Foto: Arquivo pessoal

À mesa, a conversa pode estar alinhada, mesmo quando a cerveja não é a mesma. A predileção pela bebida varia de acordo com o paladar, mas desde que chegou ao Brasil, no século 17, a cerveja veio se destacando como preferência. Prova disso é a abertura do brasileiro em provar novos estilos.

A história da cerveja brasileira tem início com os primeiros imigrantes europeus, vindos de países que já dominavam o processo de produção da bebida. A chegada ocorreu em 1654, quando a Companhia das Índias Orientais enviou para terras brasileiras — junto com os holandeses que por aqui chegavam — algumas amostras do líquido, assim como sua receita e todo o equipamento necessário para prepará-la. A ideia era montar a primeira cervejaria brasileira.

Porém, assim como os holandeses, logo depois a cerveja desapareceu do Brasil, ressurgindo apenas em 1808, quando a Família Real portuguesa trouxe de volta a bebida ao País. Era, entretanto, produzida de forma artesanal, pelas mãos de imigrantes alemães e holandeses, que se dedicavam à fabricação caseira para consumo próprio. Não havia atividade industrial.

Os ingredientes utilizados nessa produção também eram outros. O lúpulo e a cevada, que teriam de ser importados, não estavam na composição à época. O que se sabe é que insumos como arroz, milho e trigo eram utilizados no processo.

Somente em 1850 é que pequenas cervejarias começaram suas atividades. A primeira registrada foi a Bohemia, em 1853. O ano de 1888, entretanto, foi considerado um marco para esse mercado no País. Foi quando as duas maiores cervejarias surgiram quase simultaneamente no Brasil. Enquanto no Rio de Janeiro foi criada a Companhia Cervejaria Brahma, em São Paulo nascia a Antarctica – anos depois, as duas se fundiriam para gerar a Ambev, maior produtora brasileira, que só cresceu de lá para cá.

Hoje, a empresa engloba diversas marcas da bebida, sendo uma das grandes referências do segmento e representando 1/3 de toda cerveja produzida no mundo, por intermédio de seu braço internacional, a AB Inbev (Anheuser-Busch InBev), fusão da belga Interbrew e da brasileira Ambev.

O mercado mundial, em sua história recente, passou por inúmeras transformações, sendo a maior delas a denominada Craft Beer Revolution ou Revolução da Cerveja Artesanal. Iniciada pelo mercado americano no final da década de 1980, marcou a união entre pequenos produtores de cervejas para produzir estilos e técnicas não tradicionais.

No Brasil, este movimento ganhou notoriedade com a fundação da Cervejaria Dado Bier, em 1995 no Rio Grande do Sul; Cervejaria Colorado, em 1996 em Ribeirão Preto (SP); e na nossa região, a Cevada Pura Cervejaria Artesanal, em Piracicaba (SP) em 2001.

O começo de todas essas cervejarias foi extremamente desafiador, devido às limitações em termos de equipamentos, matérias-primas, mão-de-obra, legislação e mercado. Se ainda hoje muitas pessoas não conhecem mais do que dois estilos de cervejas dentre os atuais 120 disponíveis, imagina como era produzir uma Indian Pale Ale (IPA) há 30 anos!

Mesmo crescendo dois dígitos em 20 anos, o mercado de cerveja artesanal representa menos de 2% de todo o volume produzido no Brasil, considerado o 4º maior produtor da bebida no mundo. Atualmente, são cerca de 1.500 cervejarias registradas no País.

Na vanguarda desse mercado, foram desenvolvidos novos estilos, incluindo um brasileiro: a Catharina Sour, cerveja ácida, de baixo teor alcoólico, com adição de frutas e especiarias. Muitas das nossas Catharinas são premiadas internacionalmente e admiradas mundo a fora.

Essa evolução sensorial e a presença crescente de cervejarias em todo o território nacional vêm atraindo a atenção e o carinho de novos consumidores, que procuram renovar suas experiências além das tradicionais pilsen.

O apreciador cervejeiro só agradece!

Artigo assinado por: Lucas Romero, mestre-cervejeiro e uma das principais referências brasileiras no segmento. Graduado em engenharia Industrial, cursou mestrado em engenharia química pela USP e UFRJ e especialização como mestre-cervejeiro pela Universidade Técnica de Berlin, na Alemanha. É empreendedor do setor em Piracicaba-SP e candidato a deputado estadual pelo Novo.

Publicação: Enzo Oliveira/ Radialista Redator RMPTV

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