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Em busca do apoio do PSD, de
Gilberto Kassab, para sua reeleição em 2026, o presidente Lula colocou o PT a
reboque da centro-direita em Belo Horizonte ao apoiar a reeleição de Fuad Noman
(PSD) no segundo turno contra Bruno Engler (PL), apoiado por Jair Bolsonaro.
O que aconteceu
Lula queria se coligar a Fuad
já no primeiro turno. Nos bastidores, sabia-se que seu desejo pessoal era que o
PT abrisse mão da candidatura própria e apoiasse o prefeito para vencer o
bolsonarismo e sair na frente na disputa pelo apoio em 2026 do PSD, o partido
com mais prefeitos no Brasil. O PT mineiro não acatou a ideia do presidente e
lançou Rogério Correia à prefeitura. Mas não teve sucesso e saiu com a sexta
posição ao final do primeiro turno.
No dia seguinte à eleição (6),
o PT ratificou apoio ao prefeito. "O Fuad apoiou o presidente Lula [em
2022]. Agora que foi ao segundo turno, já inclusive conversou com ele [o
presidente]. Lula reforçou o apoio ao Fuad, que estará no segundo turno contra
um ícone dessa extrema-direita", afirmou no dia seguinte o ministro das
Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
O presidente insistiu em
apoiar o prefeito apesar de sua coligação conservadora. Dos oito partidos que
se aliaram a Fuad, quatro são de direita (União Brasil, PRD, PSDB e Cidadania),
um é de centro direita (Agir) e dois são de centro (PSD e Solidariedade),
segundo o GPS Partidário, métrica do jornal Folha de S.Paulo que este ano
posicionou as legendas segundo o perfil de coligações, pautas, trocas
partidárias e votações na Câmara dos Deputados.
Lula apostou suas fichas no
PSD porque Minas é crucial para vencer em 2026. A última vez que um candidato
levou a presidência sem ganhar em Minas foi em 1950, com Getúlio Vargas. Vencer
no estado é importante porque suas diferenças regionais e sociodemográficas o
tornam uma miniatura do Brasil. Em 2022, Lula superou Bolsonaro em Minas por
pouco: 50,9% a 49,1%.
A estratégia de Lula fazia
sentido: ao final do primeiro turno, o PSD saiu como o grande vencedor em
Minas. A sigla elegeu 140 prefeitos no estado — potenciais apoiadores de Lula
em 2026 se Kassab embarcar em sua reeleição. O petista também garantiria lugar
no palanque do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), que é aliado de
Lula e sonha em se candidatar ao governo mineiro na próxima eleição.
Vencer em Minas não será fácil
para Lula porque a centro direita levou a maioria das prefeituras. Depois do
PSD, quem mais elegeu prefeito no estado foi Republicanos (76), PP (74), União
Brasil (73) e MDB (67). O PSDB ganhou em 56 cidades, o PL em 49 e o Novo saltou
de zero para nove prefeitos. O PT vai governar 30 municípios, quatro a mais do
que em 2020.
Kassab decidirá em 2026.
O PSD, que tem maioria no
Senado e agora mais prefeitos pelo Brasil, pode decidir a eleição presidencial.
"O fiel da balança dessa vez chama-se Kassab", diz Rudá Ricci,
cientista político e presidente do Instituto Cultiva. Ele prevê disputa acirrada
pelo apoio do PSD entre Lula e partidos conservadores.
O alinhamento do PT com
legendas da centro direita no segundo turno não se restringiu a Minas. Em João
Pessoa, o PT vai apoiar o prefeito Cícero Lucena (PP) contra Marcelo Queiroga
(PL), ex-ministro da Saúde de Bolsonaro. Em Manaus, parte dos petistas apoia o
atual prefeito David Almeida (Avante) contra o bolsonarista Capitão Alberto
Neto (PL).
A principal ameaça para Lula é
o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos). Kassab, que é
secretário de governo de Tarcísio, prefere que o governador tente a reeleição
em 2026. À CNN, o ex-prefeito de São Paulo disse que o governador deve tentar a
reeleição em 2026 "para consolidar seu legado" e que "vai estar
no ponto em 2030". "Daí, sim, para ser um presidente da República,
vindo com a bagagem de um grande governador."
Dessa forma, "Kassab pode
apoiar Lula para presidente", diz Carlos Ranulfo, cientista político da
UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). "Mas se Tarcísio enfrentar
Lula, Kassab vai com Tarcísio. O PSD não apoiou o Lula em 2022 e ficou neutro
no segundo turno.".
Para Ranulfo, Lula estará no
segundo turno na eleição presidencial. "Dificilmente serão dois candidatos
da direita. O Lula é muito forte. Será ele e algum da direita, radical ou
moderada".
Kassab vai definir a eleição
federal porque não terá candidato próprio. O PSD cresceu muito rápido e, assim
como o MDB, é uma colcha de retalhos nos estados. Não tem um nome nacional, e é
aí que Kassab vai vender seu apoio para um dos lados. Será um leilão.
Texto: Rudá Ricci - Cientista
político
Publicação: Enzo Oliveira | MTV