
Ambiente de aprendizado está virando palco de agressões físicas e psicológicas. São urgentes políticas públicas de valorização dos professores e promoção da cidadania e tolerância nas escolas.
Artur Marques, presidente da
AFPESP (Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo), manifesta
profunda preocupação com o aumento alarmante da violência no ambiente escolar.
O problema atingiu níveis críticos, transformando espaços que deveriam ser de
aprendizagem em cenários de conflito e medo.
O alerta do dirigente refere-se aos dados contundentes divulgados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A instituição fez a análise de estatísticas nacionais, que revelam crescimento superior a três vezes nos casos de agressões em escolas brasileiras na última década, com um recorde assustador em 2023.
“Estamos assistindo à degradação acelerada do ambiente escolar. Onde deveria
haver diálogo, respeito à diversidade e construção de cidadania, assistimos
hostilidades e traumas", lamenta Artur Marques. O levantamento da Fapesp
mostra que, em 2023, segundo o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, 13,1
mil pessoas, dentre alunos, professores e funcionários, precisaram de
assistência médica após sofrerem violência física, psicológica ou sexual dentro
de instituições de ensino. Em 2013, esse número era de 3,7 mil.
A análise aponta que metade
das ocorrências envolveu agressões físicas, seguidas por violência psicológica
(23,8%) e sexual (23,1%). Em 35,9% dos casos, o agressor era alguém próximo da
vítima, e há episódios até mesmo de assassinatos. Os dados, para Artur Marques,
refletem a banalização da brutalidade no cotidiano. “Não se trata apenas de
situações isoladas. É um sintoma de como a sociedade está lidando com
conflitos, ou seja, com menos diálogo e tolerância e mais truculência”,
observa.
Políticas públicas
O presidente da AFPESP chama
atenção para as raízes do problema apontadas pela Fapesp. A desvalorização dos
professores pelo próprio poder público, intensificada por discursos que culpam
o funcionalismo em geral por crises fiscais, aparece como um dos principais
combustíveis da violência.
“Como esperar que alunos
respeitem educadores se governos os tratam como descartáveis, com salários
inadequados e condições precárias de trabalho?”, questiona o dirigente. O
estudo corrobora a afirmação: o enfraquecimento, a desvalorização da autoridade
docente, somada à falta de estrutura nas escolas, é terreno fértil para a
escalada de agressões.
Há, ainda, outros fatores que
causam violência, como a exposição de jovens à truculência doméstica e a falha
no combate ao racismo e à misoginia, dentre outras discriminações, nas redes de
ensino. "Precisamos de ações urgentes para conter o problema, mas também
de políticas públicas que atendam com urgência à premissa de todo país que se
pretenda desenvolvido: sem educação e cultura não há futuro. E isso começa com
um ambiente seguro para ensinar e aprender", afirma Marques.
Uma forma de contribuir para a reversão desse cenário alarmante, é apoiar iniciativas de capacitação voltadas à promoção de ambientes escolares mais seguros. Um exemplo é o curso “Combate ao Bullying nas Escolas”, apoiado pela AFPESP, que é oferecido com 30% de desconto para associados da entidade. A formação é destinada a profissionais da educação e demais interessados em compreender e enfrentar as múltiplas formas de violência entre estudantes, com foco na prevenção e no fortalecimento de uma cultura de paz nas instituições de ensino.
Publicado por Danilo Telles / TV Metropolitana