Vanessa Bonilha apresenta nova marca do projeto – Foto: Divulgação

Todos os finais de semana, milhares de famílias cruzam as estradas do estado de São Paulo; algumas por horas, outras por dias. Invariavelmente, com orçamento reduzido, gastam suas economias no deslocamento, alimentação e em acomodações improvisadas. Mas não estão em férias. São esposas, filhos, pais, mães, irmãos e amigos de pessoas privadas de liberdade, a chamada população carcerária. Por algumas horas, os laços familiares são fortalecidos, no curto período de visita. E depois, o retorno para casa. No período de pandemia, o ritual se repete a cada quinze dias, dado ao limite de acesso nas 2 unidades prisionais do estado.

O revezamento é organizado pela SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), que gere 179 penitenciárias em todo o estado. Em Piracicaba, estas famílias são recepcionadas pelos voluntários do projeto Mãos Estendidas, que desde 2018 provê café da manhã, acolhimento, empatia e conversa com pessoas que se veem privadas do convívio com seus entes encarcerados. As famílias dos reeducandos representam um lado da questão carcerária para o qual muitos membros da sociedade civil não se atentam.

Mas não são imperceptíveis para a estudante de enfermagem Vanessa Bonilha, idealizadora do projeto. Pela vivência com questões muito próximas da sua realidade, no seio da sua família e entre amigos, ela se identificou com a causa. Um olhar mais apurado sobre as dificuldades enfrentadas por essas pessoas nos dias de visitação despertou nela, e em outros voluntários, o desejo de atenuar as dores de quem vive do lado de cá das grades.

Interrompido durante o período de pandemia, o projeto estará de volta no mês de abril e desta vez reformulado. Em sua edição original, a iniciativa era apoiada por uma igreja local. Agora, o Mãos Estendidas, devidamente autorizado pela SAP por meio da direção da unidade prisional local, ressurge com apoio do Instituto Ação pela Paz, entidade de apoio ao Estado e à sociedade civil em iniciativas para redução da reincidência criminal. Para Daniella Reina, representante do Instituto, "A família é fundamental no processo de ressocialização do reeducando, sua proximidade pode gerar mais segurança e estimulo para que o reeducando consiga ressignificar suas escolhas e motivá- 3 los para novas tomadas de decisão. Vale ressaltar que acolher a família é reconhecer sua importância para essa transformação." Segundo Vanessa Bonilha, que coordena o projeto, nesta nova fase o Mãos Estendidas vem recebendo a adesão de diversos voluntários, e está aberto para quem deseja ajudar. “Algumas pessoas se prontificam a doar itens que farão parte do café da manhã, outras se candidatam a servir às famílias. Toda contribuição é válida.

O que não podemos é fechar os olhos, nem encolher nossas mãos”, define ela. Afinal, no local onde a ação é realizada, uma área especialmente preparada fora da unidade prisional, uma faixa com a logomarca do projeto e do Instituto Ação pela Paz traz a seguinte inscrição: “por menos dedos apontados, e mais mãos estendidas”. Os interessados podem entrar em contato com a organização pelo Instagram @maosestendidas_br 

*Publicado por Danilo Telles/ Jornalista da Rádio Metropolitana de Piracicaba

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