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O setor de semijoias de Limeira tem uso comprovado de trabalho infantil,
o que está causando às crianças a perdas das digitais das mãos. Levantamento da
Unicamp com estudantes da rede pública mostra que 213 dos 569 participantes com
idade entre 7 e 13 anos, ou 37% deles, precisavam trabalhar para ajudar seus
familiares – desses, 28% (ou 51 deles) estavam envolvidos na produção de
semijoias e bijuterias. Um detalhe chamou a atenção das pesquisadoras: do total
de 741 entrevistados, 235 estudantes responderam que irmãos menores de 14 anos
trabalhavam dentro de casa. “Isso indica que o número de crianças que exercem
atividade laboral em idade não prevista em lei pode ser bem maior em Limeira”,
considera Sandra Gemma, da Faculdade de Ciências Aplicadas da universidade. O
assunto é tema de livro gratuito da
professora Sandra, da Unicamp, na companhia de Marcia Cristina da Silva
Vendramin (Unicamp) e Andreia Silva (UniFaccamp). Limeira integra a Região
Metropolitana de Piracicaba.
Um relato despertou a iniciativa da pesquisa, conta Sandra Gemma. “Muitos
dos meus alunos não têm mais impressão digital porque começaram a trabalhar
desde cedo na produção de semijoias. E isso é descoberto no momento da emissão
do documento de identidade”, contou uma professora da rede pública. E o cenário
só piora com o andamento dos levantamentos, conta a professora Sandra.
“Vários aspectos nos chamaram a atenção durante a pesquisa. Primeiro, os
números alarmantes de trabalho infantil na produção de semijoias, quando o
resultado deveria ser negativo. E, segundo, por restrições da ética em
pesquisa, temos que ter o aval das famílias e, de um universo de quase 8 mil
estudantes [da região de Limeira], apenas 741 adultos responsáveis assinaram a autorização
para responder à enquete, ou seja, não conseguimos atingir a totalidade dos
estudantes. Pode-se imaginar que a realidade seja ainda mais dura do que o
universo retratado na pesquisa. Creio que diante da vulnerabilidade, sobretudo
financeira, as famílias naturalizem a questão do trabalho infantil."
No caso de Limeira, há um elemento adicional: o trabalho em casa. “Com a
terceirização de alguns processos produtivos, as etapas de montagem, soldagem e
cravação de peças, por exemplo, foram transferidas para as residências dos
trabalhadores, em condições improvisadas. As crianças acabam sendo incluídas na
produção para aumentar a renda familiar e, entre outras consequências, perdem
as digitais por causa do uso de produtos químicos e do atrito dos dedos com as
peças.”
Para Sandra Gemma é necessária a elaboração e implementação de políticas
públicas e conscientização dos consumidores desses produtos. “Para resolver
essa delicada questão, precisa haver um trabalho integrado dos atores públicos,
com o setor empresarial e a sociedade. Não tem solução mágica, precisamos ter
bons diagnósticos sobre as causas do trabalho infantil, para além de conhecer
os dados. Há muitas contradições nesse sistema de atividade que precisam ser
enfrentadas e superadas com muita urgência. Afinal, as crianças não podem
continuar a ser penalizadas. Destaco aqui a importância também do trabalho que
tem sido feito pela Cometil, Comissão de Erradicação do Trabalho Infantil de
Limeira.”
Texto: O Diário Piracicabano
Publicação: Enzo Oliveira/ Radialista e Redator RMPTV