Barjas Negri


No primeiro semestre de 1995, o Ministro da Educação, Paulo Renato, retornou de uma viagem aos Estados Unidos entusiasmado com o ensino à distância e sua possível implementação no Brasil. Considerando as dimensões continentais do país e as dificuldades na qualificação dos professores do ensino fundamental, ele propôs a criação da TV Escola. Para discutir essa ideia, reuniu-se com dirigentes do MEC, especialmente com Eunice Ribeiro Durhan (Secretária de Políticas Educacionais), Iara Areias Prado (Secretária de Ensino Fundamental) e Pedro Paulo Poppovic (Secretário de Ensino à Distância).


A proposta era inovadora, complexa, ousada e de alto custo, além de apresentar desafios significativos para sua implementação. Na época, a Secretaria Executiva do FNDE (Fundação Nacional para o Desenvolvimento da Educação) era responsável por auxiliar a implantação e o financiamento da educação básica, com ênfase no ensino fundamental, que abrangia da 1ª à 8ª série.


A Fundação Roquete Pinto foi escolhida para apoiar a produção de conteúdo e a transmissão de programas educativos voltados para professores e alunos. Como Secretário Executivo do FNDE, acompanhei de perto a viabilização do financiamento de R$ 7,3 milhões (valores de 1995) para que a Fundação pudesse adquirir equipamentos adicionais para a TVE e se adaptar às novas demandas. Esses recursos permitiram a produção de programas televisivos, a aquisição de direitos de exibição de séries, a compra de links para transmissão e a articulação da produção e divulgação para o Centro de Televisão Educativa do Nordeste, onde a demanda era maior.

O Ministério das Comunicações desempenhou um papel determinante na dinamização das transmissões via satélite. Em 6 de julho de 1995, foi publicada a Resolução CD-FNDE nº 15, de 6 de junho de 1995, criando o Programa de Apoio Tecnológico agregado ao Sistema de Manutenção do Ensino Fundamental, operacionalizado pela Instrução FNDE nº 01, de 12 de junho de 1995.


Coube à equipe do FNDE, sob nossa coordenação, operacionalizar todas essas ações para que a TV Escola chegasse a uma parcela significativa das escolas públicas brasileiras. Por sugestão do diretor de planejamento da FNDE, Vander Oliveira Borges, foi criado o "Kit Tecnológico", composto por uma antena parabólica, uma TV de pelo menos 20 polegadas, um videocassete de quatro cabeças com controle remoto, um suporte para TV e caixas de fitas VHS. Foi garantido um repasse de R$ 1.500,00 por escola com mais de cem alunos para a compra desses equipamentos.


Utilizando a experiência do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola), a FNDE conseguiu viabilizar, ao longo do segundo semestre de 1995, os recursos necessários escolas, prefeituras e secretarias estaduais de educação. Como resultado, 2.447 prefeituras e 46.183 escolas públicas foram contempladas, beneficiando diretamente 23,9 milhões de alunos. O investimento totalizou R$ 69,2 milhões (valores de 1995).


Essa iniciativa representou um marco importante para a educação pública brasileira, permanecendo ativa por quase 30 anos e contribuindo significativamente para a formação e qualificação de professores e alunos em todo o país.


Barjas Negri foi ministro da Saúde e prefeito de Piracicaba por três gestões

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