Foto: Cãmara Municipal de
Piracicaba
Não houve montagem ou edição da foto do rosto de uma mulher com vários
hematomas atribuída à esposa do vereador Fabricio Polezi (sem partido). A
informação está no laudo com data desta quarta-feira, dia 14, emitido pelo
Instituto de Criminalística do núcleo de Americana da Superintendência da
Polícia Técnico-Científica da Secretaria de Segurança Pública do Governo do
Estado de SP. A investigação começou no primeiro semestre de 2022 sobre
possível caso de violência doméstica cometido pelo parlamentar de extrema-direita,
até então do Patriota (PAT), contra sua esposa Tatiana Caetano, com quem é
casado há mais de 20 anos. O mesmo laudo também analisou se o rosto combinava
com o de Tatiana e concluiu que “os resultados dos exames suportam
moderadamente a hipótese de as faces padrão e questionada, presentes nas
imagens examinadas, pertencerem ao mesmo indivíduo”.
A Polícia Técnico-Científica analisou duas fotos: uma primeira de uma mulher
com o olho esquerdo totalmente roxo e o direto com escoriações, além do queixo
e testa machucados; e uma segunda retirada das redes sociais da família onde
Tatiana está maquiada. Sobre a primeira, o laudo analisou se a foto foi montada
e/ou editada a partir de resultados obtidos via ferramentas Forensically e
Fotoforensics: o Error Level Analysis apontou constância em toda sua
distribuição em relação às cores, o gradiente de luminescência (luz) mostrou
inexistência de anomalia para o arquivo e o Hidden Pixels – que busca por
pontos ocultos e fora do padrão do resto da imagem a fim de identificar uso de
aplicativo – mostrou dados sem indicação de alterações. Em resumo, a foto era
original.
Já a análise de comparação facial foi relativamente prejudicada porque a foto
autenticamente de Tatiana, “esconde expressões faciais importantes para a
realização do exame [por conta da maquiagem], não atendendo a requisitos
desejáveis”, mas “considerando o conjunto de convergências e divergências nas
características faciais encontradas [...] pertencem ao mesmo indivíduo”. Quanto
ao arquivo atribuído como a voz de Tatiana se queixando da agressão (veja
transcrição da fala abaixo) não foi possível inspecionar porque a perícia não
tinha à disposição um áudio padrão com a voz da mulher.
A redação contatou o gabinete do vereador Polezi; a Mesa Diretora por meio de
seus presidente e vice, Wagnão Oliveira (CID) e pastor Rerlinho (PSDB),
respectivamente; a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara de
Vereadores de Piracicaba nas pessoas do pastor Rerlinho (PSDB/presidente),
Gustavo Pompeo (AVA/relator) e Alessandra Bellucci (REP/membra); e a
Comunicação Social do Legislativo. Nenhum deles deu qualquer retorno ou
apresentou quaisquer manifestações.
PEN DRIVE
Todos os arquivos – fotos, áudio e print de tela de conversa no WhatsApp –
foram encaminhados à polícia pelo advogado e jornalista José Osmir Bertazzoni –
ele próprio teve aberto pela Justiça um processo de averiguação para apurar
possibilidade de crimes de injúria e difamação contra o casal Polezi; este
processo caiu por terra porque o prazo para abrir queixa caducou e o
procedimento de Bertazzoni seguiu o rito do Código de Processo Penal. E é este
material alvo da perícia que gerou o laudo desta semana – o criador dos
arquivos foi rastreado e tem o sobrenome Negri. Por conta da existência deste
material, o Ministério Público (MP), por meio do promotor de Justiça José
Eduardo de Souza Pimentel, em outubro de 2023, mandou reabrir o caso encerrado
anteriormente pela 4º Delegacia de Polícia.
“A meu ver, entretanto, descartou-se muito precocemente a hipótese de ter
havido crime contra a mulher. Conhecendo-se o ciclo da violência, não é incomum
que a vítima perdoe seu agressor ou até se sinta culpada pela ocorrência,
quando inserida num relacionamento abusivo”, destacou o promotor que fez com
que a polícia científica fosse acionada no fim de 2023. É possível que as
investigações continuem e a decisão final ainda demore se forem requisitadas
novas perícias com fotos de Tatiane sem maquiagem e um áudio comparativo para
checar a veracidade do arquivo de voz. O crime de violência contra a mulher é
de ação penal pública incondicionada à representação, portanto, neste caso, o
MP é o titular da ação – ou seja, não depende de Tatiana fazer a denúncia.
Na época, primeiro semestre de 2022, o casal Polezi rotulou o caso como fake
news em depoimento à polícia. Também neste último dia 14, uma pessoa que teria
dado suporte à Tatiana no momento da possível agressão negou à polícia ter
presenciado qualquer ato de violência por parte do parlamentar. Abaixo, segue a
transcrição do áudio atribuído à Tatiana, arquivo do pen drive.
“Eu vou ver se peço a separação porque é a segunda vez que ele faz isso. Eu não
posso ficar quieta. Eu só não vou dar parte porque não quero destruir a
carreira dele porque, por mim, eu teria até chamado a viatura para ele. Mas,
como eu sei que ia acabar com a carreira dele, pensei nisso. Mas eu quero a
separação. Com ele, não vou ficar mais. Não sou mulher de bandido para ficar
apanhando desse jeito”, disse Tatiana com voz embargada de choro.
Texto: O Diário Piracicabano
Publicação: Enzo Oliveira/ MTV