Foto: EPA
A rajada de balas que deixou o
ex-presidente Donald Trump ferido em um comício na Pensilvânia na noite de
sábado (13/7) também matou um participante do evento e deixou outros dois em
estado crítico.
Os tiros também abalaram a
campanha presidencial de 2024, com reflexos profundos no tecido social e
cultural do país.
A ilusão de segurança que
permeava a política americana, construída ao longo de décadas, foi
dramaticamente destruída.
Trump sofreu apenas ferimentos
leves, mas esteve perto de ser assassinado. Uma fotografia de Doug Mills, do
jornal The New York Times, parece mostrar o rastro de uma bala cortando o ar
perto da cabeça do ex-presidente.
Desde que Ronald Reagan foi
baleado por John Hinkley Jr, em 1981, não houve um ato tão dramático de
violência dirigido contra um presidente ou candidato presidencial.
Este novo episódio remonta a
um período sombrio da história dos Estados Unidos, há mais de meio século,
quando dois irmãos Kennedy – um presidente e outro candidato presidencial –
foram atingidos por tiros.
Líderes dos direitos civis,
como Medgar Evers, Martin Luther King Jr e Malcolm X também perderam a vida em
meio à violência política.
Tal como hoje, a década de
1960 foi marcada por intensa polarização política, quando uma arma de fogo e um
indivíduo disposto a usá-la podiam mudar o curso da história.
É difícil prever o impacto que
os acontecimentos de sábado terão nos Estados Unidos e no seu discurso
político. Já houve apelos bipartidários para que retórica em torno da campanha
arrefeça e por unidade nacional.
Poucas horas depois do
atentado, o presidente Joe Biden – provável oponente de Trump em novembro –
apareceu diante das câmeras em Delaware para fazer uma declaração à imprensa.
“Não há lugar na América para
este tipo de violência. Está doentio”, disse ele. “Não podemos ser assim. Não
podemos tolerar isso.”
Mais tarde, Biden conversou
por telefone com Trump. Ele também encurtou seu fim de semana na praia,
retornando à Casa Branca ainda na noite de sábado.
Mas a violência também se
infiltrou rapidamente nas trincheiras da guerra partidária que caracterizou a
política americana nas últimas décadas.
Alguns políticos republicanos
atribuíram a culpa pelo ataque aos democratas, por sua retórica contra o
ex-presidente por Trump representar, sob seu ponto de vista, uma ameaça para a
democracia americana.
“A premissa central da
campanha de Biden é que o presidente Donald Trump é um fascista autoritário que
deve ser detido a todo custo”, postou nas redes sociais o senador de Ohio JD
Vance, que supostamente está na lista de possíveis candidatos a vice-presidente
de Trump.
“Essa retórica levou
diretamente à tentativa de assassinato do presidente Trump.”
Chris LaCivita, gestor da
campanha de Trump, disse que “ativistas de esquerda, doadores democratas e até
mesmo Joe Biden” precisam ser responsabilizados nas urnas em novembro pelos “comentários
repugnantes” que, na sua opinião, levaram ao ataque de sábado.
Os democratas podem fazer
objeções a isso, mas muitos na esquerda usaram argumentos semelhantes para
apontar a culpa da retórica empregada pela direita nos meses anteriores ao
atentado contra a parlamentar democrata Gabby Giffords, em 2011, no Arizona.
A violência na Pensilvânia sem
dúvida lançará uma longa sombra sobre a convenção nacional republicana, que
começa na segunda-feira (15/7).
Os protocolos de segurança
serão reforçados, e os protestos – e manifestações em sentido oposto – perto do
local deverão ser acompanhados por um sentimento de mau presságio.
Enquanto isso, um holofote
ainda mais brilhante estará sobre Trump quando ele subir ao palco da convenção
na noite de quinta-feira (18/7) para aceitar sua indicação como candidato
republicano.
Imagens do ex-presidente,
ensanguentado e com o punho erguido, certamente se tornarão um mecanismo de
mobilização.
O Partido Republicano já
planejava fazer da força e da masculinidade um tema central da campanha de
Trump. O atentado de sábado deverá impulsionar ainda mais esta estratégia.
“Este é o guerreiro que a
América precisa!”, escreveu Eric Trump, filho do ex-presidente, nas redes
sociais, acompanhado de uma fotografia de seu pai após o tiroteio.
O Serviço Secreto dos Estados
Unidos também enfrentará um intenso escrutínio pela forma como lidou com a
segurança no comício de Trump.
Um indivíduo com um fuzil
conseguiu ter ao seu alcance um candidato presidencial.
O presidente da Câmara dos
Representantes, o republicano Mike Johnson, prometeu um inquérito completo
sobre o ocorrido. Essas investigações levarão tempo.
Mas, por enquanto, uma coisa é
certa: em um ano em que o país cruza águas eleitorais desconhecidas, a política
dos Estados Unidos tomou um novo rumo mortal.
Texto: BBC News Brasil
Publicação: Enzo Oliveira/ MTV