Foto: Divulgação/ Vanderlei Zampaulo
Os recorrentes episódios envolvendo manifestações contra o jogador brasileiro Vinícius Junior, do clube Real Madrid, da Espanha, particularmente no domingo, 21 de maio, expõem cruamente o racismo estrutural existente em escala mundial, com grande incidência em países da Europa.
A violência das ofensas proferidas por grande parte dos torcedores do Valência presentes ao estádio Mestalla, na cidade de Valência. A grande repercussão internacional do caso levou a polícia espanhola a deter quatro torcedores, uma medida absolutamente insuficiente diante dos fatos e da extensão do preconceito racial existente em toda a Espanha.
O presidente Lula, na entrevista final que concedeu à imprensa nacional e internacional após o encerramento da reunião do G7 em Hiroshima, no Japão, foi enfático em cobrar medidas não apenas da La Liga, a liga de futebol espanhola, como também do governo da Espanha e de organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas, para pautar o combate ao racismo como um tema fundamental para a humanidade.
O racismo estrutural a que me refiro nesse texto não apenas ofende a nossa consciência, para produz miséria, perseguição, desesperança e também provoca mortes violentas, seja pela repressão policial que atinge preferencialmente jovens negros em nossas periferias, seja pela ocorrência de bárbaras agressões como as que já vimos reiteradamente, por exemplo, em estabelecimentos comerciais por parte de seguranças racistas e despreparados, sob a cobertura das políticas institucionais dessas empresas.
Essa questão é tão séria e tão enraizada que um Senador da República, Magno Malta, integrante da tropa de choque do bolsonarismo no Congresso Nacional, ele mesmo negro, criticou a repercussão do caso de Vini Jr como “vitimismo” e também atacou o jogador e todos os que lutam contra o racismo. Na semana passada, o comediante Leo Lins fez “piada” com a escravidão, provocando indignação. A justiça determinou a retirada do vídeo do Youtube. Ocorre que, após a decisão judicial, o humorista ganhou quase 100 mil novos seguidores no Instagram, uma demonstração inequívoca de apoio de uma parcela de pessoas às suas mensagens preconceituosas. Ele já havia se envolvido em polêmicas relacionadas com os povos originários.
Nós, da APEOESP, temos posição claríssimo posicionamento antirracista e verdadeira militância nessa causa. Nosso sindicato possui o Coletivo Antirracismo Milton Santos e realiza encontros, seminários e campanhas em relação ao tema. Além disso, temos consciência do papel da educação na construção de uma sociedade justa, democrática e antirracista, sem preconceitos e sem discriminações.
Por meio da lei de cotas e de outras iniciativas sociais e governamentais, jovens negros e negras vêm tendo acesso cada vez maior ao ensino superior, onde demonstram toda a sua capacidade de estudo, formando-se, hoje em dia, em profissões nas quais raramente os negros tinham oportunidades para ingressarem e se destacarem.
Da mesma forma, nosso mandato popular na Assembleia Legislativa tem nessa questão um de seus eixos de atuação e venho buscando propor e apoiar iniciativas que vão no sentido de trabalhar essa pauta, para a preservação e avanços dos direitos da população negra, que representam 51% da população brasileira.
Admiro a tenacidade de Vini Jr. que não abaixa a cabeça e enfrenta com altivez e coragem os insultos racistas das hordas fascistas, assim como admiro a tenacidade e a resistência da população negra no Brasil, que a cada momento apresenta novas lideranças dispostas a cobrar medidas não apenas para combater esse tipo de agressão, mas para promover políticas afirmativas.
O Brasil voltou a ter políticas públicas para compensar os crimes de seu passado escravagista e para promover a abertura de novos horizontes. E é nesse caminho que devemos prosseguir.
Artigo assinado por: Professora
Bebel, Presidenta da APEOESP e Deputada estadual.