Foto: Guilherme Leite
Ato na Câmara
reuniu vereadores, professores da ativa e aposentados e representantes de
entidades civis para traçar futura atuação junto aos governos estadual e
federal.
Vereadores,
professores da ativa e aposentados e representantes de entidades civis
mostraram união em torno do movimento para manter a vocação do campus Taquaral,
conjunto de instalações do qual a Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba)
pretende se desfazer para abater parte de sua dívida com credores, que hoje
supera R$ 500 milhões.
Atualmente em recuperação judicial, a tradicional instituição de
ensino, fundada em 1975, desativou no último dia 16 de janeiro o seu campus
Taquaral, localizado às margens da Rodovia do Açúcar e em funcionamento desde
1979. O complexo abrange salas de aula, laboratórios, anfiteatro, biblioteca e
instalações esportivas e culturais.
Nesta quinta-feira (2), em reunião no prédio anexo da Câmara,
cerca de 30 pessoas compareceram ao que foi considerado o "segundo
passo" na mobilização que pretende unir lideranças setoriais, acadêmicos e
a população de Piracicaba e outras cidades para que o campus Taquaral mantenha
a finalidade educacional.
O ato deu sequência à mobilização que teve início após o anúncio
do fechamento do complexo e que culminou na divulgação do "Manifesto pela
expansão e diversificação da educação universitária pública de Piracicaba e
região", documento de quatro páginas que defende o legado da Unimep e
propõe alternativas para a ocupação da estrutura desativada no Taquaral.
"É necessário se iniciar um amplo movimento, envolvendo a
sociedade civil e os poderes públicos de Piracicaba e região, que lute, de modo
permanente, pelo preenchimento desse vazio através da expansão e diversificação
da educação universitária pública em Piracicaba", afirma o manifesto, que
cita três alternativas para alcançar tal objetivo.
São elas: 1) criação e implementação da Universidade Federal de
Piracicaba; 2) expansão e diversificação simultâneas, ainda que gradativas, dos
campi da Esalq-USP, da Unicamp, da Fatec e do Instituto Federal, assumindo
novos cursos e especialidades; e 3) instalação de campus, com cursos diversificados,
de outra universidade pública existente no Estado de São Paulo, seja federal ou
estadual, como são os casos da Universidade Federal de São Carlos, da
Universidade Federal de São Paulo, da Universidade Federal do ABC ou da Unesp.
O manifesto foi lançado com a assinatura de 93 pessoas, entre as
quais o prefeito Luciano Almeida, os ex-prefeitos José Aparecido Borghesi, José
Machado e Barjas Negri, vereadores de Piracicaba e Americana, deputados
estaduais, ex-reitores da Unimep e bispos da Igreja Metodista, instituição à
qual a universidade é vinculada.
O ato na Câmara permitiu que mais pessoas aderissem ao
manifesto, que também pode ser assinado virtualmente, por meio do link http://bit.ly/3SLdpMg. Basta preencher o
cadastro com nome, sobrenome, e-mail e localização. A ideia é de que o
documento fique aberto por 30 dias para receber as assinaturas, para, então, ser
encaminhado a autoridades estaduais e federais.
O plano é, no médio prazo, gerar uma mobilização que se some a
articulações de lideranças locais e regionais junto ao Estado e à União para,
então, pleitear que uma instituição pública de ensino superior seja alocada no
campus Taquaral. O caráter suprapartidário do movimento, reunindo pessoas que
ocupam ou já exerceram cargos políticos, além de professores e dirigentes
sindicais, visa expandir a mobilização em busca de apoios em outras localidades
do país.
"Temos a obrigação de travar essa luta, que é da cidade e
suprapartidária. Vai exigir organização e planejamento e é muito
importante o engajamento da Câmara e dos deputados que a cidade elegeu. Há que
se abrir diálogo com as universidades, com o Ministério da Educação e com a
Secretaria Estadual de Educação. Piracicaba tem densidade política suficiente
para lutar por esse objetivo", assinalou o ex-prefeito José Machado,
que também já foi deputado estadual e federal.
"A Unimep ajudou a estruturar e criou uma atmosfera na
cidade de grandes possibilidades. Foi uma caixa de ressonância importante,
formadora de quadros para empresas e lideranças para a vida pública.
A crise da Unimep deixa um vazio gravíssimo, e esse movimento tem o
objetivo de trazer de volta aquilo que Piracicaba já foi", completou José
Machado, que esteve no ato desta quinta-feira e, como a maioria dos
presentes, acumula anos vividos na Unimep.
Organizado pela vereadora Rai de Almeida (PT), o evento na
Câmara teve a participação dos vereadores Pedro Kawai (PSDB), Josef Borges
(Solidariedade), Silvia Morales (PV) e Thiago Ribeiro
(PSC). Representantes do deputado estadual Alex de Madureira (PL), do
Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba e Região, da Associação dos Docentes
da USP, do Instituto Federal de São Paulo, do Conselho Coordenador das
Entidades Civis de Piracicaba e do Pira 21, entre outras organizações, também
compareceram e manifestaram apoio.
Rai frisou que o movimento precisa ser apartidário.
"Precisamos fazer deste um movimento de muita gente. Ele não pode ficar
personalizado em uma pessoa, sob pena de não ir a lugar nenhum”, advertiu.
Ela informou que esteve pela manhã, com outras pessoas, em reunião com o
prefeito Luciano Almeida, que "se comprometeu a contribuir com o
movimento" e convidou seus representantes a falar dos planos para o campus
Taquaral no encontro que haverá em 30 de março entre os chefes do Executivo das
cidades que integram a Região Metropolitana de Piracicaba.
"Iniciamos esse movimento com um grupo de pessoas e queremos
ampliá-lo, ter musculatura para levar essa reivindicação de Piracicaba de ter
aquele campus para a disseminação dos diferentes saberes. Que não desvirtuemos
aquele espaço para outra atividade. Tivemos há cerca de um mês o trabalho para
chegar ao lançamento desse manifesto e agora demos o segundo
passo", afirmou Rai de Almeida.
"Temos agora um trabalho para fazer. Vamos definir com
quais outras organizações dialogar, sejam universidades públicas ou
organizações civis, inclusive com a própria direção da Unimep, para também
engrossar esse movimento e queremos chegar a Brasília. Não podemos deixar
esse patrimônio ruir, se transformar em shopping center ou especulação
imobiliária. Uma sociedade que não tem universidade não tem desenvolvimento
socioeconômico e cultural", completou.
"É fundamental lutarmos pela manutenção desse território
sagrado da educação. Uma parte do DNA de Piracicaba com certeza é da Unimep.
Temos, como agentes políticos, que unir forças. Esse movimento mostra que
Piracicaba, independentemente de partido, se une quando a causa é
importante", afirmou Pedro Kawai. "Estou me colocando como vereador e
cidadão à disposição para somar nessa luta, que é totalmente apartidária. O
importante é não deixarmos morrer o legado da Unimep", declarou Thiago
Ribeiro.
Silvia Morales disse que seu gabinete está colaborando na
divulgação do manifesto. "Importante este movimento para salvar e não
deixar pelo menos o prédio da Unimep vir abaixo", afirmou. Antes, Pablo
Carajol, do mandato coletivo A Cidade é Sua, lamentou a crise pela qual passa a
instituição de ensino. "Ainda nem sentimos a falta que a Unimep já nos
faz", comentou.
Um dos interlocutores do movimento, o professor Valdemar
Sguissardi lembrou que o campus Taquaral da Unimep chegou a ter 75% dos estudantes
universitários de Piracicaba e desempenhou papel importante como vetor do
crescimento local. O espaço, acrescentou, distinguia a Unimep dos demais
institutos de educação superior no município porque a configurava como
"universidade na plena acepção do termo".
O professor Josué Adam Lazier explicou seu papel como
interlocutor com a mantenedora da Unimep. "O meu papel foi abrir diálogo
com a maior liderança da educação metodista no Brasil hoje, que é a presidente
do conselho de administração, e prontamente ela acolheu esse manifesto, por
entender que seria muito importante para Piracicaba e a mantenedora a
preservação do campus Taquaral para os fins a que foi destinado: de uma
educação para a cidadania e humanista", afirmou, salientando não representar
nem a Unimep nem a mantenedora. "Estou aqui como professor, com
compromisso."
Dois secretários do governo Luciano Almeida estiveram presentes. "Estamos preocupados com a dimensão social do que a Unimep representa, não apenas com o prédio, mas aquilo é um símbolo de que não podemos abrir mão", disse Hermes Balbino, titular da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras. "Esse movimento marca a história de Piracicaba e precisa estar além dos partidos: ser de fato de todas as forças políticas da cidade", acrescentou Bruno Roza, secretário municipal de Educação.
Texto: Câmara Municipal de Piracicaba
Publicação: Enzo Oliveira/ Radialista e Redator RMPTV