Deputada é acusada de mandar matar o marido, o pastor Anderson Torres. Imunidade parlamentar impedia prisão preventiva.
Por 437 votos a favor, 7 contrários, e 12 abstencões, o plenário da Câmara dos Deputados decidiu cassar o mandato da deputada Flordelis (sem partido-RJ), acusada de mandar matar o marido, o pastor Anderson Torres.
O crime ocorreu em junho de 2019. O pastor foi executado com mais de 30 tiros.
Flordelis nega participação no crime e chegou a entrar com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar impedir a votação. Esse recurso, no entanto, foi negado pela ministra Cármen Lúcia.
Para que o mandato fosse cassado, eram necessários, pelo menos, 257 votos — a maioria absoluta dos parlamentares.
Com a cassação, Flordelis perde a chamada imunidade parlamentar que impedia sua prisão preventiva. Por causa da prerrogativa, a deputada só podia ser presa em caso de flagrante de crime inafiançável.
O relator do processo contra a deputada no Conselho de Ética da Câmara, deputado Alexandre Leite (DEM-SP), apresentou parecer a favor da cassação da parlamentar. Ele alegou que a parlamentar nunca apresentou qualquer contraprova que pudesse contestar todos os indícios apurados pelo Conselho de Ética e pelo Ministério Público, que a acusa da autoria do assassinato.
Leite apresentou no plenário o laudo cadavérico que aponta uma concentração de tiros na região pélvica da vítima – o que, de acordo com a polícia, indicaria que Flordelis poderia ter participado ativamente da morte do marido.
“Não sou eu que vou dizer que a deputada puxou o gatilho”, disse o deputado.
Ao se defender, a deputada apelou para os colegas de Câmara reafirmando que é inocente e que a verdade ainda virá à tona. Ela ainda acusou o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), de não ouví-la. Em seguida, passou a palavra para seus defensores. “Sejam justos, não me cassem”, implorou a parlamentar.
Racismo
A defesa da deputada alegou que as acusações contra ela são marcadas pela “misoginia”, pelo “machismo” e pelo “racismo estrutural”. Os advogados pediram que os parlamentares esperassem a conclusão do processo no qual ela é acusada de mandar matar o marido para depois decidirem sobre seu mandato.
O advogado Rodrigo Faucs apontou que a deputada tem visto sua história de vida sendo destruída desde que seu marido foi executado e que não tem tido oportunidades para se defender.
“O caso aqui hoje é uma mistura de perversidade histórica do nosso sistema, imperada por uma misoginia, machismo e um racismo estrutural”, disse o defensor.
“Eu admito, eu não tenho lugar de falar em questões faciais e de gênero, sou um homem branco, heterossexual de classe média, tive todos os privilégios inerentes a essas características, sou advogado, tenho doutorado, estou fazendo pós-doutorado, habilitado para atuar no Tribunal Penal Internacional, em Haia, sou privilegiado. O que não me impede de reconhecer nos meus proprios privilégios, perceber a crueldade e a desumanidade intrínseca daqueles que não são como eu”, argumentou o advogado.
“Abuso”
Outro defensor da parlamentar, Jader Marques, apontou que o pastor Anderson do Carmo violentava filhas de Flordelis. “O homem que a amava era uma abusador, ele acariciava as filhas dela de maneira asquerosa”, disse o advogado.

Foto: Reprodução/ Câmara Federal 

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