Foto: Guilherme Leite/ Câmara Municipal
Patrícia das Graças Adriana Duarte, mãe da menina Jamilly, avaliou que houve "negligência" no atendimento à criança. Mãe, tio e avô de Jamilly relataram à CPI como foi o atendimento da criança na UPA.
O desconhecimento a respeito da
presença do soro antiescorpiônico na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da
Vila Cristina foi repassado a Patrícia das Graças Adriana Duarte, mãe da menina
Jamilly Vitória Duarte, de 5 anos, que morreu após ter sido picada por um
escorpião e passar pelo primeiro atendimento na unidade, no dia 11 de agosto.
Em depoimento à CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) formada na Câmara Municipal de Piracicaba para
investigar o caso, nesta quinta-feira (9), a mãe da criança disse que a médica
responsável pelo atendimento teria informado que não havia soro na UPA e que
por isso ela seria transferida para a Santa Casa.
A UPA da Vila Cristina é ponto
estratégico para atendimento de casos de picada de escorpião e estava
abastecida com soro, mas a médica alegou à CPI, em depoimento anterior, que não
sabia que havia o insumo no local. Transferida para a Santa Casa, Jamilly
recebeu o soro, mas não resistiu e morreu na manhã seguinte, 12 de agosto.
Patrícia Duarte contou aos
vereadores que estava na casa do pai, no bairro Santa Fé 1, desde a semana
anterior ao acidente porque a casa em que ela morava com Jamilly pegou fogo.
Ela disse que a criança estava brincando com um primo na calçada, por volta das
20h20. A mãe estava no interior da casa, ao telefone com uma cunhada quando
ouviu o grito da filha. Segundo o relato, a menina entrou na casa e disse que
tinha sido picada por alguma coisa no dedo do pé. A mãe disse que logo imaginou
que seria escorpião. O avô da criança então saiu na calçada e conseguiu
encontrar o escorpião próximo ao hidrômetro.
Patrícia Duarte disse que o
irmão, que mora no bairro Santa Fé 2, foi avisado imediatamente, dirigiu-se até
à casa do pai e levou as duas à UPA Vila Cristina, que é o ponto mais próximo.
“Ali foi um momento de terror com a minha filha”, avaliou a mãe. “Eu não sabia
o que fazer, só queria que passassem minha filha na frente, mas me disseram que
eu tinha que aguardar como qualquer outra mãe. Quem estava lá viu o desespero
da minha filha. Jamais imaginei que eu passaria por isso. Foi muita negligência
da parte deles”.
A depoente relatou que Jamilly
gritava de dor, enquanto ela tinha que fazer a ficha para o atendimento. A mãe
disse que saiu sem os documentos da criança e que os dados foram preenchidos de
forma errada. No acolhimento, a menina já começou a vomitar. “Fui para a sala
da médica e ela atendeu com uma calma como se a Jamilly tivesse só com uma
gripe”, colocou.
A criança foi então encaminhada
para a Sala de Observação. Patrícia Duarte disse que se alterou quando a médica
informou que ela estava recebendo soro fisiológico, dramin e dipirona e que
havia acionado o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) para
transferir a criança para a Santa Casa. A mãe questionou o motivo de ela
já não receber o soro antiescorpiônico e, nesse momento, a médica teria dito
que não havia na unidade.
“Eu alterei a voz e ela falou
que não poderia ajudar se eu não me acalmasse”, afirmou. “Se não tinha o soro,
já podiam ter avisado na recepção e a gente podia ir para outro lugar, o carro
estava ali e não teria perdido tanto tempo”.
Patrícia Duarte também comentou
sobre as dificuldades da equipe da UPA para manter o acesso venoso na criança.
Segundo a mãe, assim que chegou, um dos membros da equipe do Samu questionou o
motivo de a criança estar sem acesso, que nesse momento já havia sido perdido e
os enfermeiros da UPA tentavam uma nova punção. “Eles estavam perdidos. Na
minha opinião, quem entra nessa área tem que ter uma noção”, afirmou.
A mãe também relatou como foi o
atendimento na Santa Casa, onde Jamilly chegou por volta das 22 horas e recebeu
o soro antiescorpiônico imediatamente. Ela falou sobre a melhora do quadro, com
o soro, depois a piora, durante a madrugada, e os momentos finais da filha, na
manhã seguinte.
Familiares – A CPI também ouviu, nesta
quinta-feira (9), os depoimentos do tio de Jamilly, Wilson das Graças Adriano
Duarte, e do avô, Geraldo Fernandes Duarte. Eles relataram sobre o momento da
picada, o socorro à Jamilly e a chegada à UPA, por volta das 20h40. O tio
relatou que esperou o atendimento do lado de fora da unidade e que estava em
contato o tempo todo com a mãe da criança pelo telefone. Ao ouvir a reclamação
sobre a demora no atendimento, ele disse que tentou entrar na unidade, mas foi
impedido pelo segurança.
“As falhas, a nosso ver, são
visíveis, mas a mãe relatou a forma como ela foi tratada, a maneira como foi
recebida, como o caso foi trabalhado”, avaliou o advogado da família de
Jamilly, Luciano Alves Lima, que acompanhou os depoimentos junto com o colega
João Mazzi Bruno. “As pessoas trataram como um atendimento comum. Essa visão
foge dos protocolos que nós entendemos como de urgência e emergência. Isso
demonstra, a meu ver, a falta de preparo para uma função tão importante como é
a UPA”.
Para o advogado, os trabalhos da
CPI vão contribuir para que situações como a de Jamilly não se repitam. “Está
sendo um trabalho sério, que está buscando apontar as falhas e corrigir isso
para que os fatos não voltem a ocorrer. Os vereadores estão fazendo um trabalho
de forma ilibada, que acredito que terá um grande ganho para a sociedade de
Piracicaba”, afirmou.
O presidente da CPI, vereador
Acácio Godoy (PP), disse que era necessário, após os depoimentos dos
profissionais que prestaram o atendimento, ouvir agora a versão da família.
“Nós tínhamos a versão de quem prestou o atendimento e faltava fazer esse cruzamento
das versões para testar, a partir do ponto de vista da mãe, como se deu o
atendimento. Hoje a gente conseguiu fechar esse círculo entendendo do ponto de
vista de quem atendeu e agora, de quem foi atendido”, afirmou.
Nesta sexta-feira (10), a partir da 8h30, está previsto o depoimento de um enfermeiro da UPA que prestou atendimento a Jamilly. Ele já apresentou sua versão à CPI em outro momento e agora foi reconvocado para prestar esclarecimentos. A CPI também é composta pelo relator, Gustavo Pompeo (Avante) e pelos membros, Cássio Luiz Barbosa (PL), o Cássio Fala Pira, Pedro Kawai (PSDB) e Paulo Camolesi (PDT).
Publicado por Danilo Telles, Jornalista da Rádio Metropolitana TV