Tempos estranhos! De pensamento rebaixado e limitada capacidade cognitiva, a civilização parece ter chegado ao seu ocaso. A mais profunda ignorância conseguiu se impor, ao menos por esse período, tornando-se o orgulho da nação. A volta dos mitos, dos preconceitos e das ideias mais comezinhas e rasteiras contra a filosofia, a ciência, o conhecimento claro e distinto, contra o legado da civilização. Talvez a maior vítima do brutal e devastador processo de disseminação de mentiras, desinformações, descontruções e fakenews seja justamente o cristianismo.

Logo o cristianismo que se apresentou como o portador da verdade mais sublime e elevada. O cristianismo que ensinou que a verdade tem a força de promover a libertação. O cristianismo que se revelou como o caminho para a verdade e à vida. Logo o cristianismo sendo diminuído por detratores que passaram a falar em seu nome, talvez os falsos profetas, corrompendo e desviando o sentido mais genuíno da revelação trazida pelo movimento de Jesus Cristo.

Ao longo de uma história de mais de dois mil anos, o cristianismo sempre sofreu ataques. Fato que grupos buscaram exercer autoridade e controle sobre sua mensagem, inclusive fazendo uso da violência. Na disputa histórica por hegemonia e poder, entendeu-se, desde o início, que a revelação cristã detinha um potencial perigoso de subversão e transformação, devendo ser contida, manipulada, colocada a serviço da manutenção de determinada ordem política e econômica. Para isso foi fundamental que sua mensagem fosse desviada, corrompida, silenciada.

O caráter ético e profundamente revolucionário da verdade cristã passou a ser combatido no interior das instituições que se apresentavam como guardiãs da própria revelação de Jesus. Alguns dos que falavam a partir da doutrina cristã eram, na verdade, seus mais duros detratores, empenhados em ocultar a força social da mensagem do movimento de Jesus. Se a estratégia de deturpar os ensinamentos cristãos aconteceu no passado, hoje ela é largamente utilizada, com muito mais eficiência e sofisticação, por meio da intensidade de alcance das mídias e redes sociais. O cristianismo não sido apenas reduzido a um show midiático, com ídolos performáticos travestidos de discípulos disputando a audiência da massa, mas tem sido, sobretudo, esvaziado e anulado, subvertendo a essência da verdade que comunica.

Capturado por vozes mercenárias e inescrupulosas, incapazes de um mínimo de discernimento teológico, em muitos contextos, o cristianismo não é nem mesmo uma mera sombra de sua força e inspiração originárias. Igrejas caça-níqueis, com suas lideranças religiosas, que não passam de coach de autoajuda, mantém os fiéis sob controle, em um jogo de troca e manipulação, que promete a graça da prosperidade material como forma de retribuição divina aos gestos de fé, entrega e doação contábeis. Nada mais distante da beleza e profundidade da verdade revelada ao longo da trajetória de Jesus na dinâmica de seu movimento.

Na perspectiva da experiência da comunidade do discípulo João, o mestre Jesus ensinava: “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância” (Jo 10,10). Se há nessa mensagem um conteúdo de caráter escatológico, no devir de uma vida que ultrapassa a morte, há também um direcionamento histórico, na construção de um programa político. A vida em abundância não deixa de representar vida com dignidade para todos e todas, em uma sociedade de plena justiça e direitos. É justamente essas dimensões éticas e políticas da verdade contida na revelação cristã, que os falsos profetas de ocasião buscam descontruir e deturpar. Mas a mensagem cristã é uma força que não pode ser contida nem anulada, sempre apontando para experiências de salvação, libertação, fraternidade e emancipação.

Adelino Francisco de Oliveira - Professor no Instituto Federal, campus Piracicaba, Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião.

adelino.oliveira@ifsp.edu.br   /   @Prof_Adelino_     /   professor_adelino

Publicação: Danilo Telles/ Jornalista RMPTV

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