Foto: Fabrice Desmonts


A Ucrânia revelou atrasos e erros da política energética em nosso país cujo dolarização foi iniciada por Michel Temer e concluída por Jair Messias Bolsonaro, mas também na política agrícola que hoje é afetada negativamente por conflitos e mudanças climáticas causadas pelas queimadas na Amazônia e envenenamento no Pantanal. A Rússia anunciou esta semana o fim da venda de trigo, antes de Bolsonaro tínhamos um grande desenvolvimento da produção nacional de trigo no Rio Grande do Sul, devido à política do atual desgoverno totalmente abandonada, regredimos para servir outros países e nos sujeitarmos aos elevados preços do mercado internacional.


Aos patriotas essa insegurança afetará certamente nossos soberanos em razão da dependência de importação de grãos e fertilizantes, tudo o que antes já estávamos produzindo, abandonados por uma política internacional comandada pelos ruralistas gananciosos e afetarão sua soberania energética e alimentar. A loucura da guerra encurralou irresponsavelmente os compromissos e promessas feitos por nações ao redor do mundo para combater as mudanças climáticas que todos os dias caminham para um ponto sem retorno para a humanidade, conforme relatado pelo mais recente e dramático relatório de cientistas da ONU do IPCC.


Por que a Ucrânia é tão desejada pelos Russo de Putin? Ela tem as maiores reservas de urânio da Europa igual a 46.000 toneladas, carvão para 34 bilhões de toneladas (sétima do mundo), que se encontram principalmente no Donbass, o território disputado por Moscou, tem campos de gás por mais de 1, 1 trilhão de metros cúbicos dos quais se encontram principalmente no Dnieper-Donetsk, 27 bilhões de toneladas de reservas de minério de ferro e os maiores depósitos de titânio. A Ucrânia também tem uma posição mundial significativa na agricultura e é capaz de atender às necessidades alimentares de 600 milhões de pessoas.


Por consequência, se a Rússia assumir o controle dos territórios da Ucrânia, juntamente com os países sobre os quais exerce uma esfera de influência, como o Cazaquistão e o Azerbaijão, controlará uma parte extremamente significativa das fontes de energia, como gás, petróleo, carvão, urânio e produção de cereais com que hoje se alimenta a economia mundial.


O Brasil é autossuficiente na produção de petróleo e ocupa 4% das exportações mundiais, sua dolarização diante do enfraquecimento da moeda brasileira (Real) diante do Dólar americano nos deixam impotentes no mercado interno distribuidor ao tempo que o desgoverno Bolsonaro aproveita os reflexos e a atenção no conflito para majorar de forma irresponsável o produto nacional que deveria (digo aos patriotas) nos trazer soberania.


O mundo está enfrentando seu pior choque energético desde a crise do petróleo da década de 1970. Na segunda-feira, 7 de março, os preços da energia de curto prazo subiram para € 587,67 Mwh, enquanto o custo do gás natural no mercado atacadista subiu para um recorde de € 345 por Mwh, exatamente um ano atrás, vendido por apenas 15 Euros. Esses preços são insustentáveis e levarão ao colapso econômico, social e ecológico se o modelo energético não for alterado.


O erro foi não ter construído uma diversificação de fornecedores e incentivado nossa indústria a produzir bens de consumo, matéria prima, manufatura diversificando também nossa agricultura. Não é apenas a guerra na Ucrânia que coloca preços elevadíssimos em nossos carburantes, mas o efeito combinado das mudanças climáticas e da especulação internacional.


Entre outras razões, os aumentos nos últimos meses foram gerados pela queda na colheita de trigo no Canadá e nos Estados Unidos, que foram atingidos no verão de 2021 por uma seca persistente e inundações na Europa central, somando-se que Brasil jamais conseguiu a autossuficiência em relação a este cereal. Assim, a Argentina firmou-se como um importante fornecedor de trigo para o país. Essa realidade ganhou força com a consolidação do MERCOSUL a partir de 1991 deixando grande parte do fornecimento deste cereal para a importações da Ucrânia e Rússia em menor escala.


O atual governo brasileiro, desde o início do seu mandato já havia praticamente eliminado os subsídios ao setor tritícola, assim como deixou de comprar e estocar o produto, fazendo do mercado o elemento decisivo para o desenvolvimento da cultura no País, o que contribuiu para desestimular a produção tritícola nacional. Este conjunto de fatos colocou em xeque a sobrevivência da triticultura no Brasileira, particularmente, no Paraná e no Rio Grande do Sul, historicamente os dois principais Estados produtores.


A pandemia e a guerra estão demonstrando que a globalização extrema falhou, e por isso é necessário trabalhar pela soberania energética e alimentar como pilares estratégicos para garantir a segurança e a paz.

 

Artigo assinado por: José Osmir Bertazzoni (63) Jornalista e Advogado.

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