Foto: Fachada do prédio do Taquaral onde Maia foi velado, e onde se localiza também a capela.

“... como família observamos com temor certos rumos tomados pela Igreja Metodista e suas instituições de ensino recentemente. Na ocasião do velório de Almir, no campus Taquaral da Unimep, fomos cumprimentados por mãos que, há poucos meses, negociavam a venda desta Universidade e outras instituições metodistas pelas quais Almir lutou para construir. Evidentemente, isto nos preocupa. Apesar disso, para nós, a memória de nosso marido e pai sendo velado no átrio da biblioteca do campus Taquaral será uma lembrança ‘sem dinheiro e sem preço’ que nos motivará a enxergar o mundo e a missão da Igreja para além das crises. Tal como nossas memórias, cremos que a educação metodista é um destes patrimônios que jamais poderão ser quantificados em cifrões. Na preparação para o funeral, nossa família tomou uma decisão consciente ao decidir velar seu corpo no campus Taquaral da Unimep, em Piracicaba. Com isso, queríamos dizer sobretudo às autoridades metodistas ali presentes que para nós este é um espaço sagrado, como sempre foi para Almir. Fazer da Universidade um espaço santo é um desafio que ele abraçou com todas suas forças. Santificar o espaço de aprendizado, da construção de conhecimento e da troca de experiências significa entender a fé cristã em sua dimensão pública, num ambiente repleto de tensões, dúvidas e grandes diferenças. Como metodista fiel, cremos que Almir soube fazer isso. Amando a Igreja, reverenciando sua tradição metodista e servindo a Deus com paixão e dedicação, ele soube administrar uma Universidade confessional, mas não proselitista; metodista, mas também ecumênica; uma Universidade devidamente mantida por uma Igreja, mas definitivamente democrática e aberta à sua comunidade interna e externa...” (Texto assinado por Susana Maia, e seus filhos, e publicado em alguns espaços metodistas em 2015, algumas semanas após a morte de Almir Maia, ex-reitor da UNIMEP)

Hoje, nada mais sobra de reverencial com relação ao Campus Taquaral da UNIMEP, que se desmancha em pedaços cujo destino ninguém ainda garante, depois do anúncio de seus gestores sobre sua desativação. Para não se dizer muito, seria momento de se perguntar o que pensa a Igreja Metodista com relação à destinação de símbolos que lhe foram extremamente caros no passado, como a capela, inaugurada em 1994, com vitrais para ela desenhados especialmente, com um órgão de tubos especialmente construído para aquele espaço religioso. Nestes últimos dias, alguns ex alunos da UNIMEP de diversas crenças religiosas, que estudaram no campus Taquaral, pediram que escrevesse, até como registro para a memória, sobre o livro de orações que era mantido à entrada da capela, e onde aqueles que ali entravam em momentos de angústia ou de júbilo podiam deixar registros pessoais. “Este livro que tinha na capela é uma das preciosidades que não podem se perder. Era algo bem simples, era um livro ata que ficava num aparador logo na entrada da capela junto com a Bíblia e uns devocionários (“No Cenáculo”- adorava!). E junto com ele tinha uma caneta e ficava a disposição para os alunos escreverem o que quisessem, escreverem suas orações. Ele é lindo tanto do ponto de vista espiritual como histórico, porque depois de um tempo comecei a perceber uma certa sazonalidade nas orações. No começo os alunos agradeciam pelo vestibular, pelo início do ano, agradeciam as suas famílias, etc. Era nítida a alegria de estar na UNIMEP, que a UNIMEP é escolha não é sobra porque não passei na FUVEST, na UNICAMP, etc. E no decorrer do ano o livro ia ganhando uma intensidade dos alunos indo a capela pedir ajuda para Deus e a Jesus para conseguirem se manterem na universidade em razão dos revezes da vida: perda de emprego, doenças graves, doenças graves dos Pais, a preocupação de não conseguir conciliar os estudos com dificuldades da vida. E no final do ano o livro era repleto de agradecimentos a Deus pelo ano, pelo sucesso nas provas e trabalhos, que apesar de todas a dificuldades conseguiram ter êxito. É nítido neste livro o amor dos alunos pela UNIMEP e pelos estudos...” A descrição emocionada é da ex aluna Daniela Santos, que frequentou a UNIMEP entre 2005 e 2016.

Ainda que se destaquem memórias como estas, envolvendo o lado espiritual que também tinha lugar no Taquaral, a Igreja Metodista não reage ao completo desmonte de suas escolas. A única voz discordante, até hoje, ao que vem ocorrendo especialmente na UNIMEP, foi do bispo emérito João Alves de Oliveira Filho, em texto publicado no Facebook ao final da última semana lamentando a “insensibilidade” dos atuais administradores (e reproduzido na íntegra em posts anteriores meus). Dois outros bispos eméritos – portanto já afastados do episcopado -, embora timidamente, deixaram comentários. “Bispo João, você disse tudo”, escreveu Paulo Lockmann, ex presidente do Colégio Episcopal, e “Oportuna manifestação do Bispo João Alves. Sim, estamos chorando”, foi a reação de Adriel de Souza Maia, também ex presidente do Colégio Episcopal. Quantos mais terão coragem de publicamente expressar as dúvidas que começam a se multiplicar entre os próprios metodistas sobre os erros evidentes ocorridos nos últimos anos no trato e administração de suas escolas e que agora levam ao seu fechamento?

Artigo assinado por: Beatriz Vicentini

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