Foto: Salve a Boyes
Ideia de Luciano será tema de audiência pública na Câmara.
Uma grande massa verde ao fim da Rua do Porto, às margens do rio Piracicaba, e
o campo de futebol do União Porto, são as ‘próximas vítimas’ do prefeito
Luciano Almeida (PP) – veja imagens abaixo. A derrubada de árvores e a extinção
do equipamento de desporto dará lugar a um estacionamento para veículos e motos
em uma área total de 15.140,15 metros quadrados, abrindo aproximadamente 537
vagas – a metragem é equivalente a 2,12 campos de futebol conforme parâmetros
da Fifa. Estes dados constam do projeto de implantação de duas mãos de direção
na avenida Alidor Pecorari. Conforme a tramitação sob sigilo na prefeitura, o
sistema digital Piracicaba Sem Papel emitiu cinco comunicados ao Codepac
(Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural) entre agosto e fim de novembro
deste ano – a área é tombada pelo município e precisa de autorização do
Conselho de Patrimônio, assim como deverá ter aval do Comdema (Conselho
Municipal de Defesa do Meio Ambiente) por conta da supressão arbórea – conforme
o presidente Marcos Komogawa, nada foi deliberado ainda e a reunião do Conselho
do Meio Ambiente deverá acontecer nas próximas semanas, antes da decisão do
Codepac.
A ideia do prefeito de abrir acesso à área de restaurantes da Rua do Porto pela
avenida Dr. Paulo de Moraes atende à demanda dos comerciantes locais.
Entretanto, conforme o primeiro posicionamento sobre o tema, do fim de
setembro, o Codepac classificou o projeto da Alidor como urbanismo
rodoviarista, o qual coloca os automóveis como centro da intervenção urbana.
Este mesmo documento, de mais de 70 página que a redação teve acesso, ainda
aponta outros problemas perante ao Projeto Beira Rio, tanto sobre a preservação
da natureza como foco no deslocamento do pedestre. Em um trecho, o mesmo
Conselho de Patrimônio coloca em xeque o uso do novo bolsão.
“Parte do estacionamento será construída na porção mais distante dos
restaurantes existentes. Atualmente, já existe um estacionamento no cruzamento
entre as avenidas Doutor Paulo de Moraes e Alidor Pecorari, mas que se encontra
majoritariamente vazio, incluindo aos finais de semana. O que justifica o
tamanho e posição do estacionamento projetado em detrimento da área verde e
espaços públicos e lazer existentes?”
O fato é que os bolsões atuais, antes do término da faixa de restaurantes,
deverão dar lugar à abertura de mais uma mão na via – desta forma, o
estacionamento ficaria centralizado ao fim da avenida. Outro ponto relevante
sobre o estacionamento, apontado pelo escritório de engenharia responsável
pelas plantas, é que a pavimentação da área nova de vagas “não prevê o
dimensionamento dos dispositivos de drenagem para condução das águas pluviais e
subterrânea”. Trocando em miúdos: todos sabem que o fim da Rua do Porto é área
de alagamento do Piracicaba, portanto, não é a melhor opção para oferta de
estacionamento ainda mais sem vazão para as águas de chuva.
Na análise do professor Dirceu Rother Jr., arquiteto e urbanista que participou
do Projeto Beira Rio, o prefeito Luciano é um provocador e está na contramão da
história. “Estamos com ações do atual prefeito que vai na contramão do uso do
nosso sistema viário. Temos que disciplinar corretamente o uso do automóvel,
áreas de estacionamento, e não as ampliar, para que as pessoas possam ir
adquirindo outros costumes de acesso às áreas de lazer, de contemplação”,
comenta o especialista destacando que é preciso incentivar o transporte
coletivo e uso da bicicleta.
Ainda conforme documentos que a redação teve acesso, o Codepac dobrou a
prefeitura, que irá manter a Casa do Artesão recém-reformada e usará piso
permeável no almejado estacionamento. As últimas movimentações do Conselho de
Patrimônio disponibilizadas dão conta de outras queixas quanto ao projeto: não
parece valorizar as conexões de pedestres e ciclistas entre o Parque da Área de
Lazer do Trabalhador com o novo estacionamento; pede levantamento existente
(locação da arborização, Parque da Área de Lazer, garagem de barcos, campo de
futebol) e uma planta de “a demolir” e “a construir” para tornar o entendimento
da proposta mais claro; e, caso mantenha-se a demolição da Garagem de Barcos, é
necessário que se apresente o projeto executivo com seu novo local, e que sua
execução seja licitada paralelamente a execução da duplicação/alargamento.
A remodelação da Alidor Pecorari será tema de audiência pública na Câmara de
Vereadores no próximo dia 19, às 14h. A autora do requerimento, vereadora
Silvia Morales, pontua, entre várias colocações, que o União Porto existe desde
1927 e o campo é utilizado pela Associação Esporte Futuro há sete anos em
programa para esporte de base e que atende mais de 100 crianças e jovens entre
nove e 17 anos. Edilson Conceição do Amaral, presidente do União e conhecido
por professor Testa, assevera que a entidade é classificada como de Utilidade
Pública e destaca grandes momentos históricos, como a passagem de Mazzola,
campeão da Copa de 58 com Pelé, Elias dos Bonecos e Wilson Rensi. “Se a
entidade é quase centenária, imagine o campo. Querem acabar com a história e
cultura do lugar. O projeto não foi apresentado à entidade e muito menos aos
moradores da Rua do Porto.” Assine a petição pública contra o projeto na
Rua do Porto aqui.
Texto: O Diário Piracicabano
Publicação: Enzo Oliveira/
RMPTV