Foto: Governo Federal
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, foi
exonerado do cargo após a divulgação de que ONG Me Too Brasil recebeu denúncias
de assédio sexual contra ele.
Após reunião com Silvio Almeida, no Palácio do Planalto, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a situação dele é insustentável
e o tirou do cargo.
"O presidente considera insustentável a manutenção do
ministro no cargo considerando a natureza das acusações de assédio
sexual", afirmou nota da Presidência.
A existência das denúncias foi divulgada na quinta-feira
(5) pelo portal "Metrópoles" e confirmada em nota pública pela ONG,
que combate a violência sexual.
Segundo o portal, os episódios teriam ocorrido no ano
passado e uma das vítimas foi a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Silvio Almeida nega as acusações. A divulgação do caso provocou uma crise no
governo.
Segundo a jornalista Daniela Lima, da GloboNews,
integrantes da equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sabiam desde
o ano passado de relatos de suposta conduta de assédio por parte de Almeida.
Em nota na noite de quinta, o Palácio do Planalto informou
que a Comissão de Ética da Presidência da República abriu um procedimento de
apuração sobre o caso. Na manhã desta sexta, membros da comissão se reuniram
para tratar do caso.
Após a reunião, ficou decidido, de forma unânime, que
Almeida tem 10 dias para apresentar defesa.
A Comissão de Ética Pública tem, entre outras atribuições,
a função de fiscalizar o cumprimento do Código de Conduta da Alta
Administração.
Almeida também foi chamado para "prestar
esclarecimentos ao controlador-geral da União, Vinícius Carvalho, e ao
advogado-geral da União, Jorge Messias, por conta das denúncias publicadas pela
imprensa contra ele".
A Polícia Federal também informou que vai abrir inquérito
ainda nesta sexta para apurar o caso.
De acordo com a colunista do g1 Andréia Sadi, a PF deve
ouvir Silvio Almeida na condição de suposto autor e Anielle na condição de
vítima.
Almeida nega as denúncias
Após a divulgação do caso pela imprensa, Silvio Almeida
chamou as denúncias de mentiras sem provas.
"Repudio com absoluta veemência as mentiras que estão
sendo assacadas contra mim. Repudio tais acusações com a força do amor e do
respeito que tenho pela minha esposa e pela minha amada filha de 1 ano de
idade, em meio à luta que travo, diariamente, em favor dos direitos humanos e
da cidadania neste país", afirmou.
Nesta sexta, Silvio enviou à Justiça um pedido de
interpelação judicial contra a Me Too Brasil – em que pede para a organização
detalhar as denúncias e dizer qual encaminhamento deu às informações.
Declaração de Lula
Na manhã desta sexta, Lula falou pela primeira vez sobre as
denúncias contra seu ministro, quando afirmou que "alguém que pratica
assédio não vai ficar no governo".
Lula ressaltou que o governo apuraria o caso corretamente,
mas que, antes de tudo, permitiria que o ministro se defendesse.
"O que eu posso antecipar para você é o seguinte:
alguém que pratica assédio não vai ficar no governo. Eu só tenho que ter o bom
senso de que é preciso que a gente permita o direito à defesa, a presunção de
inocência, ele tem o direito de se defender", disse Lula à Rádio Difusora,
de Goiânia (GO).
O presidente disse, ainda, que o governo vai colocar a
Polícia Federal, o Ministério Público e a Comissão de Ética Pública para
investigar.
"Eu estou numa briga danada contra a violência contra
as mulheres, o meu governo tem uma prioridade em fazer com que as mulheres se
transformem numa parte importante da política nacional. Então, eu não posso
permitir que tenha assédio", afirmou.
Lula disse, ainda, que não vai permitir que um "erro
pessoal" ou um "equívoco" de alguém prejudique o governo.
"Nós queremos paz e tranquilidade, e assédio não pode
coexistir com a democracia, com o respeito aos direitos humanos. E sobretudo,
com o respeito aos subordinados", disse.
Quem é Silvio Almeida
Professor universitário, filósofo e advogado, Silvio
Almeida estava à frente do Ministério dos Direitos Humanos desde o começo do
terceiro mandato de Lula, em janeiro de 2023.
Considerado um dos maiores especialistas em questão racial
no país, o jurista fez parte do grupo técnico de direitos humanos durante a
transição de governo.
Almeida tem 48 anos, nasceu em São Paulo, é bacharel em
direito pelo Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutor e pós-doutorado em
direito pela Universidade de São Paulo (USP), onde também se graduou em
Filosofia.
Almeida também presidiu o Instituto Luiz Gama, uma
associação civil sem fins lucrativos formada por acadêmicos, juristas e
militantes de movimentos sociais que atua na defesa das causas populares, com
ênfase nas questões sobre negros, minorias e direitos humanos.
Ele também lecionou na Escola de Administração de Empresas
de São Paulo (FGV-EAESP) e na Escola de Direito de São Paulo da FGV. O
ex-ministro foi ainda professor visitante da Universidade de Columbia (EUA) e
da Universidade de Duke (EUA).
Silvio Almeida é autor de uma série de livros e
publicações, como "Racismo estrutural" (2019) e "O direito no
jovem Lukács: A filosofia do direito em 'história e consciência de
classe'" (2006).
Foi foi indicado ao Ministério dos Direitos Humanos no fim
de 2022 e assumiu a pasta em janeiro de 2023, início do governo Lula.
Texto: Da redação
Publicação: Enzo Oliveira | MTV