Ronaldo Castilho
O Estreito de Ormuz representa muito mais do que uma simples passagem marítima entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã. Trata-se de uma artéria vital para a economia global, por onde flui aproximadamente 20% de todo o petróleo comercializado no mundo. Essa estreita faixa de mar, com apenas cerca de 50 quilômetros em seu ponto mais estreito, é um verdadeiro ponto de pressão geopolítica, onde interesses econômicos, estratégicos e militares se cruzam constantemente. Ignorar sua importância é fechar os olhos para uma das maiores fragilidades do sistema energético global.
A razão de tanta atenção recair sobre Ormuz está no fato de que diversas nações exportadoras de petróleo do Oriente Médio — como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Kuwait e Iraque — dependem dessa rota para escoar seus recursos. Qualquer ameaça à livre circulação de navios nesse trecho tem impacto direto e imediato no preço do barril de petróleo e, consequentemente, na estabilidade econômica de países do mundo inteiro. Uma simples tensão diplomática, uma sanção econômica ou até mesmo rumores de bloqueio já são capazes de provocar oscilações nos mercados financeiros e desestabilizar moedas.
Nos últimos dias, o mundo voltou os olhos com preocupação ao Estreito de Ormuz após os ataques dos Estados Unidos contra centrais nucleares iranianas. Em resposta, o Parlamento do Irã aprovou uma proposta para o fechamento do estreito, decisão que agora aguarda o aval do Conselho de Segurança Nacional, liderado pelo aiatolá Ali Khamenei. A ameaça é real e, segundo analistas, caso o bloqueio se concretize, pode causar uma escalada de tensões militares e uma crise energética global sem precedentes. Cerca de 20 a 30% de todo o petróleo transportado por mar passaria a ficar retido, o que elevaria o preço do barril de forma drástica. Projeções apontam que o Brent pode ultrapassar a marca dos 100 dólares, com impacto direto nos combustíveis e repasse inflacionário em escala mundial. Uma possível disparada no preço da commodity intensificaria ainda mais a pressão sobre o custo de vida, afetando transporte, alimentos, produção industrial e até a política monetária de diversos países.
Se o Irã realmente fechar o Estreito de Ormuz, o prejuízo será imenso, não apenas para os países da região, mas para a economia global como um todo. O bloqueio interromperia imediatamente a exportação de milhões de barris de petróleo por dia, gerando escassez no mercado internacional e uma disparada nos preços da energia. Isso impactaria desde o preço da gasolina até os custos de produção industrial e transporte em diversas partes do mundo. Economias dependentes da importação de petróleo, como as da Europa, Ásia e América Latina, sofreriam duramente os efeitos dessa crise. Além disso, um possível bloqueio poderia elevar o preço da commodity a níveis recordes, desencadeando uma nova onda inflacionária em países que já enfrentam dificuldades econômicas, elevando o custo de vida e pressionando ainda mais as políticas monetárias dos bancos centrais. Haveria também um aumento nas tensões militares, com grandes potências mobilizando frotas navais e, possivelmente, enfrentando confrontos diretos para reabrir a passagem, o que poderia levar a um conflito de escala muito maior.
O Irã, que exerce controle sobre parte do estreito, frequentemente utiliza sua posição geográfica como instrumento de pressão política. Ao longo dos anos, o país já declarou em diversas ocasiões que poderia fechar o estreito em resposta a sanções ou ações militares de potências ocidentais. Embora essas ameaças raramente se concretizem, sua mera possibilidade já é suficiente para desencadear crises internacionais. A presença constante de forças navais dos Estados Unidos e aliados na região não é por acaso: ela reflete a tentativa de garantir que essa “porta” para o petróleo mundial continue aberta, ao mesmo tempo em que revela a fragilidade de uma ordem internacional fortemente dependente de combustíveis fósseis.
A grande questão que o Estreito de Ormuz nos impõe é: até quando o mundo continuará tão vulnerável a um único ponto geográfico? Enquanto a transição para fontes de energia mais limpas e descentralizadas não se concretizar de forma eficaz, Ormuz continuará sendo uma espécie de barril de pólvora flutuante, pronto a explodir a qualquer faísca. A importância do estreito, portanto, vai muito além da logística ou da geografia — ele é um espelho da nossa dependência, da nossa demora em avançar para alternativas sustentáveis e do delicado equilíbrio entre economia e poder que molda o século XXI.
Ronaldo Castilho é jornalista, bacharel em Teologia e Ciência Política, com MBA em Gestão Pública com Ênfase em Cidades Inteligentes e pós-graduação em Jornalismo Digital.