Foto: Danilo Telles/ Rádio Metropolitana

Um final de sábado diferente, com as pessoas participando de um evento para dizer que gostam de música, que a cidade merece manter uma instituição que fortalece essa área cultural, que é preciso acumular forças para se evitar o fechamento de um espaço altamente qualificado na formação de artistas musicais – sejam instrumentistas ou coralistas – desde crianças. Essa é a ideia dos coordenadores do movimento “Salvem a EMPEM”, em defesa da preservação da Escola de Música de Piracicaba Maestro Ernst Mahle, cujo prédio está ameaçado de venda no processo de recuperação judicial que envolve as escolas metodistas de todo o país.


Foto: Danilo Telles/ Rádio Metropolitana

O encontro, aberto a toda a população, aconteceu neste sábado, dia 27, às 16h, o ato ocorreu na lateral do prédio. Artistas de várias formações estiveram juntos, sem ensaio prévio, executaram obras que também permitiram ao público presente cantar e se encantar. Um momento para expressar justamente o quanto a música pode ser fundamental no desenho de uma comunidade que entende a importância da cultura e dos espaços a ela dedicados.


Foto: Danilo Telles/ Rádio Metropolitana

Participaram ex-alunos e ex-alunas, ex-professores e ex-professoras e músicos em atividade em várias orquestras e conjuntos espalhados pelo país, o evento se desenhou também como uma oportunidade de dar maior visibilidade ao movimento de indignação e protesto que se multiplica desde que a notícia de possiblidade de venda do prédio se tornou pública, ao final da última semana. Um abaixo assinado virtual lançado na última terça-feira, na sexta-feira (26/08) pela manhã já ultrapassava as  5 mil adesões (https://www.change.org/p/salve-a-empem-contra-a-venda-do-pr%C3%A9dio-da-escola-de-m%C3%BAsica-de-piracicaba?recruiter=1040859815&utm_source=share_petition&utm_medium=facebook&utm_campaign=psf_combo_share_initial&utm_term=psf_combo_share_initial&recruited_by_id=59ba9780-46bf-11ea-80d6-85a74f2a3146&utm_content=fht-34247009-pt-br%3A0).


Foto: Danilo Telles/ Rádio Metropolitana

A importância da Escola de Música

Criada em 1953, desde seu surgimento a Escola de Música de Piracicaba se tornou centro formador na área musical, tendo como seu primeiro incentivador o compositor Hans Joachim Koellreutter, que fundara em São Paulo a escola Pró-Arte. A iniciativa de ter também no interior, especificamente em Piracicaba, uma alternativa de ensino da música se viabilizou pela decisão e esforços de Maria Apparecida e Ernst Mahle, que haviam sido alunos de Koellreuttter. Ao casal, se aliaram muitas outras figuras já ligadas a um movimento cultural forte existente em Piracicaba à metade do século passado. 

Segundo informações da própria Escola, os primeiros cursos ali oferecidos, ainda na década de 1950, foram teoria e solfejo, harmonia, contraponto, dança clássica, iniciação musical, história da música e estética musical – ampliando-se as alternativas muito rapidamente também para classes de flauta, piano, violino, violoncelo, clarineta, declamação, regência, artes plásticas, canto, acordeão, coral e música de câmera.  Já em 1953, Ernst Mahle organizou a primeira Orquestra Infantil de Piracicaba. Ao longo dos anos formaram-se outras orquestras, coros, conjuntos musicais que passaram a oferecer concertos periódicos nas instalações da Escola, conhecida também pela variedade e riqueza de instrumentos que foi acumulando ao longo dos anos, alguns deles raramente disponíveis no interior, como seu órgão, um dos cinco instrumentos semelhantes que, no Brasil, estão em locais dedicados à educação e cultura, todos em espaços públicos (Escola de Música da UFRJ, Teatro Municipal de São Paulo, Espaço Cultural Cachuera! (São Paulo), Instituto de Artes da UNESP). Em seu acervo, destaque também para a harpa de origem francesa, instrumento muito raro no país.

O espaço foi se tornando referência para o país, sediando, depois, concursos nacionais como o de jovens instrumentistas, com bancas julgadoras que reuniam músicos do Brasil e do exterior. Os concertos aos finais de semana faziam uma agenda contínua de cultura para a cidade, trazendo inclusive músicos estrangeiros para ali se apresentar.

Ao longo dos anos, destaque-se que muitos talentos de origem mais humilde da cidade foram beneficiados por bolsas de estudos. Centenas de alunos frequentaram e foram ali formados profissionalmente, espalhando-se depois em orquestras de reconhecida importância para o país. Outros, preferiram fazer suas carreiras no exterior, como Paulo Arantes: primeiro oboé da Filarmônica de Nuremberg, Alemanha; Washington Barella: primeiro oboé da Sinfônica de Baden-Baden e docente na Universidade de Artes de Berlim, Alemanha; Rosney Tuon: violinista da Orquestre de la Suisse Romande, Genebra, Suiça; Lilian Tonella- pianista muito premiada, docente em piano na Anadolu University, Turquia, entre outros.

Em 1998, o casal Mahle, buscando garantir a continuidade de seu trabalho, e considerando os compromissos que a UNIMEP detinha à época com projetos culturais e investimentos efetivos nesta área, transferiu a Escola de Música para o Instituto Educacional Piracicabano, mantenedor da Universidade. Desde então, progressivamente a partir da crise que a UNIMEP passou a enfrentar, especialmente nos últimos 15 anos, a EMPEM começou a ser relegada a um segundo plano, perdendo espaços de proteção e manutenção de seu patrimônio e incentivo à continuidade de sua área de ensino. A possibilidade de venda do prédio atual, apresentado à Justiça como alternativa para pagamento de dívidas tributárias da rede de escolas metodistas, foi o ponto de partida para um protesto amplo em defesa da história e do compromisso com a música em Piracicaba e no Brasil.

Coletivo “Todos pela EMPEM”

salvempem@gmail.com

Publicado por Danilo Telles, Jornalista da Rádio Metropolitana

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