Foto: Elzbieta Sekowska
Estamos vivendo tempos em que todos agora têm voz e vez. As redes sociais possibilitaram essa democratização e isso é positivo. Contudo, liberdade de expressão não significa poder dizer tudo o que se pensa. Existe um limite. Sim, ele existe. O nosso direito encontra limite no direito do outro. Ou seja, não podemos ultrapassar a fronteira da ética, da dignidade humana, do bem-estar e equilíbrio social. Há barreira quando os dizeres contêm conceitos – diretos ou indiretos - de agressão, de incentivo ao ódio, de perseguição às minorias, de racismo, de antissemitismo. Discursos de ódio ou posições que incentivem perseguições e matanças devem ser veementemente punidas no rigor da lei.
Não se trata de censura. Em absoluto! Trata-se de respeito a outra
pessoa, à sociedade, à vida não difundir algo que pode por outrem em risco.
Não obstante, as pessoas confundem e acham que, atrás de uma tela, seja
ela qual for, estão “protegidas” e podem dizer tudo que acham, ofendendo e
incentivando ideologias nefastas, odiosas, que tragédias trouxeram ao mundo e
que não podem, em hipótese alguma, se repetir.
Uma das mais odiosas, que tanto mal fez à humanidade, foi o nazismo.
Seis milhões de judeus foram covarde e brutalmente assassinados apenas pelo
fato de pertencerem a um povo. E mais outras milhões de minorias foram
perseguidas e mortas. Cada pessoa que incentiva essa ideologia é, sem exagerar,
sócio, partícipe desta matança, desse que foi um dos crimes mais bárbaros, cruéis
e repugnantes da história. E mesmo que defenda de forma gentil, num debate dito
civilizado, ainda assim é perigoso e terrível! O nazismo é algo que,
independentemente da forma que é expresso, contém ódio, sangue e maldade de
forma intrínseca.
Nesta semana, fiquei impressionado e até me surpreenderam as palavras ditas pelo apresentador Monark, do Flow Podcast, que defendeu a criação de um partido nazista no Brasil e o fato de uma pessoa poder ser antijudeu. Acompanhando o trabalho do Flow desde o início e me recuso a acreditar que a empresa apoia o nazismo, algo que envergonha a história humana! Espero e acredito, realmente, que ele apenas tenha escolhido o pior exemplo da história moderna para afirmar sua defesa à liberdade de expressão.
Um exemplo realmente infeliz e traumático.
Liberdade de expressão requer alguns cuidados, quando se é um formador de
opinião. E defender uma ideologia que incentiva o ódio, a diferença, o
preconceito e a matança não é liberdade de expressão.
Participando do debate com ele, o deputado federal Kim Kataguiri também
me causou profundo espanto e estranhamento. Primeiro, não se opôs a Monark; em
segundo, disse que a Alemanha não deveria ter criminalizado o nazismo. Como
pode um parlamentar tido como culto afirmar isso?
Urge que as pessoas, principalmente os jovens e os formadoras de
opinião, visitem museus como o Yad Vashem, em Jerusalém, ou o Museu Judaico de
Curitiba ou de São Paulo mesmo. Que falem com os poucos sobreviventes ainda
vivos. Que escutem sua história, seu sofrimento, como perderam entes queridos.
É importante uma campanha maciça de educação pois eles têm de ver, sentir,
ouvir, olhar, usar todos os seus sentidos para perceber o que foi o Holocausto,
o que representa o nazismo e toda a sujeira que esta palavra carrega. Algo que
nunca, mas nunca, nunca mais pode existir e cuja maldade não pode ocorrer
contra quem quer que seja. Carece aos ditos influenciadores um pouco de
humildade e vontade de aprender sempre. Vejam, aprender mostra busca pela
excelência e evolução. Quem procura se capacitar sempre é admirado
profundamente. Quando não se conhece bem um tema, estude antes de falar para
não propagar bobagens e depois sair por aí chorando e se arrependendo. E, mais
do que isso, incentivando outros a propagarem o ódio e suas perigosas
consequências. Não seja um ignorante!
Que estes casos sirvam de lição para que todos nós tenhamos mais responsabilidade pois uma palavra mal colocada, além de ser perigosa e formar posições tortuosas e mentes doentias, tem como consequência, a quem a proferiu, o duro cancelamento e a perda de reputação. Que sirva de lição. Nazismo e Holocausto nunca mais!
Por: Rabino Sany
Sonnenreich (Rav Sany)
Presidente do Instituto Rav Sany e Diretor do Olami em SP
Publicação: Enzo Oliveira/ Radialista Redator RMPTV