Foto: Cris Bonin/ O Diário Piracicabano
O Conselho de Defesa do
Patrimônio Cultural de Piracicaba (CODEPAC) recebeu hoje, quinta-feira (01/09),
pela manhã, um documento assinado por todos os ex-prefeitos de Piracicaba,
alguns ex-secretários municipais de Ação Cultural, ex-dirigentes da UNIMEP e
uma ex-diretora da Escola de Música solicitando formalmente a abertura de
processo de tombamento da Escola de Música de Piracicaba – o prédio e seu
patrimônio imaterial.
A manifestação foi coordenada
pelo movimento SALVEM A EMPEM, que anexou ao pedido também uma cópia de abaixo-assinado
virtual, pedindo a preservação da Escola de Música de Piracicaba, com quase 6
mil assinaturas, destacando a importância desta participação coletiva no
processo em defesa da Escola. O documento foi recebido pessoalmente pelo
presidente do CODEPAC, Ezio Pesatto, e a expectativa é de que o assunto será
encaminhado já na reunião ordinária do Conselho que acontece nesta sexta-feira,
dia 2 de setembro.
“Nós, como pessoas que já
governamos Piracicaba, que conhecemos detalhadamente a importância de
instrumentos culturais para seu povo, que estivemos também à frente de
administrações da UNIMEP, também apoiamos e ressaltamos a importância da EMPEM
para essa coletividade e para o país, encaminhando a este Conselho a
solicitação de tombamento do prédio e dos bens imateriais que compõem a Escola
de Música de Piracicaba, a partir de suas competências legais” – diz o texto
assinado.
Para além de simbolicamente referendar
a importância de cada uma das 6 mil assinaturas do abaixo-assinado virtual, ao
arrolá-las a um pedido formal a um órgão de preservação do patrimônio histórico
de Piracicaba, o ofício se reveste de um peso político ímpar, já que tem como
signatários todos os ex-prefeitos de Piracicaba: José Aparecido Borghesi, José
Machado, Barjas Negri e Gabriel Ferrato.
Ainda corroboram o pedido os
ex-responsáveis pela área de cultura da cidade, em diferentes épocas, como
secretários municipais, Aparecida Gregolin Abe, Jefferson Goulart, Heitor Gaudenci
Jr e Rosângela Camolese. Demonstrando que também dentro da Igreja Metodista e,
especialmente, entre aqueles que responderam pela educação de suas escolas em
anos anteriores, há oposição à venda daquele patrimônio.
Assinam a petição o ex-reitor
da UNIMEP, Clóvis Pinto de Castro, e os ex-vice-reitores Ely Eser Barreto César
e Sérgio Marcus Pinto Lopes. Expressando a preocupação da comunidade formada pela
EMPEM, segue a assinatura da ex-diretora Beatriz Victoria. Pelo movimento
SALVEM A EMPEM, finaliza o pedido o músico Julio Amstalden.
Conteúdo
integral do ofício recebido pelo CODEPAC, em 1/09/2022
Ao
Ilmo. Sr. Esio Antonio Pezzato
DD Presidente do Conselho de
Defesa do Patrimônio Cultura de Piracicaba – CODEPAC
Prezado Sr.
Como já é de conhecimento público,
a Escola de Música de Piracicaba “Maestro Ernst Mahle” (EMPEM) se vê ameaçada
de perder seu prédio sede, onde, desde a década de 1960 desenvolve suas atividades de ensino,
pesquisa, concertos, audições em um contínuo processo de formação cultural de
gerações de piracicabanos no reconhecimento à importância da arte e da cultura.
O fato se deve à inclusão do imóvel para alternativa de quitação de débitos
tributários da rede metodista de educação, que busca, através de processo de
recuperação judicial, formas de manter suas unidades ainda em funcionamento
apesar de um passivo que ultrapassa 1 bilhão de reais e envolve cerca de 10 mil
credores em todo o país.
Fundada em 1953 pelo casal
Maria Apparecida e Ernst Mahle, a Escola de Música se constituiu, desde o
princípio, numa alternativa de difusão cultural – não apenas pelo ensino da
música em suas variadas especificidades –, mas por tornar Piracicaba um espaço
de recepção a músicos consagrados do Brasil e do exterior para apresentações e
cursos especiais, dificilmente disponíveis à populações de cidades do interior,
especialmente em suas primeiras décadas. Beneficiaram-se, portanto, de sua
existência, tanto aqueles que ali buscavam uma formação musical que levaria
muitos a se profissionalizar na área, como também o cidadão comum, que passou a
ter acesso a programas de qualidade ímpar. A se destacar que seus conjuntos e
seus músicos, durante anos, também foram às escolas públicas da cidade, levando
a música para um público que por si só não chegaria às salas de concerto e
teria alguma intimidade com a música clássica. O número de cursos ofertados já
nos primeiros anos dá uma dimensão da amplitude dos objetivos da Escola, que
trazia em sua origem as influências de H.F.Koelreutter, de quem Cidinha e Ernst
Mahle foram alunos: teoria e solfejo, harmonia, contraponto, dança clássica,
iniciação musical, história da música e estética musical – ampliando-se as
alternativas muito rapidamente também para classes de flauta, piano, violino,
violoncelo, clarineta, declamação, regência, artes plásticas, canto, acordeão,
coral e música de câmera. Anos depois, ali também passaram a ser oferecidos
cursos de artes plásticas, teatro e balé.
Em 1998, o casal Mahle, depois
de várias tratativas e busca por alternativas que garantissem uma continuidade
ao projeto da Escola de Música, encontrou na Universidade Metodista de
Piracicaba (UNIMEP/IEP) resposta às suas preocupações de sobrevivência da
EMPEM. O IEP festejou a incorporação em eventos públicos e falas oficiais de
seus dirigentes à época quanto ao compromisso assumido de manutenção e
preservação daquela instituição. O acordo envolveu um pagamento pelo imóvel
hoje em discussão, enquanto à Universidade eram doados todos os equipamentos e
acervo pertencentes até então a EMPEM, assim como sua estrutura e marca. Foi a
partir desta incorporação, inclusive, que a Universidade pode montar e passar a
oferecer a licenciatura em Música, que funcionou durante alguns anos. À medida
que as instituições metodistas de educação enfrentaram mudanças nos anos
subsequentes à incorporação, a Escola de Música deixou de ter certo
protagonismo em seu acompanhamento e garantia e preservação de sua
infraestrutura.
Dias atrás, piracicabanos e
músicos ali formados, que hoje se espalham por algumas das principais
orquestras e universidades do exterior, assim como em unidades de ensino
superior públicas e orquestras de referência do Brasil, mostraram de imediato
sua preocupação e indignação com a ameaça contra a EMPEM, a partir da venda do
prédio e o progressivo descaso da administração metodista para com a
preservação de uma história cultural de importância vital para a memória da
cidade e para o desenho da música clássica no país. Em anexo a este documento,
tal reação pode ser conferida, através de abaixo assinado que, até dia
30/08/2022 acumulava cerca de 6 mil adesões pedindo pela preservação da Escola
(anexo 2). É para nós, a expressão palpável de um movimento de grandes
proporções que precisa ser ouvido e respeitado por aqueles que poderão ter
iniciativas concretas no sentido de se preservar a Escola de Música.
Atenciosamente,
José Aparecido Borghesi, ex-prefeito
municipal
José Machado, ex-prefeito
municipal
Barjas Negri, ex-prefeito
municipal
Gabriel Ferrato, ex-prefeito
municipal
Aparecida Gregolin Abe –
ex-secretária de Ação Cultural
Jefferson Goulart –
ex-secretário de Ação Cultural (assinatura digital)
Heitor Gaudenci Jr.–
ex-secretário de Ação Cultural (assinatura digital)
Rosângela Camolese –
ex-secretária de Ação Cultural
Clóvis Pinto de Castro –
ex-reitor da UNIMEP (assinatura digital)
Ely Eser Barreto César –
ex-vice-reitor da UNIMEP
Sérgio Marcus Pinto Lopes –
ex-vice-reitor da UNIMEP (assinatura digital)
Beatriz Victória – ex-diretora
da Escola de Música de Piracicaba
Julio Amstalden – ex-aluno, ex professor, representante do movimento Salvem a EMPEM
Esio Pezatto, presidente do CODEPAC, recebe os documentos do pedido oficial de tombamento, que envolveram ofício e cópia com cerca de 5800 assinaturas do abaixo assinado virtual.
Publicado por Danilo Telles, Jornalista da Rádio Metropolitana