Foto: Arquivo Pessoal       

Já não é mais aceitável a representação da cidade como uma selva de pedras. O velho cenário de prédios, carros, fábricas e poluição já não traduz o que se espera da vida urbana. O avanço do processo civilizatório produziu uma compreensão ética mais elevada sobre a relação entre o ser humano e a natureza. A noção de sustentabilidade ambiental acabou por colocar em suspenso um modelo de desenvolvimento predatório. A perspectiva da ecologia integral passou a postular, justamente, a fraterna interação entre a vida humana e a natureza.

        A busca por ter uma vida com qualidade colocou em evidência a necessidade de se repensar ambientes, de maneira a privilegiar tanto o contato constante com a natureza quanto com os animais. O espaço urbano passou a ser transformado, visando inserir a natureza e os animais no cotidiano das pessoas. A concepção de vida na cidade não aceita mais a exclusão da presença do verde e do convívio com os animais.

A sustentabilidade exige uma outra lógica de desenvolvimento e novo sentido de progresso: a manutenção e preservação de áreas verdes, ampliando praças e parques nos espaços urbanos; o controle e a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera, preservando a qualidade do ar; a solução dos transportes ágeis e não poluentes, enfrentando o problema da mobilidade;  a recuperação e despoluição de rios e a preservação de áreas de mananciais, garantido o direito à água para as futuras gerações. Ainda sonhamos com cidades ecologicamente sustentáveis, comprometidas com a justiça ambiental.

É preciso agora pensar uma cidade que dê efetividade a essa nova mentalidade, que busca integrar a vida humana, a natureza e a preservação do planeta. O desafio é aperfeiçoar estruturas, no contexto da cidade, que preservem a natureza e protejam e cuidem dos animais. Não é mais possível conceber o desenvolvimento urbano sem colocar como uma das questões centrais a presença dos animais no convívio cotidiano com as pessoas.

É possível se encontrar bons exemplos mundo afora, tanto de preservação ambiental quanto de cuidado para com os animais, especialmente os animaizinhos designados como pets: cães e gatos são os mais comuns. É fundamental o envolvimento do poder público, com políticas apropriadas voltadas ao meio ambiente e ao cuidado para com os animais. A criatividade e o engajamento dos cidadãos são fundamentais, de maneira a construir e fortalecer essa nova cultura urbana.

Espalhar pela cidade, permeando as estruturas de concreto, jardins suspensos ou verticais tem se tornado comum, visando trazer a presença do verde. Instalar pelas ruas suportes com água e ração é outra ideia interessante, para cuidar particularmente de animais abandonados. Diversos condomínios têm organizado espaços na área comum para que os animaizinhos não tenham que ficar restritos e isolados no interior dos apartamentos.

Há uma compreensão de que as cidades que cuidam de seus animais e melhor preservam a natureza tendem a ter cidadãos mais empáticos, sensíveis e solidários, compondo espaços saudáveis para uma sociabilidade mais plena, inspirada nos princípios éticos que se desdobram da ecologia integral. A vida urbana pode contemplar, de maneira ampliada, o contato com o verde e construir dinâmicas e estruturas que revelem o amor para com os animais, companheiros queridos na jornada existencial.

Artigo assinado por: Prof. Adelino Francisco de Oliveira - Professor no Instituto Federal, campus Piracicaba.

Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião.

adelino.oliveira@ifsp.edu.br

@Prof_Adelino_

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