda em
Piracicaba", disse Ferrato, que iniciou sua fala salientando acompanhar de
perto a gestão da merenda desde 2009.
"Comuniquei isso ao dirigente regional de Ensino e ele
entendeu que deveríamos tratar esse assunto na Secretaria Estadual da Educação.
Colocamos o problema: 'Vão faltar para nós R$ 40 milhões, o que o Estado
poderia fazer?'. A resposta foi imediata e rápida: 'Não repassaremos nenhum
centavo a mais para Piracicaba'", continuou, sobre a reunião entre os
representantes das duas esferas de governo, ocorrida em novembro.
Ferrato disse que assumir o déficit de R$ 40 milhões faria o
município "subsidiar o Estado" no fornecimento da merenda e que
"a Secretaria Municipal de Educação não teria esse dinheiro",
equivalente ao orçamento anual de órgãos importantes da estrutura da cidade,
como a Guarda Civil Municipal e a Câmara.
Segundo Ferrato, o Estado manteve-se irredutível, levando à
não-renovação do convênio, porque, se aumentasse os recursos para Piracicaba,
"teria de fazer para outros municípios". "De fato, essa foi
a decisão da Secretaria Estadual da Educação; tentou ver se havia alternativa,
e não havia", declarou. "Se em algum momento o Estado decidir
nos repassar os recursos, estamos dispostos a refazer isso, retomar o trabalho
conosco. Mas tem que passar os recursos suficientes para isso", completou
o secretário municipal.
A Luciano Almeida, a Secretaria Estadual da Educação garantiu a
manutenção do fornecimento da merenda escolar. "Nunca houve uma resposta
oficial do Estado, apenas uma conversa posterior com o prefeito de que 'Fiquem
tranquilos, vamos resolver isso aí; vamos licitar, servir e fazer, não se
preocupem com isso, que agora é problema do Estado'", relatou Ferrato.
Vereadores presentes na audiência pública manifestaram
preocupação quanto aos impactos do fim do convênio na organização das escolas.
Com várias perguntas ao secretário municipal de Educação e ao representante da
Diretoria Regional de Ensino, os parlamentares questionaram se a qualidade da
merenda oferecida irá se manter, se os estabelecimentos contam com equipe e
espaço físico suficientes e se especificidades do serviço, como a alimentação
para alunos alérgicos, serão respeitadas.
"Quantas refeições eram e quantas serão? Qual a preocupação
com os estudantes da nossa cidade? Por que não houve transparência para a
ruptura unilateral do convênio? Não houve análise dos impactos gerados na
rotina das escolas? Há algo positivo com essa arbitrariedade?" foram
algumas das perguntas feitas por Paulo Campos, para quem atribuir a
responsabilidade pela gestão da merenda aos diretores das escolas "é
inadmissível".
"Prejudica o trabalho das direções das escolas; os
profissionais vão estar com certeza sobrecarregados, principalmente neste
momento tão delicado que a sociedade e a educação estão vivendo. Vão ter
mais essa responsabilidade, isso nos preocupa", endossou Pedro Kawai, que
também chamou a atenção para possíveis mudanças no cardápio e a necessidade do
acompanhamento dos casos que requerem alimentação específica.
Representando a Diretoria Regional de Ensino, o diretor técnico
Jean Henrique Leme de Souza assegurou que o governo paulista se encarregará do
fornecimento da merenda a todas as unidades de ensino estaduais em Piracicaba
com o retorno das aulas. Ele informou estar visitando as escolas para conversar
com os diretores e que os casos de dificuldades em aumentar o espaço para armazenagem
dos gêneros alimentícios estão sendo resolvidos.
De acordo com Jean, estão previstas 82 mil refeições diárias a
29.046 alunos matriculados nas unidades estaduais da cidade (incluindo as
Etecs). Até o próximo dia 12, todas as escolas terão recebido os mantimentos
"secos" (como arroz, feijão e macarrão), em quantidade para manter
estoque por quatro a cinco semanas. "São muitas entregas. Receberam de 1,5
a 4 toneladas para o primeiro mês de aula."
A partir do dia 17, serão entregues os gêneros perecíveis, como
carnes congeladas e hortifrútis, em periodicidade semanal. A mão de obra será
fornecida pela empresa vencedora do pregão eletrônico realizado na semana
passada, a qual receberá R$ 7 milhões por um período de 30 meses. "Os
parâmetros do PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar] serão
respeitados e os alunos serão bem atendidos como sempre foram", destacou
Jean.
Pedro Kawai disse que, diante do cenário apresentado na
audiência pública, "cabe a união de forças para que se resolvam as
pendências". Ele propôs duas ações para reverter o quadro: articular em
nível estadual uma parceira que permita ao município dar suporte operacional ao
Estado nesse modelo que vigorará em 2022, a fim de "amenizar o
impacto" das mudanças, e remanejar o Orçamento local para 2023, com o
intuito de garantir recursos que cubram o déficit que inviabilizou a
continuidade do convênio. "Por que não aumentar o Orçamento da
Educação? Este é o nosso papel como legisladores", afirmou. "Dá para
a gente fazer isso. Basta o prefeito aceitar as alterações e sugestões."
Paulo Campos defendeu o diálogo com o governo paulista, por meio
dos deputados estaduais de Piracicaba, para que seja revista a decisão.
"Percebo que é irreversível, que não tem o que fazer mais. Acredito que
ainda exista a possibilidade de reverter essa situação a nível estadual. Houve
falta de diálogo com os diretores sobre o contrato, e eles não tiveram tempo
hábil para se preparar para essa nova administração."
Também com questionamentos, participaram da audiência pública os vereadores Cássio Luiz Barbosa (PL), Rai de Almeida (PT), Thiago Ribeiro (PSC), Silvia Morales (PV), Ana Pavão (PL) e Zezinho Pereira (DEM). Estiveram presentes o procurador-geral do município, Fábio Dionísio, integrantes de conselhos municipais da Educação e da Alimentação Escolar e membros de entidades estudantis e de docentes. Pessoas que assistiram à discussão desde a galeria do plenário usaram o microfone para expressar suas posições. Cartazes segurados pelo público criticavam o fim do convênio.
O jornalismo da Rádio Metropolitana de Piracicaba entrou em contato com a Secretaria da Educação do Estado que nos enviou a seguinte resposta.
''A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) informa que o pregão para prestação de serviços de manipulação e distribuição da merenda em Piracicaba encontra-se em andamento e dentro dos prazos legais e pode ser acompanhado pelo público no site da Bolsa Eletrônica de Compras de São Paulo. A Seduc-SP encaminhará os gêneros secos e cárneos às unidades escolares e a diretoria terá a responsabilidade pelo abastecimento de gêneros perecíveis - hortifrutigranjeiros e pela gestão do futuro contrato de prestação de serviços de preparo e distribuição e em condições higiênico-sanitárias adequadas, aos alunos regularmente matriculados na Rede Pública Estadual (preparo e distribuição). As aulas da rede estadual terão início em 2 de fevereiro já com os serviços contratados.''
Publicação: Enzo Oliveira/ Radialista Redator RMPTV