Foto: Revista Crescer

Especialistas destacam que a queda da vacinação está por trás desse cenário preocupante.

O sarampo pode trazer graves consequências para a saúde infantil e, inclusive, até mesmo levar à morte. Por isso, manter a vacinação das crianças em dia é fundamental. No entanto, estamos vivendo um momento de queda da imunização, o que vem preocupando os especialistas, já que baixas coberturas vacinais podem tornar o cenário propício para o aumento da propagação do vírus. Nesta terça-feira (20), a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou que mais da metade dos países do mundo enfrentam um risco elevado ou muito elevado de surtos da doença até o final do ano, informou o Daily Mail.

Para os especialistas, a crise foi desencadeada, principalmente, devido às interrupções nos programas de saúde e queda da vacinação das crianças, ocasionada pelo aumento do discurso antivacina. "O que nos preocupa é que neste ano, de 2024, temos grandes lacunas em nossos programas de imunização e, se não as preenchermos rapidamente com a vacina, o sarampo simplesmente aproveitará essa brecha”, destacou Natasha Crowcroft, consultora técnica sênior da OMS em entrevista coletiva em Genebra, na Suíça. "Podemos ver, a partir dos dados da OMS divulgados pelo CDC [Centros de Controles e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos], que mais da metade de todos os países do mundo estarão em alto ou muito alto risco de surtos até o final deste ano”, acrescentou.

Surtos ao redor do mundo

Segundo a consultora técnica, as taxas de mortalidade são mais elevadas em países de baixa renda, devido à falta de estrutura nos sistemas públicos de saúde. No entanto, o risco da doença também atinge países de rendimento médio e alto. "Tivemos muitos surtos de sarampo em todo o mundo e os países de rendimento médio sofreram muito. E estamos preocupados que 2024 se pareça com 2019”, alertou Natasha.

Dados da OMS mostram que, em 2023, houve um aumento de 79% no número de casos de sarampo, em relação ao ano anterior - o que pode ser apenas uma fração do total de casos globais, devido à falta de testes em alguns países. Quanto aos anos de pandemia, segundo a OMS e o CDC, os casos estimados de sarampo aumentaram 18% (de 7,8 milhões, em 2021, para 9,2 milhões, em 2022). Já as mortes ocasionadas pelo vírus aumentaram 43% entre 2021 e 2022.

Os surtos ocorreram em todas as regiões da OMS, com exceção das Américas. No mês passado, a Geórgia, nos Estados Unidos, confirmou seu primeiro paciente infectado em quase quatro anos, juntando-se a outros 10 estados que relataram casos em 2024: Arizona, Califórnia, Maryland, Minnesota, Missouri, Nova Jersey, Nova York, Ohio, Pensilvânia e Virgínia.

No total, os Estados Unidos notificaram 20 casos este ano e 41 no ano passado. Além disso, há indicações de que as taxas de vacinação entre crianças – a população com maior risco da doença – atingiram patamares mínimos. Em todo o país, quase 4% dos alunos que entraram no jardim de infância em 2023 não foram vacinadas com a tríplice viral, que protege contra o sarampo, caxumba e rubéola, sendo a taxa mais baixa desde o ano letivo de 2013-14.

No Reino Unido, os casos de sarampo atingiram os níveis mais elevados em mais de uma década. Os dados mais recentes da Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido (UKHSA) revelaram que 118 pessoas contraíram o vírus na Inglaterra na primeira semana de fevereiro – metade do número de todo o mês de janeiro. O número total de casos confirmados atualmente é de 465 – superior ao último grande surto em 2013.

Vacina contra o sarampo

A vacina contra essa doença é composta de vírus atenuados e é administrada por via subcutânea. No SUS, a criança recebe a primeira dose com 1 ano, junto com imunizantes contra caxumba e rubéola, combinados na vacina tríplice viral. A segunda dose é realizada aos 15 meses, desta vez, além da caxumba e rubéola, é administrada também, na mesma injeção, a vacina contra a varicela (catapora), a tetra viral. Em clínicas particulares, as duas doses são da tetra viral.

Na carteira de vacinação de quem tem entre 15 meses e 29 anos devem constar duas doses da vacina e, para quem tem entre 30 e 59 anos, uma dose. Quem não as recebeu deve ir a um posto de saúde completar o quadro vacinal. Vale lembrar que em situação de risco para o sarampo, a primeira dose pode ser aplicada a partir dos 6 meses. Neste caso, a dose é chamada de "zero" e não conta para o esquema vacinal.

Histórico do sarampo no Brasil

Depois de ter recebido a certificação de país livre do sarampo pela Organização Pan-americana de Saúde (Opas), em 2016, o Brasil passou a registrar novos casos da doença. O país chegou a acumular mais de 40 mil casos de sarampo a partir de 2017, devido a surtos regionais, perdendo a certificação em 2019. Até 2022, havia quatro estados endêmicos: Amapá, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo, mas desde junho de 2022 não há registros de novas ocorrências.

Em novembro, o Brasil conquistou um novo status em relação à eliminação do sarampo. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) classificou o país como pendente de verificação para sarampo, indicando que a transmissão endêmica do vírus foi interrompida. No entanto, os dados ainda não foram suficientes para recertificar o país como livre da doença, mas o Brasil já está submetendo seus indicadores para a OPAS e os especialistas estão confiantes na reverificação da certificação em breve.

Transmissão do sarampo

O sarampo é altamente transmissível e se propaga no ar por meio de gotículas expelidas por pessoas infectadas ao tossir, espirrar ou falar. O vírus não morre imediatamente ao deixar o organismo e é capaz de permanecer no ar ou em alguma superfície por um tempo, o que possibilita a transmissão da doença mesmo quando não há contato direto entre os indivíduos.

Além disso, o vírus tem uma janela relativamente longa de transmissão. Uma pessoa infectada começa a transmitir a doença entre quatro e cinco dias antes do início dos sintomas e para de transmitir, em média, entre quatro e cinco dias depois do aparecimento das manchas no corpo. Estima-se que uma pessoa com sarampo passe o vírus para outras 16 em populações não vacinadas.

Os principais sintomas são:

•       Febre acompanhada de tosse

•       Irritação nos olhos

•       Nariz escorrendo ou entupido

•       Mal-estar intenso

•       Manchas vermelhas pelo corpo

 

Texto: Revista Crescer

Publicação: Enzo Oliveira/ MTV

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