Na
cidadezinha de São Engano, onde até as fofoqueiras se aposentaram por falta de
novidades, surgiu Kelmito, um padre de araque que parecia ter saído direto de
uma festa junina. O homem, mais falso que nota de 3 reais, adorava tumultuar.
Kelmito tinha o dom de pregar a discórdia.
Era só chegar na missa que, em vez de pregar a
paz, ele incendiava os ânimos. Falava mal da receita do bolo da Dona Gertrudes,
criticava o jeito de cantar do coral e ainda dizia que o time de futebol da
paróquia era uma vergonha. Tudo isso, claro, para se promover como o grande
pacificador quando o caos tomava conta. Um verdadeiro santo salvador... só que
não.
Ele criava problemas até onde não existia. Um
verdadeiro mestre em distorcer verdades. Se a Dona Matilde estava com dor de
cabeça, Kelmito logo espalhava que era possessão demoníaca e, claro, ele se
oferecia para exorcizar – mediante uma "doação voluntária", é claro.
Sua maior alegria era ver a polarização florescer.
Quanto mais gente brigando, mais ele ria por
dentro. Sabia que no meio da confusão, ele sempre brilharia como a solução
milagrosa. E quem ousasse questionar sua santidade recebia um sermão tão
distorcido que até os santos no céu ficavam confusos.
E assim seguia Kelmito, o falso padre que fazia da
discórdia sua missa e do tumulto sua prece. Porque, no fundo, a maior diversão
dele era ver o circo pegar fogo... e ele, claro, no centro do picadeiro.
-Lírico Monteiro