Foto: Fabrice Desmonts - MTB


Vereadores Rai de Almeida (PT), Zezinho Pereira (DEM) e Sílvia Morales (PV) encontraram cerca de mil obras da Pinacoteca acondicionadas em sala de ensaios do teatro


Em vistoria realizada nesta segunda-feira (21), um grupo de vereadores flagrou as más condições de armazenamento das cerca de mil obras da Pinacoteca Miguel Archanjo Benício Assumpção Dutra em uma sala de ensaios do Teatro Municipal Erotides de Campos. As telas, esculturas e quadros foram transferidos do antigo prédio, localizado na rua Moraes Barros, no Centro, para o Parque do Engenho Central, onde será construída uma nova pinacoteca.

Participaram da vistoria os vereadores Rai de Almeida (PT), Zezinho Pereira (DEM) e Sílvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade É Sua, além da assessoria do vereador Pedro Kawai (PSDB). Também participou da comitiva o artista plástico Manuel Guglielmo, que é membro do Conselho Municipal de Cultura e integrante do movimento Amigos da Pinacoteca.

No Parque do Engenho, os parlamentares foram recebidos pelo diretor Antonio Domingos Padovan. Ele levou a comitiva até a sala de ensaios, onde estão as obras. No espaço, as telas estão armazenadas em gradis (usados em eventos para contenção de público) envolvidos com plástico bolha e as maiores estão em andaimes. Antes de serem transferidas da Pinacoteca, estas mesmas obras eram acondicionadas em trainéis, equipamentos específicos para quadros e telas.

Algumas obras mantém a embalagem com papel kraft, trabalho feito pelos próprios servidores da Secretaria da Ação Cultural, mas outras estão encostadas umas nas outras, no mesmo pacote. Como são de diferentes tamanhos, as estruturas das molduras de algumas peças fazem peso sobre as que estão embaixo, o que, segundo os vereadores, pode danificar as telas.

Apesar do detalhamento pelo diretor do cuidado que foi adotado para a embalagem do material para o transporte, os vereadores questionaram a ausência de acompanhamento técnico para a transferência do acervo, pois muitas obras são fruto dos prêmios aquisitivos dos salões de Belas Artes, Arte Contemporânea (SAC) e o de Aquarelas.

Os parlamentares questionaram ainda a falta de contratação de um seguro para o material e se mostraram preocupados com a deterioração dos quadros. O diretor explicou que a sala possui ar condicionado e desumidificador de ar. No entanto, os vereadores observaram aberturas no teto, que podem sujeitar as obras à umidade e ações do tempo.

Um ponto abordado pelos parlamentares foi a falta de transparência no momento da transferência das obras, já que não houve divulgação prévia do fato. Eles ainda questionaram o tempo em que as obras permanecerão acondicionadas dessa forma.

Documentos históricos – Outra constatação feita pelos vereadores diz respeito aos documentos históricos da antiga Usina Monte Alegre. Eles localizaram pacotes do material guardados em um barracão do Engenho, que não é totalmente fechado e está em péssimas condições de conservação. O diretor do espaço explicou que cerca de três mil caixas do material foram deixadas jogadas pela antiga administração e agora tem sido feito um trabalho de separação.

Ele disse que os documentos que estão no barracão são de outros municípios e foram colocados no espaço à espera da destinação. Ele garantiu que o local não recebe umidade da chuva. Os documentos da usina que são de Piracicaba também foram embalados e guardados em outra sala da administração do Engenho.

Só por requerimento – Depois da vistoria, os vereadores foram recebidos pelo secretário da Ação Cultural, Adolpho Queiroz. Ele disse que só vai se manifestar oficialmente, através da resposta a requerimento enviado pela Câmara, alegando que a visita ocorreu de surpresa. Queiroz informou apenas que as obras da nova Pinacoteca, que será implantada no barracão 14A, devem ser concluídas em um prazo de seis meses. A previsão é de inauguração em agosto.

“O secretário sugeriu que a gente fizesse todos os questionamentos por escrito. Vamos fazer o requerimento e mandar para o secretário”, garantiu o vereador Zezinho Pereira (DEM). “Isso é lamentável porque a gente tem ouvido que eles querem que a gente venha aqui e agora eles não têm resposta e precisamos fazer requerimento”.

“O vereador tem a prerrogativa de fiscalizar o que for no município”, ponderou a vereadora Silvia Morales (PV). “Piracicaba tem uma tradição na parte cultural e é uma questão que tem que ser debatida. Vamos construir o requerimento a várias mãos”.

“Tínhamos uma suspeita que esse acervo não estava acondicionado nos termos em que deveria e in loco materializamos a nossa suspeita”, resumiu a vereadora Rai de Almeida (PT). “É uma pena a gente ver a forma como está sendo feita a gestão da cultura, do patrimônio da nossa cidade. Estamos diante de um grande desafio, que é a gente cobrar deste governo uma política de cultura, que nós estamos órfãos. Estamos fazendo um apelo não só para o governante, mas também para que os artistas possam saber como estão sendo tratadas as artes e a cultura da nossa cidade”.

No requerimento, os vereadores deverão solicitar os relatórios referentes ao processo de transporte das obras, os responsáveis técnicos e a descrição de como ocorreu, em quais datas e condições. Eles também querem saber a previsão de uso da sala de ensaios do teatro para armazenamento do acervo e quem é o responsável técnico pelo local, além dos reflexos causados pela restrição do uso do espaço enquanto estiver abrigando as obras. No requerimento, também será solicitado o projeto para catalogação dos documentos históricos da Usina Monte Alegre.

Prédio da Pinacoteca – A comitiva ainda vistoriou o prédio da Pinacoteca Miguel Dutra, no Centro, e constatou o abandono do local. A praça José Ferraz de Almeida Júnior, onde fica o prédio, está tomada pelo mato e lixo, e o calçamento está deteriorado, inclusive com uma cratera que pode ocasionar acidentes com pedestres. A vereadora Rai avaliou que o dinheiro aplicado na construção de uma nova pinacoteca poderia ser utilizado na reforma e ampliação do prédio antigo, que foi inaugurado há mais de 50 anos.

Ela lamentou que a intenção do Poder Executivo seja dar outra destinação para o espaço, como se cogitou a transferência para a Polícia Federal. A vereadora lembrou que qualquer alteração na destinação do prédio tem que passar pela Câmara, já que a legislação especifica o uso do espaço público para a Pinacoteca. “Não somos contra a construção de uma nova pinacoteca. Mas este espaço tem que ser mantido porque a sociedade precisa de mais espaços culturais”, afirmou.

Publicação: Enzo Oliveira/ Radialista Redator RMPTV

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