Foto: Reprodução/Redes Sociais
O prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos), foi afastado do cargo pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) após uma investigação da Polícia Federal (PF) apontar que ele liderava uma "extensa e complexa estrutura criminosa" responsável por desvios milionários em contratos da administração municipal.
Segundo a PF, o esquema envolvia diversas áreas, incluindo saúde, transporte público, coleta de lixo, serviços de engenharia e vigilância patrimonial. A decisão judicial, que determinou o afastamento do chefe do Executivo, também o proibiu de manter contato com servidores públicos e decretou a prisão preventiva de três pessoas apontadas como operadores do suposto grupo criminoso.
A investigação detalha que os desvios ocorriam em múltiplos contratos. No setor de saúde, a PF aponta que a organização social Iase (Instituto de Atenção à Saúde e Educação), contratada para gerenciar unidades de saúde, subcontratava empresas de fachada. Os valores superfaturados seriam sacados e entregues a membros do esquema.
As suspeitas se estendem a:
- Transporte Público: Planilhas cifradas apreendidas mencionam o termo "City" 11 vezes em quatro meses, somando R$ 1,7 milhão em valores supostamente desviados de um contrato que ultrapassa R$ 1 bilhão.
- Coleta de Lixo: O termo cifrado "lx" na contabilidade paralela indicaria apropriação de R$ 2,8 milhões do contrato de coleta.
- Outras Áreas: Suspeitas atingem ainda uma empresa de engenharia contratada pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) e uma prestadora de serviço de vigilância patrimonial da autarquia.
Três pessoas foram alvo de mandados de prisão preventiva: o empresário Marcos Mott e o pastor evangélico Josivaldo de Souza, ambos amigos pessoais de Manga, e Simone Frate de Souza, cunhada do prefeito afastado e esposa de Josivaldo. De acordo com a PF, Simone e o pastor também atuavam na lavagem do dinheiro desviado. Simone Frate de Souza estava foragida desde a deflagração da operação, na última quinta-feira (6).
A defesa de Rodrigo Manga nega veementemente as acusações e classifica a operação como nula, fruto de perseguição política. Em nota, afirma que a Justiça Federal não teria competência para julgar o caso e considera "indiscutivelmente temerário o afastamento do prefeito baseado em ilações".
"Os supostos fatos remontam ao ano de 2021, o que demonstra ausência de qualquer contemporaneidade capaz de colocar em risco a continuidade do exercício do legítimo mandato do chefe do Executivo," alegou a defesa de Manga, ressaltando que o mandato foi conquistado nas urnas.
O Iase também se manifestou, afirmando ter certeza de que será comprovada a inexistência de práticas ilegais e destacando que não foi alvo de medidas judiciais na atual fase da operação, o que, para a entidade, "corrobora que, no curso das investigações, não foram detectadas irregularidades em sua atividade institucional".
A defesa do empresário Marcos Mott classificou a prisão como desnecessária e baseada em suposições. A reportagem procurou o advogado de Josivaldo de Souza, mas não obteve retorno. A concessionária mencionada como "City" também foi procurada e não se manifestou até o fechamento desta matéria.
A PF aponta ainda que o prefeito afastado teria agido para descredibilizar a operação desde a primeira fase, em abril de 2024. A corporação cita um vídeo gravado na época, classificando-o como um "bizarro espetáculo de deboche e desdém".
Mensagens apreendidas indicam que a esposa de Manga, Sirlange, discutia formas de monetizar os vídeos no TikTok nos quais ele se declarava vítima de perseguição. Em uma das conversas, Sirlange afirma que a medida "traz dinheiro", apesar de Manga ponderar que isso tornaria a repercussão menor. A defesa de Sirlange garantiu em nota que todas as operações financeiras são lícitas, documentadas e declaradas ao Imposto de Renda.
Danilo Telles/Jornalista | Com Informações de André Fleury Moraes/FolhaPress