Foto: Divulgação/ Vanderlei Zampaulo

Os acontecimentos da manhã desta segunda-feira, 23 de outubro, na Escola Estadual Sapopemba, na Zona Leste da Capital, onde um estudante matou a tiros uma colega de 15 anos e feriu outros três estudantes com idades entre 16 e 18 anos, e mais um capítulo de um enredo que vem se agravando nos últimos anos.

A APEOESP, sindicato que presidi durante quatro gestões consecutivas eleita pelo voto direto da categoria e do qual atualmente sou a Segunda Presidenta, em gestão compartilhada e coletiva, realizou diversas pesquisas sobre o tema, ouvindo estudantes, professores e familiares.

A última dessas pesquisas, realizada no início de 2023, demonstrou que nada menos que 1,6 milhões de estudantes e 87 mil professores souberam de variados casos de violência dentro de suas escolas. Mostrou também que 1,1 milhão de estudantes e 40 mil professores foram, eles próprios, vítimas de algum tipo de violência em suas escolas.

A pesquisa também apontou que 98% dos estudantes, 96% dos professores e 97% dos familiares dos estudantes requerem do governo mais segurança nas escolas, e que 95% dos estudantes, 91% dos professores e 95% dos familiares destacam ansiedade, esgotamento mental e outros problemas nas escolas, sendo que 89% dos estudantes, 74% dos professores e 89% dos pais reivindicam projetos de acompanhamento de saúde mental nas unidades escolares.

Entretanto, essa situação vem sendo sistematicamente ignorada pelo Governo do Estado, que minimiza o problema e não toma medidas eficazes para reduzir a incidência de casos, por meio da prevenção, do envolvimento da comunidade em iniciativas de conscientização e busca de soluções, na identificação e atuação sobre possiblidades de conflitos, com a prática de bullying, que, de acordo com as pesquisas e com as informações que circulam nos meios de comunicação, pode estar na origem de grande número de casos.

Mais ainda: o Governo do Estado toma medidas no sentido contrário. O governador Tarcísio de Freitas recentemente vetou a contratação de psicólogos para atuarem nas escolas. De nada adianta a contratação de 368 psicólogos, com carga horária reduzida, para darem palestras, numa rede com cerca de 6 mil escolas e esse grave histórico de problemas. Se o governo alega custos para a não contratação, assim como alega custos para não valorizar salarial e profissionalmente professores e funcionários da rede estadual de ensino, por que enviou para a Assembleia Legislativa Projeto de Emenda à Constituição para reduzir de 30% para 25% as verbas para a Educação no Estado de São Paulo?

OS últimos governos estaduais reduziram extremamente e mudaram o caráter do programa de mediação escolar, que foi criando há 13 anos a partir de uma proposta da APEOESP. Há necessidade de pelo menos um professor mediador em cada unidade escolar, assim como a recomposição do quadro de funcionários por meio de concurso público; a redução do número de estudantes por classe, pelo menos para 30 no ensino fundamental I e para 25 no ensino fundamental II e ensino médio. É preciso reformar as escolas, tornando-as locais mais agradáveis para o processo ensino-aprendizagem. É preciso, afinal, acabar com o abandono das nossas escolas, para que possa haver o mínimo controle sobre o que nelas se passa, para que casos hediondos como esse sejam minimizados ao máximo possível e não facilitados, como hoje ocorre.

Não é possível que estudantes, professores, funcionários e seus familiares continuem vivendo a incerteza diário quanto à sua segurança dentro das unidades escolares. Que o Governo realize os concursos necessários para que as escolas tenham número suficiente de funcionários que possam acompanhar em tempo real tudo que nelas ocorre, assim como profissionais multidisciplinares que auxiliem a comunidade a estar permanentemente zelado pela harmonia no ambiente escolar, com Conselhos de Escola democráticos, participativos e deliberativos.

Artigo assinado por: Professora Bebel, deputada estadual pelo PT e segunda presidenta da Apeoesp.

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