Foto: Danilo Telles/ Rádio Metropolitana de Piracicaba

O ano que se encerrou assinalou o triste fim do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum.

Um local onde as famílias procuravam nos fins de semana sair da vida agitada para usufruir da contemplação das belezas e mistérios do universo.

Ouvindo as explicações dos astrônomos junto aos telescópios, um incontável número de ensinamentos eram ministrados proporcionando uma grande satisfação íntima, admiração e exclamações. Aprendiam que o céu nos envolve por todos os lados e que a luz das miríades de estrelas que nos chegam, aconteceu há dezenas ou milhares de anos.

Que tudo que vemos no céu é uma história passada e que algumas delas possam não existir mais. Aprendiam que a noção de tempo , espaço e evolução, só astronomia revela mais do que qualquer outra ciência. Que no universo existem infinitos mundos habitados no qual nosso planeta e nosso sistema solar não passa de um grão de poeira ao sabor dos ventos do deserto.

Além da observação através de quatro telescópios, cada um deles dirigido para os astros em evidencia, na parte externa do prédio em um telão, eram projetadas as mais belas imagens obtidas pelo telescópio espacial Hubble e pelo Observatório Europeu Austral, ESO, Do Chile. No auditório, complementando a visita, ocorriam sessões de vídeo das mais abalizadas fontes.  Nesse cenário, especial atenção era sempre dada as crianças e idosos.

Nos meses de novembro a fevereiro, quando o Sol devido ao verão se põe mais tarde, o Observatório abria uma hora mais cedo, ás 16 horas para que pudessem ser realizadas observações do Sol com filtros especiais. As manchas solares e protuberâncias podiam então ser vistas. Ao contrário dos outros observatórios da região, o atendimento era gratuito para todas as idades. 

Ao final da visita, as pessoas saiam  plenas de muitos conhecimentos do universo e do nosso lugar perante a grandiosidade e mistérios que ele encerra. Que a observação em uma noite pura e tranqüila é uma experiência de transformação e ampliação da consciência, uma elevação espiritual que permite ver que o que aconteceu aqui, o que acontece agora e o que acontecerá no futuro, é o resultado da evolução dos mundos, dos seres e das coisas.

Algo que leva a sermos mais humildes perante esses valores. As visitas públicas que ocorriam aos sábados, eram sim importantes para a cidade e para os turistas uma vez que constava de todas as publicações nesse sentido. A partir do próximo ano, o Astroturismo será implantado na região de Campinas, Americana e Amparo. Sem o seu Observatório, Piracicaba não está incluída.

Ainda na área do atendimento público, o Observatório oferecia todos os anos Curso de Introdução a Astronomia , Curso de Astronomia nas Férias , Curso Elementar de Astronomia e Curso para os Professores. Eram todos gratuitos. A população também participava de vários eventos que aconteciam no céu como também da Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Embora sendo um observatório pedagógico, em várias ocasiões foram realizados trabalhos científicos que mereceram destaque no País e até no exterior. Em 2022 por ocasião dos 30 anos de inauguração do Observatório, seria solicitado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a concessão de um Planetário para Piracicaba valendo do ótimo relacionamento entre Nelson Travnik e o Ministro Marcos Cesar Pontes.  Ligado a Secretaria Municipal de Educação, especial atenção era dado as visitas escolares.

A programação nesse sentido desenvolvida pelo Observatório foi julgada referência no Estado de São Paulo com direito a uma publicação especial da Secretaria Municipal de Educação a qual o Observatório estava vinculado. Por ocasião da Olimpíada Brasileira de Astronomia, OBA, o Observatório oferecia sessões especiais para os alunos interessados na participação. Vários deles conseguiram medalhas por apresentar os melhores trabalhos. No cenário nacional, o Observatório participou de todos os Encontros Nacionais de Astronomia, ENAST e mesmo em alguns congressos internacionais como no Chile, Áustria e Suiça.

Assim, resumidamente, eram  as atividades do Observatório que a Prefeitura/Secretaria Municipal de Educação, optou por fechar.  Fica a lembrança e o que resta agora é um prédio tomado por ladrões e drogados. Triste exemplo de como a Prefeitura trata a ciência  na cidade.

Nelson Travnik, é astrônomo no Museu Aberto de Astronomia de Campinas e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.  

VEJA A ENTREVISTA DE NELSON AO PODCAST CIÊNCIA SEM FIM

Publicação: Danilo Telles/ Jornalista RMPTV

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