Foto: Danilo Telles/ Jornalista
RMPTV
Vem aí um possível novo pedido
de impeachment do prefeito Luciano Almeida (PP). Conforme relatório conclusivo
da Comissão de Estudos sobre Orçamentos (2021-2023), a prefeitura tinha cerca
de R$ 3 milhões reservados para combate às enchentes em cada um dos anos e não
aplicou a verba para seu destino. Conforme o documento recém finalizado, “o
descumprimento do orçamento é uma infrações político-administrativas do
prefeito e que é motivo para cassação do mandato do prefeito, conforme prevê o
artigo 134, da Lei Orgânica Municipal, e Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro
de 1967”.
Formada por Laércio Trevisan Jr. (PL/presidente), André Banderia (PSDB/relator)
e Josef Borges (SD/membro) em março deste ano, uma lupa foi colocada para
conferir o processo de investimentos públicos no combate aos alagamentos na
região do Teatro Municipal Dr. Losso Netto, Centro, e na rua Liberato Macedo,
no São Dimas. A comissão checou contratos de serviços, respostas a
requerimentos da vereança e ouviu pessoas lotadas na prefeitura ligadas ao
tema.
A administração municipal tentou se valer de um contrato para serviços de
engenharia com a empresa Prest’mo, fechado em 14 de julho de 2022 por R$ 7,04
milhões. Mas as informações se contradizem. O secretário de Obras, Paulo
Borges, reportou que os estudos encomendados com a empresa subsidiariam as
obras nos dois pontos tradicionais de alagamento na cidade. Entretanto, nada
constava no escopo do trabalho da Prest’mo e, mais à frente, a prefeitura
alegou não poder executar a obra devido sua alta complexidade e custo maior no
entorno do teatro, por onde passa o ribeirão Itapeva.
A alegação da prefeitura, aponta investigação no Legislativo, ausência de tal
projeto, impossibilitando uma avaliação clara sobre sua onerosidade ou custo.
“Detalhes como o valor estimado e os componentes que impactaram na avaliação de
custo não foram compartilhados [pela prefeitura com a Câmara].”
“Dessa forma, torna-se evidente que a prefeitura faltou com a verdade em sua
comunicação oficial à Câmara. Utilizaram a referida Concorrência nº 08/2022
como argumento para falar que existia um projeto, contudo, a documentação
revela que as obras mencionadas não foram contempladas nas transações
realizadas até o momento. Essa discrepância expõe os responsáveis às possíveis
sanções legais cabíveis em afronta ao princípio da moralidade, que pode
constituir ato de improbidade administrativa, visto que o princípio da
moralidade se relaciona com a atuação dos agentes públicos de acordo com
valores como probidade (honestidade administrativa), necessidade de agir,
lealdade, boa-fé e honestidade. (...) concluímos que existem evidências claras
de que o prefeito não cumpriu com o orçamento aprovado sem nenhuma
justificativa prévia”, aponta a comissão parlamentar.
PENALIDADES
A Comissão de Estudos destaca que a Lei do Orçamento age como um guia para as
ações do prefeito. O documento orçamentário (LOA, Lei Orçamentária Anual) atua
como uma espécie de constituição temporária do município. “Nesse sentido, cabe
ressaltar que descumprir o orçamento aprovado para o período financeiro também
constitui uma transgressão político-administrativa, conforme delineado no
inciso VI do art. 4º do DL 201 e no artigo 134, da Lei Orgânica. O
descumprimento do orçamento é uma infrações político-administrativas do
prefeito e que é motivo para cassação do mandato do prefeito.”
Em outro trecho, a análise aponta outra vez um pedido de impeachment. “A
cassação do mandato do prefeito em casos de descumprimento do orçamento não é
somente uma punição, mas também uma salvaguarda para a democracia, garantindo
que os representantes eleitos exerçam sua função com responsabilidade e de
acordo com os princípios que regem a administração pública.”
Após considerar todas as deliberações, a Comissão de Estudos requer que a
Câmara Municipal providencie o encaminhamento de uma cópia integral de todo o
processo, acompanhada deste relatório conclusivo, ao Tribunal de Contas do
Estado para análise adicional. O relatório também será enviado aos órgãos
competentes, como o Ministério Público, e à Mesa Diretora da Câmara, a fim de
que sejam tomadas as medidas adequadas conforme a legislação.
MAGOOU
O membro da Comissão de Estudos,
Josef Borges, líder do governo na Câmara, se recusou a assinar o relatório
conclusivo e apresentou um documento paralelo – a redação não teve acesso a
esta segunda produção da Comissão de Estudos. “O relatório oficial é da
maioria, mas o membro que teve o voto vencido tem o direito de deixar
registrado, no processo e em outro relatório, o seu parecer”, informou a
assessoria de imprensa da Casa de Leis. Segundo o mesmo departamento de
comunicação, “o relatório da Comissão de Estudos será disponibilizado para
todos os vereadores hoje mesmo [segunda, dia 21], no expediente da reunião
ordinária, e o presidente da Câmara analisará esse relatório e fará os
encaminhamentos.” Josef Borges foi questionado sobre o assunto e não respondeu
à reportagem.
Texto assinado por: O Diário Piracicabano