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O vírus pode ficar incubado no organismo desde a primeira infância, sem que a pessoa nunca saiba quando foi contaminada.
Se engana quem pensa
que o herpes respeita barreiras, ficando restrito aos lábios ou à região
genital. Causada pelo vírus do herpes simples (Herpes Simplex Virus, HSV), a
doença também pode se desenvolver em outras partes ainda mais sensíveis do
corpo, como os olhos. Ao serem infectados, pode ocorrer necrose aguda da retina
- quando há um processo infeccioso ou inflamatório que destrói e causa morte do
tecido retiniano (aquela parte do olho que transforma luz em estímulo nervoso e
o envia ao cérebro), levando a pessoa à cegueira.
Especialista em córnea do H.Olhos - Hospital de Olhos e
Professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), Dra. Denise Freitas explica que, em geral, o herpes é adquirido na
infância, por contato direto com vírus. “Por exemplo, alguém que esteja com
herpes labial ativo e beija outra pessoa, acaba se infectando. O vírus pode não
se manifestar clinicamente, mas fica latente (disfarçado) no corpo, por longo
período. Durante esse tempo, e por motivos variados, que incluem alteração da
resposta imunológica de proteção, o vírus latente pode iniciar sua
multiplicação, causando a doença que é considerada uma recorrência e, nos
olhos, o contágio pode aparecer nas pálpebras que, por aproximação, acaba
afetando o olho”.
Doença oportunista
Segundo a médica, a contaminação pelo herpes independe de onde
ele está localizado no corpo, mas como o olho está na região do rosto, o herpes
facial/labial acaba sendo o mais frequentemente relacionado no contágio. Além
disso, embora ninguém esteja imune ao vírus, algumas pessoas estão mais
predispostas à doença, como os pacientes atópicos (alérgicos), principalmente
os mais severos e, também, os pacientes imunodeprimidos. “A identificação da
doença é feita pelo exame clínico oftalmológico. Excepcionalmente, são
necessários exames para confirmar o diagnóstico”, diz a especialista.
É preciso se atentar aos sintomas da doença, pois nem sempre o
herpes simples tem manifestação clínica (quando aparecem os primeiros sinais),
podendo estar presente no organismo desde a primeira infância, sem que a pessoa
nunca saiba quando foi contaminada pelo vírus. Os primeiros sintomas podem
aparecer na forma de vesículas na pele - aquelas pequenas bolhinhas com líquido
em seu interior, em geral, causando muita coceira local.
No olho, as vesículas podem acometer as pálpebras e por
contiguidade (aproximação) a córnea. “A infecção ativa na córnea causa a perda
da sua transparência, sendo algumas vezes necessário realizar um transplante de
córnea, já que a infecção do herpes na retina causa sua necrose com consequente
perda da visão”, comenta a Dra. Denise.
Tratamento possível
Antes de explicar como é feito o tratamento, a Dra. Denise
ressalta que a doença herpética (herpes) é tratável, embora não seja curável.
Isso significa que, uma vez que se contrai o herpes, ele ficará para sempre no
organismo. A dúvida é se o vírus vai ou não causar infecção, e se ela será
recorrente.
“Pelo fato do olho perder sua transparência, nos casos de
córnea, ou cicatrizar irreversivelmente, nos casos de retina, quando há a
contaminação pelo herpes nestes tecidos, o tratamento deve ser agressivo e
iniciado o mais rápido possível. Quanto mais tempo o vírus fica no tecido,
maior a perda da visão”, alerta Dra. Denise.
A córnea pode ser inicialmente tratada com remédio antiviral tópico, aplicado diretamente no olho, na forma de colírios e/ou pomadas. Já nos casos mais graves e agressivos, o tratamento deve ocorrer com antiviral oral. Porém, se houver acometimento da retina, a intervenção deve ser sempre sistêmica, com medicação oral ou até mesmo endovenosa, com internação do paciente, dependendo da gravidade do acometimento.
Texto: Da redação
Publicação: Enzo Oliveira/ RMPTV