Foto: Danilo Telles/ Metropolitana
Nessa sexta-feira (2) à tarde, Cidinha Mahle falou pela primeira vez à imprensa sobre um impasse envolvendo justamente a escola de música que idealizou junto a seu companheiro, com quem completou 67 anos de casamento. A Empem foi listada em um plano de recuperação judicial da rede metodista, à qual pertence, e pode ser vendida para saldar dívidas do grupo.
'Um baque, uma coisa que a gente não esperava', diz fundadora sobre
possível venda de prédio da Escola de Música de Piracicaba
Imóvel foi incluído em plano de recuperação da rede metodista e pode ser vendido para pagamento de dívidas. Cidinha Mahle mostrou alegria com apoio recebido e diz ter esperança de que um eventual comprador mantenha a Empem "como ela sempre foi".
Foto: Danilo Telles/ Metropolitana
Aos 90 anos de idade, a musicista Maria Apparecida
Mahle prepara a apresentação de uma ópera junto aos seus alunos, já aprovada
pelo Programa de Ação Cultural de São Paulo (Proac). Quando ela comenta a
produtividade longeva, no entanto, fala no plural. “Nós não paramos de
trabalhar. Eu gosto de promover [apresentações] e o Mahle que fica fazendo as
músicas, sem parar”. Foi com seu marido, Ernst Mahle, que em 1953 ela fundou a
Escola Municipal de Música de Piracicaba Maestro Ernst Mahle (Empem).
A medida, no entanto, não agradou o casal de fundadores e gerou uma série de reações de músicos que têm relações com a escola, como um abaixo-assinado, um protesto no formato de concerto e um pedido de tombamento do imóvel, para tentar barrar a venda.
“Foi realmente um baque, uma coisa que a gente não esperava. Mas vendo também quanta manifestação tem de ex-alunos, de conhecidos, amigos e de pessoas bem colocadas no setor musical do país [contra a venda], a gente vai enfrentando o problema e vendo como vai resolver”, comentou Cidinha.
Segundo
ela, não houve um diálogo prévio com ela ou Ernst a respeito da possível venda
do prédio. A alternativa divulgada posteriormente, de uma realocação da Empem
em outro imóvel, também não os agradou.
“Em uma casa qualquer não dá pra gente mudar. Eu acho que tantos alunos, como os atuais, eles se sentem muito bem lá [...] Todo mundo é muito ligado ao prédio, que realmente é muito bom, muito próprio, acústica maravilhosa e todo mundo que vem aqui se encanta”, afirma.
Foto: Danilo Telles/ Metropolitana
Ao olhar para o passado, ao ser questionada sobre a
contribuição da Empem para a cultura local, Cidinha lembra que, no início,
Mahle comprou instrumentos para a escola de música que nunca tinham sequer sido
vistos pelos alunos, como fagote e oboé.
“Muita gente frequentou e, se não frequentou, os
filhos frequentaram, viram que receberam uma educação boa, isso fez as crianças
mais felizes, os jovens. E, depois, vários desses jovens que estão tocando em
orquestra profissionais, eles vêm e falam para nós: ‘Eu não sei o que seria da
gente se não tivesse tido a orquestra de música’”.
Já ao olhar para o futuro e para o desfecho que ela
vislumbra para o imbróglio, a musicista espera que não se prolongue.
“O final que a gente espera é sempre um final
feliz, alguém que possa comprar essa escola, mas que seja uma pessoa que queira
levar a escola como ela sempre foi. O final feliz seria esse. E pudesse contar
com pessoas que frequentaram a escola, que trabalharam lá. E gostaria que esse
final feliz não demorasse muito. Porque eu estou com 90 anos e o Mahle está com
93”.
Pedido de tombamento
O
documento com pedido de tombamento da Empem foi protocolado no Conselho de
Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba (Codepac)
na manhã dessa quinta-feira (1º). Ele é assinado ex-prefeitos de Piracicaba
(SP), ex-secretários municipais de Ação Cultural e ex-gestores da
Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep)
e da Empem e pede o tombamento do prédio e seu patrimônio imaterial.
A manifestação
foi coordenada pelo movimento "Salvem a Empem", que anexou ao pedido
uma cópia de um abaixo-assinado
virtual, pedindo a preservação da Escola de Música de Piracicaba, com quase
6 mil assinaturas.
“Nós, como pessoas que já governamos Piracicaba, que conhecemos detalhadamente a importância de instrumentos culturais para seu povo, que estivemos também à frente de administrações da Unimep, também apoiamos e ressaltamos a importância da Empem para essa coletividade e para o país, encaminhando a este Conselho a solicitação de tombamento do prédio e dos bens imateriais que compõem a Escola de Música de Piracicaba, a partir de suas competências legais”, trecho do texto encaminhado ao conselho.
Foto: Danilo Telles/ Metropolitana
Concerto na rua para protestar
Trinta músicos realizaram um concerto na calçada da rua em frente à Empem, no Centro de Piracicaba, no dia 27 de agosto, para protestar contra a possível venda do prédio da instituição.
Texto Rodrigo Pereira/ G1
Publicado por Danilo Telles, Jornalista da Rádio Metropolitana