Foto: Guilherme Leite
Após acareação e depoimentos de ex-gestores da OSS,
CPI se prepara para participação da família de Jamilly.
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Caso
Jamilly retomou, nesta quarta-feira (8), os depoimentos para apuração da morte
da menina de 5 anos, picada por escorpião, que passou por atendimento na UPA
(Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Cristina, no dia 11 de agosto. Em quase
cinco horas de trabalhos, os vereadores promoveram uma acareação entre duas
técnicas de enfermagem que prestaram atendimento a Jamilly Vitória Duarte, na
UPA, e também tomaram os depoimentos de gestores administrativo e de enfermagem.
Todos os depoentes se recusaram a assinar o termo
de autorização de uso de imagem e dados e, por isso, não terão os nomes citados
nesta reportagem. Outra profissional de saúde da UPA reconvocada pela comissão
apresentou atestado médico e não compareceu. A comissão é composta pelos
vereadores Acácio Godoy (PP), presidente, Gustavo Pompeo (Avante), relator,
Cássio Luiz Barbosa (PL), o Cássio Fala Pira, Pedro Kawai (PSDB) e Paulo
Camolesi (PDT).
Dentre os principais pontos coletados pela CPI
nesta quarta-feira (8), estão informações referentes ao sistema de contratação
de médicos para atuar na UPA. Desde 1º de julho, a unidade é gerenciada pela
OSS (Organização Social de Saúde) Mahtama Gandhi. Esta, por sua vez, contrata
outra empresa para a captação dos médicos, por meio de prestação de serviços
como pessoas jurídicas.
Em depoimento, um profissional da área de gestão
disse que a médica responsável pelo atendimento de Jamilly deveria saber que a
UPA era um ponto estratégico para atendimento de casos de picada de escorpião e
citou que o repasse dessa informação seria uma obrigação do responsável técnico
da parte médica, ou seja, da empresa contratada pela OSS para o fornecimento
dos profissionais. Em depoimento anterior à CPI, a médica disse que não sabia
que havia soro antiescorpiônico na unidade. Jamilly recebeu o antídoto somente
na Santa Casa, para onde foi transferida e onde morreu na manhã seguinte.
“Numa oitiva anterior, foi apontado que a forma de
contratação do médico influencia na qualidade do atendimento. E hoje nós vimos
que realmente a contratação estava a cargo de outra empresa e se o profissional
passava por um processo de ambientação, era muito precário”, avaliou o
presidente da CPI, Acácio Godoy. “O depoimento apontou que às vezes a pessoa
chegava (ao local de trabalho) horas antes, o que pode ter contribuído para as
falhas que estamos colhendo agora. Vamos cruzar depoimentos e documentos. Agora
nós vamos ver no contrato de cessão se isso (contratação de outra empresa pela
OSS) era previsto e legal”.
Treinamento – O profissional da área de gestão disse ainda que os profissionais
da OSS participaram de processo de transição antes de assumir a UPA,
considerada por ele “muito positiva e valorosa”, através do acompanhamento da
rotina, por 15 dias, junto à equipe anterior, da Prefeitura. Salientou ainda
que muitos dos profissionais contratados para atuar na unidade já pertenciam à
rede municipal de saúde e a hospitais particulares da cidade.
Além disso, confirmou que houve um treinamento
sobre casos de escorpionismo pela Vigilância Epidemiológica do município e que
determinou, verbalmente, que as informações fossem repassadas para o restante
da equipe. Ele não soube informar se há alguma comprovação de que esse
treinamento tenha sido repassado, como comunicados internos, e-mails ou ata de
alguma reunião.
Para o profissional da área de enfermagem, a equipe
sabia que a unidade era referência para escorpionismo. Ele disse que “não tinha
como não saber” da existência do soro antiescorpiônico no local, já que a
temperatura da câmara fria onde o insumo fica armazenado é checada quatro vezes
ao dia pela equipe de enfermagem.
Em relação ao treinamento, ele garantiu que as
informações foram repassadas para a equipe através de um grupo em aplicativo de
mensagens, mas que não possui mais os arquivos das conversas. Ele disse que foi
solicitado de forma verbal que repassasse o treinamento para as equipes e que
também fez isso de forma verbal.
“O treinamento foi falho, insuficiente, feito de
maneira informal e não houve acompanhamento se a informação chegou na ponta”,
avaliou o presidente da CPI.
O profissional de enfermagem disse que não
participou do atendimento e que soube do caso de Jamilly porque
coincidentemente estava na Santa Casa na manhã em que ela morreu e ouviu a
informação de um colega de profissão. Na UPA, ele chamou a equipe responsável
pelo atendimento para uma reunião, mas, em função de discordâncias entre eles,
foi necessário coletar as informações de forma individual.
Para ele, houve uma “cascata de erros” no
atendimento, já que a criança não foi encaminhada imediatamente para a Sala de
Emergência, apesar do estado grave. Além disso, não foi acionado ninguém da
equipe médica para tentar um acesso venoso central, diante das dificuldades da
equipe de enfermagem em conseguir o acesso periférico na criança.
O profissional acredita que o treinamento foi
insuficiente, apenas com os 15 dias de transição com a equipe da Prefeitura.
Ele disse que muitos profissionais da OSS não possuíam experiência. Como
exemplo, ele citou que fez uma solicitação de treinamento para uso do
equipamento de ventilação, mas que encontrou empecilhos junto à gestão. Lembrou
do caso de um paciente que precisou ser entubado, mas ninguém sabia operar o
equipamento e que foi necessário recorrer ao youtube para realizar o
procedimento.
Acareação – Já na acareação promovida nesta quarta-feira (8) pela CPI, foram
confrontadas as duas técnicas de enfermagem que prestaram atendimento a Jamilly
na UPA. Elas responderam às dúvidas dos vereadores a respeito de quem atendeu
efetivamente a criança, quem relatou e assinou o prontuário e quem era
responsável pela internação.
“Foi possível esclarecer algumas dúvidas e
determinar quem de fato atuou no atendimento”, disse Acácio Godoy. “Superou-se
uma prova documental através da acareação. E isso é importante para chegarmos a
um cenário real do atendimento”.
Nesta quinta-feira (9), a partir das 8h30, a CPI
coleta os depoimentos dos familiares de Jamilly. Na sexta-feira (10), às 8h30,
será ouvido novamente um enfermeiro da UPA Vila Cristina.
Texto: Câmara Municipal de Piracicaba
Publicação: Enzo Oliveira/ RMPTV