Foto: Fabrice Desmonts - MTB
Encontro realizado
na Sala B do Prédio Anexo da Câmara reuniu vereadoras e representantes de
comunidades em vias de reintegração de posse na cidade
As vereadoras Rai de Almeida (PT) e Sílvia Morales
(PV), do mandato coletivo “A cidade é sua”, reuniram-se com lideranças e
moradores das comunidades Renascer, Vitória, União, Bosques do Lenheiro e
Jardim Gilda, na tarde desta terça-feira (14), na Sala de Reuniões B do Prédio
Anexo da Câmara Municipal de Piracicaba, para discutirem questões relacionadas
à reintegração de posse de algumas destas áreas.
Durante a reunião,
o advogado que acompanha a luta dos moradores contra a desocupação, Caio Garcia
Figueiredo, relatou o iminente risco de reintegração de posse nas
comunidades Renascer, União e Vitória.
De acordo com o
advogado, com a proximidade do fim da vigência da decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF) que suspendeu, em razão da pandemia da Covid-19, os despejos e
desocupações em áreas urbanas e rurais em todo o país, as comunidades em
Piracicaba que já possuem decisões liminares ou transitadas em julgado na
Justiça concedendo a reintegração de posse, podem, em breve, serem alcançadas
pelas determinações judiciais.
O advogado
apresentou às vereadoras piracicabanas um projeto aprovado na
Câmara Municipal de Ribeirão Preto, convertido em lei, e que versa sobre a
suspensão do cumprimento de medidas judiciais, extrajudiciais ou
administrativas motivadas por reintegração de posse durante o estado de
calamidade pública decorrente da Covid-19. Segundo o advogado, um projeto
semelhante poderia ser pensado em Piracicaba.
Outro contexto
- Rai de Almeida, ao analisar o projeto, lembrou que a propositura
aprovada em Ribeirão Preto “veio em um momento em que estávamos no grau máximo
da pandemia”. Ela salientou que, no atual contexto, onde há maior controle dos
casos quando comparado a 2020 e 2021, o embasamento para um projeto semelhante
provavelmente deva ser outro.
De forma
semelhante, Sílvia Morales também destacou que o timing para um projeto
em Piracicaba, nos mesmos moldes do aprovado em Ribeirão Preto, já passou.
Ambas as
vereadoras, no entanto, consideraram viável o estudo de proposições
legislativas e ações com base em outras premissas, como por exemplo a
calamidade pública que eventuais reintegrações de posse, a qualquer tempo,
possam gerar.
Caio disse que o
projeto aprovado em Ribeirão Preto é apenas um norte, um exemplo que evidencia
que é possível a criação de um regramento, em nível municipal, que adentre no
mérito da questão habitacional.
Regime de Transição
- De acordo com o advogado, a ideia é que a propositura garanta uma
espécie de regime transição, com medidas assecuratórias que façam com que o
cumprimento das ações de despejo e reintegração de posse ocorram dentro de parâmetros
que preservem a dignidade das famílias afetadas.
Ele cita que, na
decisão em que suspendeu as reintegrações em todo o país, o ministro Luís
Roberto Barroso disse que o poder Legislativo, sem especificar o ente da
Federação, deveria apresentar medidas de transição capazes de coibir um
eventual caos social advindo das desocupações: “o ministro Barroso, ele
menciona que o Legislativo deveria fazer um regime de transição para que,
quando acabasse a pandemia, não houvesse um caos social. Na minha avaliação, a
pandemia, de fato, não seria o principal argumento, mas surgiria como argumento
subsidiário à criação de um regime de transição”, disse.
Ele ainda
complementou: “uma outra contribuição que a gente consegue tirar desse projeto
de lei aprovado em Ribeirão Preto são as medidas assecuratórias que nele
aparecem, como por exemplo a garantia de habitação em uma outra localidade sem
ameaça de remoção, a manutenção de serviços básicos de comunicação, energia
elétrica, água potável, saneamento e coleta de lixo, a proteção contra
intempéries climáticas ou ameaças à saúde e à vida, acessos aos meios de
trabalho e subsistência e segurança”.
Vinícius Bena, que
também acompanha a luta das comunidades em vias de despejo, disse que já foram
realizadas diversas reuniões com os proprietários de algumas das áreas em
litígio, mas que “por hora, as negociações estão paradas”.
Em relação a um
possível projeto de lei que consiga mitigar os efeitos das desocupações,
Vinicius lembrou que, na decisão do ministro Luís Roberto Barroso, há a menção
aos “efeitos da pandemia”. Na análise de Bena, tais efeitos vão para muito além
das questões sanitárias imediatas e abrangem, por exemplo, o desemprego e a
carestia gerados nos últimos dois anos. “São coisas que podem ser utilizadas na
fundamentação deste projeto”, pontuou.
Ações - Rai de Almeida
propôs novas reuniões com as lideranças comunitárias das áreas afetadas e o
início de estudos mais aprofundados visando não apenas a formatação de um texto
a ser futuramente apresentado na Câmara, mas também a análise mais profunda das
ferramentas legislativas já à disposição.
“A moradia é um
princípio constitucional, e estudaremos a possibilidade da formação de uma
comissão de estudos para enfrentar esse tema. Temos que, de fato, pensarmos em
um plano de transição para garantir a dignidade dessas pessoas”, disse a
parlamentar ao término da reunião.
A vereadora Sílvia
Morales também defendeu, além de estudos mais detalhados para uma eventual
proposição legislativa, a retomada de conversas com representantes do Executivo
municipal: “acho que, independente da elaboração desse projeto de lei, devemos
tentar marcar uma conversa com representantes da Emdhap (Empresa Municipal de
Habitação de Piracicaba) e com a Smads (Secretaria Municipal de Assistência e
Desenvolvimento Social) e tentarmos, mais um vez, ver o que é possível ser
feito”, ponderou.
Também participaram da reunião assessores parlamentares das vereadoras piracicabanas e, de forma on-line, representantes parlamentares da Ribeirão Preto que participaram da elaboração do projeto convertido em lei.
Publicação: Enzo Oliveira/ Radialista Redator RMPTV