Foto: Mandato coletivo
Em 1990,
através da Lei Municipal nº 3.238 foi criada a EMDHAP – Empresa Municipal de
Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba, com as finalidades de executar a
política habitacional, visando, minimizar os problemas de habitações populares;
contribuir para o desfavelamento do Município; adquirir imóveis para urbanização,
reurbanização, planejamento, construção, dentre outros afins.
Já em
2003, a Lei
Municipal nº 5.288 criou o IPPLAP – Instituto de Pesquisa e Planejamento
de Piracicaba, baseado em modelos de cidades progressistas, como Curitiba.
Anteriormente tais questões no Município
de Piracicaba eram tratadas por secretarias distintas, a HIS - Habitação de
Interesse Social, por exemplo, era tratada na Secretaria Municipal de Obras, e o
planejamento incorporava a antiga SEMUPLAN- Secretaria Municipal de
Planejamento de Piracicaba.
Com o advento da Constituição Federal de
1988, que trouxe o Capítulo da Política Urbana e reconheceu a moradia como um
direito social, já na década de 1990 e com intuito de modernizar e trazer a
devida atenção à estas políticas públicas, Piracicaba se colocou como vanguarda
e criou estes órgãos específicos.
A EMDHAP, por décadas, cumpriu sua função
- desfavelou núcleos, implantou vários loteamentos populares e conjuntos
habitacionais, seja com recursos próprios, seja em parceiras com governos estadual
e federal, ONG’s e instituições privadas, além de iniciar o processo de regularização
fundiária de vários núcleos.
Já o IPPLAP teve uma relevante
participação na revisão de planos diretores, além de publicações, cartilhas
temáticas, os cadernos CADDUS – Cadernos de Estudos e Projetos para o
Desenvolvimento Sustentável de Piracicaba e Aglomeração Urbana, com temas como
Desenvolvimento Urbano, Mobilidade, Zonas de Zeladoria de Patrimônio Cultural,
Parques Lineares, Densidade
Demográfica, e o mapeamento de vários
serviços públicos, com coleta de dados de extrema importância para o planejamento do território. Além de
publicações que resgatam a história e o patrimônio histórico de Piracicaba. Há
de se destacar como um projeto de grande relevância para Cidade, o Projeto
Beira Rio, que fora gerenciado pelo IPPLAP.
É certo que durante suas “vidas”, os
órgãos tiverem várias fases, de crescimento e decréscimo, compreendidas as
alternâncias do governo municipal, que projetavam mais ou menos incentivos, de
acordo com o respectivo plano de governo.
Na EMDHAP, principalmente no início até
meados de sua existência, foi visível sua estruturação, consolidação de programas,
vários empreendimentos, além da elaboração do PLHIS – Plano Local de Habitação
de Interesse Social em 2011, cuja revisão foi recentemente aprovada pela Lei
Complementar nº 425/2021.
Em meados dos anos 2000, a empresa começou
a apontar problemas institucionais, falta de investimentos institucionais, desvios
dos seus objetivos e programas, leilão
da máquina de asfalto a frio, reciclagem de entulhos e a fábrica de blocos de
concreto, não reposição do quadro de funcionários e colaboradores. A partir de
então, sua atuação se pautou mais no gerenciamento de “carteiras” dos contratos
de CDHU- Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de SP, e Programas Habitacionais como Minha Casa Minha
Vida.
Nestes anos, muitos Municípios criaram
seus institutos de planejamento, como Fortaleza, Santa Maria no Rio Grande do
Sul e outros, vendo na iniciativa a possibilidade,
de entre outras ações e projetos, pensar
o futuro das cidades. Para desenvolver um planejamento de médio e longo prazo,
os institutos realizam pesquisas sobre vários assuntos, para diagnóstico e
planejamento, fazem a interlocução com instituições de ensino, ONGs e inciativa
privada, estudam e implementam as legislações relativas ao parcelamento e uso e
ocupação do solo, buscam recursos, desenvolvem projetos para melhoria da
qualidade de vida na cidade.
Infelizmente, em Piracicaba, na última Sessão
da Câmara Municipal foi aprovado o Projeto de Lei nº 200/22, que dispõe sobre a
extinção da EMDHAP e do IPPLAP, cujas pastas serão tratadas por uma nova
secretaria, a SEMUHGET – Secretaria Municipal de Habitação e Gestão Territorial.
Uma secretaria enorme que juntou serviços
essenciais que, embora se conversem, cada um é muito amplo e específico em si,
inclusive juntando também serviços de aprovação e licenciamento de obras, que
antes eram tratados pela SEMOB – Secretaria Municipal de Obras.
Pior, com um déficit habitacional da ordem
de 10 mil UH (unidades habitacionais) e cerca de 30 mil pessoas morando em
favelas, segundo dados trazidos pela revisão do PLHIS – Plano Local de
Habitação de Interesse Social, em 2021.
Cidade sede da Região Metropolitana, com
mais de 400 mil habitantes, ou seja, passando de médio a grande porte, com
vários problemas de mobilidade, meio ambiente, lazer e outros.
Não ter mais instituto de planejamento no cenário atual é uma grande perda, pois, entre outros, estamos indo na contramão do movimento global por cidades planejadas e resilientes, pauta atual e trazida Rede Nacional de Institutos de Planejamento instituída pelo Programa da ONU – Habitat, a qual infelizmente não faremos parte, pelo menos por enquanto. Triste retrocesso para Piracicaba.
Artigo assinado por: Silvia Maria Morales - Engenheira civil, especialista e mestre em urbanismo, integrante do Mandato Coletivo: a Cidade e Sua do Partido Verde.