Foto: Assessoria Parlamentar
Artigo
de: Professora Bebel - deputada estadual pelo PT, Procuradora Especial da
Mulher na ALESP e segunda presidenta da APEOESP
É inegável que a luta das
mulheres vem produzindo conquistas e avanços ao longo dos anos, no Brasil e
também no estado de Paulo. Cada novo espaço conquistado, cada direito
assegurado, cada mulher eleita para o parlamento ou para comandar o poder
executivo em nome das causas das mulheres significa mais possibilidades de
ampliação dessas conquistas.
Entretanto, há muito ainda a
caminhar, porque a resistência machista e misógina contra esses avanços é muito
forte e enraizada na sociedade brasileira e paulista. Nesta semana, por
exemplo, fomos surpreendidos pela divulgação de ameaças de morte, tortura e
outras violências contra a vereadora piracicabana Rai de Almeida, do Partido
dos Trabalhadores. Nos últimos dias, eu própria tenho sido atacada nas redes
sociais e em portais da extrema direita, que reproduzem calúnias produzidas por
deputado bolsonarista da Assembleia Legislativa, contra o qual já ingressei com
representação no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da ALESP e estou
tomando outras providências legais.
Lamentavelmente, essa é a
realidade de nós, mulheres, que ocupamos posições de destaque na sociedade ou
postos de comando em instituições, sindicatos, movimentos, empresas e no poder
público. Somos vítimas de misoginia e de ataques que visam enfraquecer e
desacreditar nossa atuação. Se não podem nos derrotar politicamente, nos
ameaçam, inventam fakenews a nosso respeito, tentam colocar em dúvida nossa
competência, nossos compromissos e nossa própria trajetória.
Neste Dia Internacional de
Luta das Mulheres, ocupamos as ruas, as praças, todos os espaços possíveis para
gritar alto e bom som nossas reivindicações e para afirmar claramente nossos
direitos e nosso lugar na sociedade brasileira, na qual, aliás, somos maioria.
Como professora, segunda presidenta do maior sindicato da América Latina,
formado majoritariamente por 84% de mulheres no seu quadro associativo, e
também como procuradora especial da Mulher na ALESP, tenho ainda mais motivos
para exaltar esse dia de luta e afirmar a necessidade de continuarmos
avançando.
Não posso deixar de reconhecer
que o governo Lula mudou a atenção e olhar do poder central para as mulheres. A
reimplantação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da
República, com status de ministério, não apenas demonstra essa mudança, como
efetivamente são produzidas novas políticas para que possamos caminhar no
sentido da superação das desigualdades existentes entre homens e mulheres, do
preconceito, da misoginia, do combate à violência contra a mulher, sobretudo no
que se refere à mulher negra e periférica.
A misoginia é a expressão do
ódio que algumas pessoas desenvolvem contra mulheres, pelo simples fato de
serem mulheres, mas que pode ser ainda mais aguçado contra mulheres que se
destacam na sociedade. A misógina, o machismo, o preconceito, a discriminação e
a violência contra as mulheres não podem, em hipótese alguma, ser naturalizado.
Deve, sim, ser combatido. E a escola tem um papel fundamental neste processo.
Lamento que no Governo do Estado de São Paulo essa temática não seja levada a sério,
muitas vezes tida como simples “mi-mi-mi” ou resultado de inexistente
“ideologia de gênero”.
Na escola podemos trabalhar com nossos estudantes, meninos e meninas, moças e rapazes, a desconstrução de preconceitos arraigados, muitas vezes transmitidos às novas gerações no seio da família e no meio social de onde esses estudantes provêm. Respeito e empatia também se ensinam na escola. Sobretudo, é preciso despertar nos nossos estudantes a consciência de que a misoginia mata! Em 2023, 221 mulheres foram vítimas de feminicídio no estado de São Paulo, contra 195 em 2022. O que faz o governador Tarcísio de Freitas diante disso? Congelou a verba do combate à violência contra as mulheres.
Neste Dia Internacional de
Luta das Mulheres é preciso afirmar a solidariedade e a união entre as mulheres
para continuarmos superando dificuldades, vencendo desafios e avançando para
uma sociedade mais humana, justa, equitativa, com igualdade de gênero.