Foto: Arquivo Pessoal

Uma das sequelas que podem prejudicar infectados pela Covid-19 é o prejuízo sensorial em relação ao olfato e paladar. A privação da capacidade de sentir cheiros ou sabores nos afeta também psicologicamente e pode modificar nosso comportamento alimentar. Pode não parecer, mas o ser humano tem uma relação socioafetiva com o alimento, que ultrapassa a tão somente necessidade de sobrevivência. Na evolução humana, todo evento social - reuniões, festas, encontros etc. – ocorre ao redor de fogueiras ou mesas de jantar.

Nessa mudança de comportamento alimentar, nos deparamos com a obesidade, que já vem por anos afligindo o mundo inteiro e traz um sério problema de saúde pública, que se agravou na pandemia do Covid-19. Por si só, a obesidade prejudica muito a qualidade de vida do indivíduo, desde questões como locomoção, surgimento de doenças crônicas, autonomia e, até mesmo, a autoestima.

O medo provocado pela pandemia e o receio de que essa sequela do olfato e paladar não se resolva, acabam gerando ainda mais ansiedade. A maioria das pessoas que ficaram mais tempo em casa, já sofreram com a ansiedade, e uma das maneiras que encontraram para “descarregar” foi a mastigação. Muitas tornaram-se sedentárias e, ficando em casa, tiveram maior facilidade de acesso a uma alimentação desregrada. Com isso, doenças que dependem da obesidade, como diabetes, refluxo, problemas com colesterol e triglicérides, por exemplo, se acentuaram. São fatores que exigem atenção.

A situação epidemiológica não somente aproximou as pessoas dos riscos de doenças crônicas, como as afastou da assistência médica direta. Isso porque, as redes de saúde pública e particulares, ocupadas por quase dois anos para tratamento de Covid-19, estabeleceram-se como centros de risco para quem precisasse buscar auxílio para outras enfermidades. Aí, essas pessoas preferiram esperar. Agora, com o maior controle da pandemia por conta das vacinas, muita gente tem corrido atrás do prejuízo, mas é importante lembrar que a perda de peso e o restabelecimento de um organismo mais saudável não são conquistas que se fazem de forma rápida.

O processo de emagrecimento ocorre de maneira diferente para cada pessoa e é preciso respeitar as particularidades individuais. A obesidade é uma doença que exige abordagem multidisciplinar, pois não se trata apenas de perder peso, mas de um cuidado com a saúde de forma mais global.

O acompanhamento médico é um aliado nessa situação. Hoje em dia, o profissional pode direcionar o paciente a terapias farmacológicas que primam por um tratamento mais singular, sem fórmulas exageradas. Há muitos medicamentos novos e a terapia farmacológica tem evoluído bastante.

Outro fator fundamental num processo de emagrecimento é o acompanhamento nutricional associado à orientação psicológica, para que a mente se readapte emocionalmente às mudanças pelas quais o corpo poderá passar. Também são imprescindíveis as atividades físicas responsáveis, ou seja, com orientação adequada de profissional da educação física para evitar lesões.

Quando todas essas buscas falham por muito tempo, a cirurgia bariátrica é uma alternativa sólida, que também exigirá dedicação e perseverança do paciente no pré e no pós-procedimento. Porém, apesar de muito eficiente e apresentando uma evolução importante ao longo de mais de duas décadas no Brasil, a cirurgia bariátrica não deve ser a primeira escolha. Cirurgias sempre trazem riscos e o paciente obeso é mais susceptível a complicações.  

Nada melhor que trocar uma ideia com sua rede de apoio profissional para alcançar os melhores resultados.  Afinal, estamos falando da pessoa mais importante da sua vida.

Artigo assinado por: Dr. Douglas Yugi Koga, cirurgião do aparelho digestivo, especialista em cirurgias bariátricas, diretor do Gastrocentro de Piracicaba e médico do Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (HFCP).

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