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Somente este ano, o novo
coronavírus matou 1.127 brasileiros. Novas variantes e carnaval são fatores
preocupantes.
Com a volta às aulas e o fim
do carnaval, junto com a explosão dos casos de dengue, o país deve enfrentar
uma nova onda de crescimento nos registros de covid-19. Enquanto especialistas
reconhecem a gravidade da doença, governantes locais tentam dispensar a
exigência da vacinação na matrícula escolar.
Dados divulgados pelo Conselho
Nacional de Secretários de Saúde (Conass), na última quinta-feira, apontam uma
curva ascendente da covid-19. Segundo o levantamento, o país registrou 187 mil
casos nas seis primeiras semanas epidemiológicas. E há 1.127 óbitos
confirmados. Para efeitos de comparação, o Brasil acumula 555 mil casos de
dengue, com 94 mortes confirmadas, segundo o Ministério da Saúde.
"A gente percebe um
aumento, não muito grande de casos, mas que temos que acompanhar. A covid,
diferentemente da dengue, se converte em muito mais internações e mortes. O
impacto do carnaval, a gente vai verificar em uma ou duas semanas, vamos ver se
vai ser importante na aceleração do número de casos. A aceleração já estava
acontecendo antes, mas é importante dizer que o carnaval tem uma vantagem,
pois, apesar de ter aglomerações, é uma festa de rua. Ocorre em locais abertos,
isso reduz a transmissão da doença", avalia o presidente do Conass, o
secretário da Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti.
Baccheretti reconhece que as
novas variantes da ômicron são mais contagiosas, mas aponta que a vacinação vem
ajudando no bloqueio de uma nova onda como as que aconteceram na pandemia.
"A transmissão está bem bloqueada pela vacina e pela imunidade da própria
doença, seguimos acompanhando, mas ainda não há sinais de que teremos uma
sobrecarga do sistema de saúde", disse.
O virologista e professor da
Universidade de Brasília (UnB) Bergmann Morais Ribeiro é menos otimista quanto
ao impacto do carnaval. Ele aponta que é fundamental vencer a resistência à
vacinação. "No carnaval, como tem um acúmulo de pessoas na rua, a
tendência é de que haja um aumento na transmissão tanto da covid quanto da
dengue. A covid está matando mais do que a dengue porque muita gente ainda não
se vacinou", aponta.
Para o sanitarista e também
professor da UnB Jonas Brant, a volta às aulas deve reforçar o contágio da
covid. "A covid nunca deixou de ser uma ameaça para a saúde pública. No
Brasil, continuam morrendo cerca de 200 pessoas por semana pela covid, e vem
subindo o número de casos desde o início do ano e agora, com o efeito do
carnaval e o retorno das aulas no sistema escolar, é provável que a gente ainda
veja nas próximas semanas um aumento um pouco maior", ressaltou.
Os especialistas apontam que o
número de casos de covid ainda deve ser bem maior do que o registrado nas
estatísticas governamentais. Isso porque muitos pacientes recorrem a autotestes
e, sem complicações, permanecem em casa sem comunicar o diagnóstico.
Com a mortalidade se
concentrando mais entre os idosos e pessoas com comorbidades, é entre as
crianças não vacinadas que se encontra uma das maiores taxas de hospitalização,
aponta o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Renato
Kfouri.
"(A covid) Continua sendo
um problema de saúde pública, mil mortes por mês, 800 mortes por mês. Nenhuma
doença infecciosa faz tantas vítimas como a covid-19. É um avião por semana
caindo", diz Kfouri.
A médica infectologista e
professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luciana Costa
também demonstrou preocupação com a vacinação das crianças. "A vacinação
de crianças ainda está muito baixa, menos de 10% das crianças até 4 anos de idade
completaram o esquema vacinal. Todos devem procurar os postos de saúde e
verificar se o esquema vacinal está completo", disse a médica.
Este ano, o sistema vacinal contra a covid-19 está centrado em crianças de seis meses a cinco anos, grupos prioritários, como portadores de doenças específicas e pessoas que não completaram o esquema de vacinação básico de duas doses e o reforço da bivalente.
Texto: Correio Braziliense
Publicação: Enzo Oliveira/ MTV