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Tomo emprestada a inscrição do Salmo 90 apara dar título a este artigo. Quando a primeira estrela aparecer no céu ao final da tarde desta sexta, dia 15 de setembro pelo Calendário Gregoriano, o mundo entra em uma nova etapa. Tem sido assim há milênios, mais precisamente há 5784 anos, que é o tempo contado pelos judeus. Começa assim um novo ano no Calendário Judaico, a festa de Rosh Hashanah, a “cabeça do ano”; também chamada de Yom Teruah, o “dia do brado”, ou Yom Há-Zikkaron, o “dia da lembrança”. A simbologia é riquíssima, ainda que no ocidente muitos passem alheios à significação da data.

Os judeus contam o tempo num sofisticado modelo de calendário lunar-solar; com meses de duração variável, o que explica a mobilidade da data em relação ao calendário civil internacional. A própria contagem dos dias já é, por si só, peculiar. Ao passo que no mundo inteiro o novo dia começa e termina à meia noite, à hora zero, no sistema judaico é o pôr-do-sol quem dita as regras. Quando o astro-rei se esconde e surge a primeira estrela no firmamento, finda-se um dia e começa outro. E ao avistar essa estrela na próxima sexta-feira, o shofar, instrumento de sopro, confeccionado com chifre de carneiro, soltará o seu brado, o seu “teruah”. O sonido é um convite para entrarmos em um novo tempo, mas também para fazermos lembrança, “zikkaron”, do que vivemos até aqui. O rito é cheio de detalhes e compõe o mosaico das grandes festas, que culminará após dez dias de profunda reflexão e arrependimento no Yom Kippur, o “dia do perdão”, ou expiação, que é quando o Eterno nos avalia, nos mede, sonda a contrição do nosso coração e nos perdoa para a inscrição no Seu Livro da Vida. Daí deriva a expressão com a qual nos saudamos em Yom Kippur: “Que você seja inscrito no Livro da Vida”.

Ao contrário do que preconizam algumas tradições cristãs, a inscrição no Livro da Vida não é um ato místico único na trajetória de vida de um arrependido; nem é algo que se faça por imposição de mãos ou por uma oração formulada. Na concepção judaica, é ato contínuo de renovação anual, e o Eterno pesa e registra em Seu Livro aqueles que viverão até a virada do próximo ano. O “não ser inscrito”, prerrogativa divina, aponta que o ser não gozará de mais um ano de existência neste plano material, tendo o dia do seu passamento previamente determinado pela onisciência de D’us.

Asseveram alguns que a observação do ano judaico é coisa sem importância; argumentando que a tradição cristã se sobrepõe aos costumes judeus. A despeito do calendário gregoriano reger nossas estações, e prazos, e meses, e contratos; tenho particular afeição pelo método de contagem judaico. É o aniversário de Adão! São 5784 anos bem contados, coisa difícil de se manter em um mundo onde o capital dita o ritmo do tempo e rasga as tradições. Percebem que há panetones natalinos nas gôndolas o ano inteiro; e os ovos pascais começam a ser vendidos antes do Carnaval? Relativismos! O calendário cristão se dobra diante das conveniências (e inconveniências) do mercado; enquanto isso, o calendário judeu sobrevive junto com seu povo. Egípcios, sumérios, assírios, babilônicos, persas, romanos, turcos-otomanos, cruzados, inquisidores, nazistas... Todos lutaram para extinguir Israel, suas tradições e seu calendário; e foram eles que foram extintos. “Am Israel Chai”, que traduzido é “o povo de Israel vive”! Bem-vindo 5784!

Artigo assinado por: Mauricio Ribeiro - jornalista e coordenador da Associação Memorial Amigos de Sião

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