
Ronaldo
Castilho
Vivemos
tempos marcados por intensos debates políticos, frequentemente acompanhados por
uma polarização que transforma discordâncias em conflitos profundos. Aquilo que
poderia ser uma oportunidade para enriquecer o diálogo e estimular o
aprendizado mútuo frequentemente se torna um campo de batalha ideológico. Nesse
cenário, a empatia emerge como um valor essencial, capaz de restaurar a
convivência saudável e promover a união, mesmo em meio às diferenças.
Empatia,
entendida como a capacidade de se colocar no lugar do outro, exige mais do que
simplesmente ouvir. É um esforço ativo para compreender as experiências,
sentimentos e motivações que moldam as perspectivas alheias. Essa habilidade é
ainda mais urgente em um contexto onde o discurso público é inflamado por
desinformação, preconceitos e generalizações que desumanizam quem pensa de
forma diferente.
A
polarização política ergue muros invisíveis entre pessoas que, muitas vezes,
compartilham mais em comum do que imaginam. Famílias, amigos e comunidades têm
se fragmentado porque as discordâncias políticas se tornaram tão intensas que
obscurecem as relações interpessoais. Nesse contexto, a empatia funciona como
uma ponte, permitindo que enxerguemos uns aos outros como seres humanos antes
de mais nada.
Adotar
uma postura empática não significa concordar com tudo ou abandonar os próprios
valores. Pelo contrário, é um exercício de maturidade emocional e intelectual
reconhecer que as pessoas têm histórias, contextos e realidades distintas que
moldam suas opiniões. Quando deixamos de lado o desejo de vencer o argumento a
qualquer custo e abrimo-nos para compreender o outro, criamos espaço para um
diálogo construtivo, baseado no respeito mútuo e na troca de ideias.
A
ausência de empatia perpetua o ciclo de hostilidade. O desprezo pela visão
alheia alimenta a intolerância, enquanto o discurso agressivo aprofunda as
divisões. Em um ambiente assim, todos perdem: as soluções para os problemas
coletivos tornam-se inviáveis, já que a política deixa de ser um campo de
negociação para se tornar um jogo de soma zero, no qual qualquer concessão é
vista como derrota.
Não é
apenas no nível individual que a empatia deve ser cultivada. Ela precisa ser
promovida por líderes políticos, veículos de comunicação e instituições
sociais. Líderes que adotam discursos de união, mesmo reconhecendo
divergências, inspiram seus seguidores a fazer o mesmo. A mídia, por sua vez,
tem um papel crucial em evitar narrativas que exacerbem a polarização e em
incentivar debates respeitosos e plurais.
A
empatia em tempos de polarização política é mais do que um gesto de bondade; é
uma estratégia de sobrevivência coletiva. Apenas com empatia seremos capazes de
enfrentar os desafios sociais e econômicos que exigem cooperação e esforços
conjuntos. Quando entendemos que o outro, apesar das diferenças, também busca
um mundo melhor, criamos um ambiente no qual as soluções podem emergir e
prosperar.
Pensadores
como Hannah Arendt já refletiam sobre a necessidade de compreender o
"outro" como forma de evitar fragmentações sociais e o avanço de
ideologias extremistas. Jürgen Habermas, por sua vez, defende que a comunicação
em sociedades democráticas deve ser guiada pelo entendimento mútuo, e não pela
imposição de verdades. Edgar Morin, com sua abordagem transdisciplinar,
enfatiza que a empatia é essencial para superar divisões simplistas e construir
uma convivência mais harmônica. Já René Girard, ao explorar sua teoria do
desejo mimético, sugere que reconhecer e compreender os padrões de
comportamento que nos levam ao conflito é o primeiro passo para reduzir tensões
e evitar rivalidades destrutivas.
Por
fim, a empatia nos lembra que a diversidade de opiniões não é uma fraqueza, mas
uma força. Reconhecer a humanidade no outro, mesmo diante das discordâncias, é
o primeiro passo para construir uma sociedade mais justa, inclusiva e
harmoniosa. A polarização pode nos dividir, mas a empatia tem o poder de nos
unir em torno do que realmente importa: a busca por um futuro melhor para
todos.
Ronaldo Castilho é jornalista e bacharel
em Teologia e Ciência Política, com MBA em Gestão Pública com Ênfase em Cidades
Inteligentes