Foto: Arquivo Pessoal
Para que a democracia não seja apenas um
conceito abstrato, uma palavra vazia, sem nenhuma relação com a realidade
objetiva da vida, torna-se necessário que os direitos de cidadania sejam
garantidos para todos e todas de maneira efetiva. Os direitos devem se fazer
presentes nas dinâmicas mais cotidianas dos afazeres das pessoas, tornando a
jornada existencial amparada, protegida e plena de possibilidades. Trata-se de
garantir todos aqueles direitos que sustentam a vida, de modo que ela seja
sempre abundante.
O ponto de partida para se garantir os direitos
de cidadania consiste no reconhecimento de que cada pessoa, em sua
singularidade histórica, é portadora de dignidade humana. Essa é uma condição
inalienável. A dignidade humana não é algo que se ganha ou mesmo que se
conquista, nem muito menos é uma conceção de algum poder. O simples fato de
pertencer à espécie humana já confere à pessoa a dignidade de ser gente. Portanto,
a dignidade humana não é algo também que possa ser perdido. Todos e todas somos
portadores de uma dignidade humana fundamental.
Mas a dignidade humana tem sido profundamente
desrespeitada, não sendo realmente reconhecida. É preciso ressaltar que mesmo
em situações aviltantes, que desconhecem e violentam a condição humana, a
pessoa continua tendo sua dignidade. A pobreza é uma situação social que se
levante contra a dignidade humana, negando à pessoa o acesso aos direitos de
cidadania. Por isso, em uma sociedade efetivamente democrática não pode existir
injustiças sociais, que lançam a pessoa na vulnerabilidade da pobreza.
Reconhecer que toda pessoa traz, desde sua
natureza, a dignidade humana é o passo fundamental para se superar todas as
formas de opressão, exploração e preconceitos. Todos e todas, marcados pelas
diferenças e especificidades humanas, são iguais em dignidade, logo devem ter
acesso a todos os direitos de cidadania. A dignidade coloca todas as pessoas,
com suas diferenças, como iguais, no mesmo patamar de humanidade. Expressões de
racismo, por exemplo, representam a negação de uma dignidade humana absoluta e
universal.
A sociedade somente alcança a democracia, em um
sentido forte e amplo, quando constrói condições estruturais para que todas as
pessoas, sem nenhuma exceção, tenham a dignidade humana reconhecida, em uma
existência plena em direitos. O próprio reconhecimento da dignidade humana não
pode ser também letra morta, uma mera retórica vazia e sem conexão com a vida
cotidiana.
Quanto mais ampla e larga for a concepção de
vida, mais direitos precisam ser garantidos. Essa é a dialética da democracia:
garantir que todas as concepções de existência tenham legitimidade e
reconhecimento no conjunto da sociedade. A democracia não condiz, então, com
visões fechadas de existência, presas a modelos fixos, estáticos de
comportamentos. A complexidade e potência que é a vida humana, pede
compreensões sociais abertas e dinâmicas.
Já existe uma vasta teoria, muitas leis,
acordos firmados e cartas de compromisso que fundamentam a compreensão sobre a
dignidade humana e sobre a própria democracia. Agora é hora de tornar tudo isso
uma realidade efetiva! É tempo de lutar pelos direitos de cidadania! É o
momento de construir uma sociedade que tenha como fundamento a justiça e o
direito, no pleno reconhecimento efetivo da dignidade inerente a toda pessoa
humana.
Artigo assinado por: Prof. Adelino Francisco de Oliveira, Professor no Instituto Federal, campus Piracicaba, Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião
adelino.oliveira@ifsp.edu.br / @Prof_Adelino_