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Um final de sábado diferente, com as pessoas participando de um evento para dizer que gostam de música, que a cidade merece manter uma instituição que fortalece essa área cultural, que é preciso acumular forças para se evitar o fechamento de um espaço altamente qualificado na formação de artistas musicais – sejam instrumentistas ou coralistas – desde crianças. Essa é a ideia dos coordenadores do movimento “Salvem a EMPEM”, em defesa da preservação da Escola de Música de Piracicaba Maestro Ernst Mahle, cujo prédio está ameaçado de venda no processo de recuperação judicial que envolve as escolas metodistas de todo o país.
O encontro, aberto a toda a
população, acontece neste sábado, dia 27, às 16h, justamente defronte ao prédio
ameaçado da EMPEM, à Rua Santa Cruz, 1155. Artistas de várias formações estarão
juntos, sem ensaio prévio, executando obras que também permitam ao público
presente cantar e se encantar. Um momento para expressar justamente o quanto a
música pode ser fundamental no desenho de uma comunidade que entende a
importância da cultura e dos espaços a ela dedicados.
Com a confirmação não apenas
de ex-alunos e ex-alunas, de ex-professores e ex-professoras e de músicos em
atividade em várias orquestras e conjuntos espalhados pelo país, o evento se
desenha também como uma oportunidade de dar maior visibilidade ao movimento de
indignação e protesto que se multiplica desde que a notícia de possiblidade de
venda do prédio se tornou pública, ao final da última semana. Um abaixo
assinado virtual lançado na última terça-feira, na sexta-feira (26/08) pela
manhã já ultrapassava as 5 mil adesões (https://www.change.org/p/salve-a-empem-contra-a-venda-do-pr%C3%A9dio-da-escola-de-m%C3%BAsica-de-piracicaba?recruiter=1040859815&utm_source=share_petition&utm_medium=facebook&utm_campaign=psf_combo_share_initial&utm_term=psf_combo_share_initial&recruited_by_id=59ba9780-46bf-11ea-80d6-85a74f2a3146&utm_content=fht-34247009-pt-br%3A0).
A
importância da Escola de Música
Criada em 1953, desde seu
surgimento a Escola de Música de Piracicaba se tornou centro formador na área
musical, tendo como seu primeiro incentivador o compositor Hans Joachim Koellreutter,
que fundara em São Paulo a escola Pró-Arte. A iniciativa de ter também no
interior, especificamente em Piracicaba, uma alternativa de ensino da música se
viabilizou pela decisão e esforços de Maria Apparecida e Ernst Mahle, que
haviam sido alunos de Koellreuttter. Ao casal, se aliaram muitas outras figuras
já ligadas a um movimento cultural forte existente em Piracicaba à metade do
século passado.
Segundo informações da própria
Escola, os primeiros cursos ali oferecidos, ainda na década de 1950, foram teoria
e solfejo, harmonia, contraponto, dança clássica, iniciação musical, história
da música e estética musical – ampliando-se as alternativas muito rapidamente
também para classes de flauta, piano, violino, violoncelo, clarineta,
declamação, regência, artes plásticas, canto, acordeão, coral e música de
câmera. Já em 1953, Ernst Mahle
organizou a primeira Orquestra Infantil de Piracicaba. Ao longo dos anos
formaram-se outras orquestras, coros, conjuntos musicais que passaram a
oferecer concertos periódicos nas instalações da Escola, conhecida também pela
variedade e riqueza de instrumentos que foi acumulando ao longo dos anos,
alguns deles raramente disponíveis no interior, como seu órgão, um dos cinco
instrumentos semelhantes que, no Brasil, estão em locais dedicados à educação e
cultura, todos em espaços públicos (Escola de Música da UFRJ, Teatro Municipal
de São Paulo, Espaço Cultural Cachuera! (São Paulo), Instituto de Artes da
UNESP). Em seu acervo, destaque também para a harpa de origem francesa,
instrumento muito raro no país.
O espaço foi se tornando
referência para o país, sediando, depois, concursos nacionais como o de jovens
instrumentistas, com bancas julgadoras que reuniam músicos do Brasil e do
exterior. Os concertos aos finais de semana faziam uma agenda contínua de
cultura para a cidade, trazendo inclusive músicos estrangeiros para ali se
apresentar.
Ao longo dos anos, destaque-se
que muitos talentos de origem mais humilde da cidade foram beneficiados por
bolsas de estudos. Centenas de alunos frequentaram e foram ali formados
profissionalmente, espalhando-se depois em orquestras de reconhecida importância
para o país. Outros, preferiram fazer suas carreiras no exterior, como Paulo
Arantes: primeiro oboé da Filarmônica de Nuremberg, Alemanha; Washington
Barella: primeiro oboé da Sinfônica de Baden-Baden e docente na Universidade de
Artes de Berlim, Alemanha; Rosney Tuon: violinista da Orquestre de la Suisse
Romande, Genebra, Suiça; Lilian Tonella- pianista muito premiada, docente em
piano na Anadolu University, Turquia, entre outros.
Em
1998, o casal Mahle, buscando garantir a continuidade de seu trabalho, e
considerando os compromissos que a UNIMEP detinha à época com projetos
culturais e investimentos efetivos nesta área, transferiu a Escola de Música
para o Instituto Educacional Piracicabano, mantenedor da Universidade. Desde
então, progressivamente a partir da crise que a UNIMEP passou a enfrentar,
especialmente nos últimos 15 anos, a EMPEM começou a ser relegada a um segundo
plano, perdendo espaços de proteção e manutenção de seu patrimônio e incentivo
à continuidade de sua área de ensino. A possibilidade de venda do prédio atual,
apresentado à Justiça como alternativa para pagamento de dívidas tributárias da
rede de escolas metodistas, foi o ponto de partida para um protesto amplo em
defesa da história e do compromisso com a música em Piracicaba e no Brasil.
Coletivo
“Todos pela EMPEM”
salvempem@gmail.com
Publicado por Danilo Telles, Jornalista da Rádio Metropolitana