
Cantagalo: De favela a bairro
Conheci o Cantagalo na pré-campanha de 2004 e pude observar a precariedade urbana em que viviam cerca de 600 famílias, instaladas em barracos de madeira desde 1999 e 2000, resultado da ocupação de famílias pobres sem condições de pagar aluguel regularmente. A cena que mais me chocou foi a instalação de “gatos” para abastecimento de água e energia elétrica, além das vielas estreitas por onde corriam esgotos a céu aberto.
Ao assumirmos a prefeitura de Piracicaba, buscamos envolver diversos órgãos municipais – EMDHAP (Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba), SEMOB (Secretaria Municipal de Obras), Procuradoria Geral do Município, IPPLAP (Instituto de Planejamento e Pesquisas de Piracicaba) e SEMAE (Serviço Municipal de Água e Esgoto) – além de entidades estaduais, como a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), e federais, como o Ministério das Cidades. O objetivo era transformar completamente esse cenário em alguns anos, melhorando as condições de vida dessa população por meio de políticas públicas voltadas para saneamento básico, infraestrutura urbana, saúde, educação e desenvolvimento social.
A equipe técnica do SEMAE implantou a rede de abastecimento de água, coleta de esgoto e instalação de hidrômetros. A CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) realizou a instalação de postes, rede de energia e medidores individuais. A EMDHAP cadastrou todos os moradores e construiu, em outro local, pelo menos 90 casas para transferir as famílias que viviam em áreas de risco ou locais inadequados, permitindo a abertura de vielas e ruas para melhorar a mobilidade urbana. A SEMOB executou a pavimentação em concreto de todas as ruas e vielas, enquanto a SEDEMA (Secretaria Municipal de Defesa do Meio Ambiente) passou a instalar contêineres e coletores de resíduos domésticos. Assim, ao longo dos anos, o cenário urbano foi transformado, e a favela deu lugar ao novo bairro Cantagalo.
Paralelamente, diversos equipamentos sociais foram implantados nos bairros do entorno para oferecer atenção e amparo social. Se antes havia apenas o CASE São José, hoje contamos com a Unidade de Saúde da Família do São José, a creche Ruth Cardoso e o Centro Social no Cantagalo – São José. Além disso, foi construída uma nova Escola de Ensino Fundamental no Jardim Planalto, áreas de lazer foram implantadas nas proximidades do Terminal de Ônibus do São Jorge, e a nova UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jaraguá/Vila Cristina passou a atender à população.
O cenário urbano foi rapidamente modificado: os barracos de madeira deram lugar a casas de alvenaria, a saúde da população melhorou significativamente e os índices de mortalidade infantil e materna foram reduzidos. Propusemos iniciativas para que as mães pudessem voltar a estudar e ingressar no mercado de trabalho, enquanto seus filhos eram acolhidos e educados na creche local. Como resultado dessa transformação, surgiram diversos estabelecimentos comerciais e de serviços, criados por novos empreendedores da região. Também é importante destacar que várias igrejas evangélicas se instalaram no local, contribuindo para o fortalecimento da comunidade.
O primeiro passo foi dado com o processo de urbanização e atendimento social. Agora, a comunidade local precisa se organizar ainda mais para conquistar a regularização fundiária, um processo que havia sido iniciado, mas que foi interrompido nos últimos anos devido a um verdadeiro "apagão social" da prefeitura. Afinal, no bairro do Cantagalo moram trabalhadores que contribuem para o crescimento e desenvolvimento de Piracicaba, impactando diretamente a vida de milhares de famílias.
Artigo assindo por Barjas Negri, ex-ministro da Saúde e prefeito de Piracicaba por três gestões