Foto: MEC
Alvo de inquérito da PF e do
STF, Ribeiro teria favorecido pastores na distribuição de verbas ao MEC; carta foi entregue ao presidente Jair Bolsonaro (PL), a exoneração saiu agora a pouco em uma edição extra do Diário Oficial da União.
O ministro da Educação, Milton
Ribeiro, foi exonerado da pasta nesta segunda-feira (28). Em um dos trechos da carta ele diz,
“Não me despedirei, direi até
breve”, disse ministro da Educação em carta entregue
ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Ribeiro é alvo de um inquérito da Polícia
Federal (PF) e do Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeitas de
favorecimentos a pastores na distribuição de verbas do Ministério da Educação
(MEC).
Na carta, Ribeiro diz que sua
vida “sofreu uma grande transformação” desde a divulgação de reportagem que o
implicavam em um esquema de favorecimento a pastores dentro do MEC.
Diante das suspeitas, Ribeiro,
que foi convidado a comparecer ao Senado para prestar esclarecimentos sobre o
caso, diz que decidiu “solicitar ao Presidente Bolsonaro a minha exoneração do
cargo, com a finalidade de que não paire nenhuma incerteza sobre a minha
conduta e a do Governo Federal”.
Veja a íntegra carta de Milton Ribeiro
Desde o dia 21 de março minha
vida sofreu uma grande transformação. A partir de notícias veiculadas na mídia
foram levantadas suspeitas acerca da conduta de pessoas que possuíam
proximidade com o Ministro da Educação.
Tenho plena convicção que
jamais realizei um único ato de gestão na minha pasta que não fosse pautado
pela correção, pela probidade e pelo compromisso com o erário. As suspeitas de
que uma pessoa, próxima a mim, poderia estar cometendo atos irregulares devem
ser investigadas com profundidade.
Eu mesmo, quando tive
conhecimento de denúncia acerca desta pessoa, em agosto de 2021, encaminhei
expediente a CGU para que a Controladoria pudesse apurar a situação narrada em
duas denúncias recebidas em meu gabinete. Mais recentemente, em _, solicitei a CGU
que audite as liberações de recursos de obras do FNDE, para que não haja duvida
sobre a lisura dos processos conduzidos bem como da ausência de poder decisório
do ministro neste tipo de atividade.
Tenho três pilares que me
guiam: Minha honra, minha família e meu país. Além disso tenho todo respeito e
gratidão ao Presidente Bolsonaro, que me deu a oportunidade de ser Ministro da
Educação do Brasil.
Assim sendo, e levando-se em
consideração os aspectos já citados, decidi solicitar ao Presidente Bolsonaro a
minha exoneração do cargo, com a finalidade de que não paire nenhuma incerteza
sobre a minha conduta e a do Governo Federal, que vem transformando este país
por meio do compromisso firme da luta contra a corrupção.
Não quero deixar uma objeção
sequer quanto ao meu comportamento, que sempre se baseou em pilares
inquebrantáveis de honra, família e pátria. Meu afastamento do cargo de
Ministro, a partir da minha exoneração, visa também deixar claro que quero,
mais que ninguém, uma investigação completa e longe de qualquer dúvida acerca
de tentativas deste Ministro de Estado de interferir nas investigações.
Tomo esta iniciativa com o
coração partido, de um inocente que quer mostrar a todo o custo a verdade das
coisas, porém que sabe que a verdade requer tempo. Sei de minha
responsabilidade política, que muito se difere da jurídica. Meu afastamento é
única e exclusivamente decorrente de minha responsabilidade política, que exige
de mim um senso de país maior que quaisquer sentimentos pessoais.
Assim sendo, não me
despedirei, direi um até breve, pois depois de demonstrada minha inocência
estarei de volta, para ajudar meu país e o Presidente Bolsonaro na sua difícil
mas vitoriosa caminhada.
Brasil acima de tudo!!! Deus
acima de todos!!!
Entenda as denúncias contra
Milton Ribeiro
Em um áudio obtido pelo jornal
“Folha de S.Paulo” e em reportagens do “O Estado de S. Paulo”, Ribeiro é
envolvido no que seria um esquema de favorecimento a pastores na pasta.
Em uma conversa gravada, o
ministro afirma que recebeu um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL) para
que a liberação de verbas da pasta fosse direcionada para prefeituras
específicas a partir da negociação feita por dois pastores evangélicos que não
possuem cargos no governo federal.
Na gravação, Ribeiro diz que
se trata de “um pedido especial do presidente da República”. “Foi um pedido
especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor]
Gilmar”, diz o ministro na conversa com prefeitos e outros dois pastores,
segundo o jornal.
Ribeiro continua: “Porque a
minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em
segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar.”
Os pastores Gilmar Santos e
Arilton Moura são os citados nos áudios. Segundo o jornal, os dois religiosos
têm negociado com prefeituras a liberação de recursos federais para obras em
creches, escolas e compra de equipamentos de tecnologia.
Na conversa vazada, o ministro
de Bolsonaro indica que, com a liberação de recursos, pode haver uma
contrapartida.
“O apoio que a gente pede não
é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção de igrejas”. Nos
áudios, não fica claro a forma como esse apoio se daria.
No ano passado, para poupar as
emendas parlamentares de um corte maior, o governo promoveu um bloqueio de R$
9,2 bilhões de despesas de ministérios e estatais que atinge principalmente a
Educação.
Na semana passada, Ribeiro
negou que tenha favorecido pastores. Em nota enviada à CNN, o ministro dizia
ainda que o presidente “não pediu atendimento preferencial a ninguém, solicitou
apenas que pudesse receber todos que nos procurassem”. Em entrevista à CNN,
Ribeiro também negou as acusações.
Na quinta-feira (24), o presidente Bolsonaro defendeu Ribeiro. “Se o Milton estivesse armando não teria colocado na agenda aberta ao público. O Milton, eu boto minha cara no fogo por ele. Estão fazendo uma covardia. A Polícia Federal, ontem eu pedi para abrir o procedimento para investigar o caso também. Tem gente que fica buzinando: ‘Manda o Milton embora que a gente tem alguém pra indicar aqui’. Duvido botar para o público o nome, não faz isso porque se der errado a culpa é minha”, declarou Bolsonaro, que afirmou que o próprio ministro havia pedido esclarecimentos.
*Publicado por Danilo Danilo Telles, da Rádio Metropolitana de Piracicaba