Multidão invade pista de decolagem, e três caem de
aeronave, diz imprensa local.
SÃO PAULO | REUTERS e AFP
Em meio
ao caos que se
instalou no aeroporto internacional de Cabul desde domingo (15), com
afegãos e estrangeiros tentando sair do país após a tomada de poder
pelo Taleban, uma multidão invadiu a pista de decolagem e pessoas se
penduraram em aeronaves em movimento, mostram vídeos em redes sociais.
De
acordo com um repórter do canal de notícias afegão TOLOnews, três moradores
morreram após se esconderem em uma das rodas e na asa de um avião e caírem em
telhados da cidade.
À
agência de notícias Reuters testemunhas relataram a morte de cinco pessoas no
aeroporto da capital. O americano The Wall Street Journal, por sua vez, afirma
que três foram mortas a tiros.
Segundo
um agente americano, militares atiraram para cima para tentar deter as pessoas
que forçavam a entrada na área de decolagem da aeronave, que partia de Cabul
com funcionários da embaixada dos EUA. Outro vídeo publicado em uma rede social
mostra três corpos caídos na entrada do aeroporto.
Nesta
segunda-feira (16), o governo americano tomou o controle do tráfego aéreo e
afirmou que a prioridade maior é garantir a segurança do aeroporto, que virou
sede temporária da representação diplomática do país. Em meio à confusão, no
entanto, os Estados Unidos suspenderam temporariamente os voos de evacuação até
que haja segurança para as aeronaves decolarem.
O chefe
do Comando Central dos Estados Unidos, o general Kenneth F. McKenzie, que
coordena operações militares unificadas, se encontrou no domingo com um
representante do Taleban em Doha, no Qatar, e conseguiu uma garantia de que os
rebeldes não vão interferir nas operações de evacuação, segundo a agência
americana Associated Press.
Embaixadas
de Alemanha, França e Holanda também começaram a operar a partir do aeroporto.
A primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, afirmou que o foco imediato do
país é a evacuação do país.
Segundo
a líder alemã, 10 mil pessoas serão retiradas, entre as quais 2.500 afegãos que
trabalharam para a Alemanha, além de ativistas de direitos humanos, advogados e
pessoas que podem estar em risco.
Desde
que o Taleban retomou o poder no Afeganistão, em meio à retirada de tropas
ocidentais após 20 anos de guerra, multidões tentam deixar o país, com a
lembrança do regime —entre 1996 e
2001— marcado pela violência e pelo desrespeito aos direitos humanos
por parte do grupo
fundamentalista.
Além de diplomatas, famílias
foram ao Aeroporto Internacional Hamid Karzai na tentativa de deixar o país. A
autoridade responsável pela aviação no Afeganistão, entretanto, disse nesta
segunda-feira que o espaço aéreo foi "liberado para militares" e
recomendou que empresas aéreas evitem a rota até a capital.
Desde domingo, a United Airlines, a British Airways e a Virgin
Atlantic já haviam deixado de operar no espaço aéreo afegão. Nesta segunda,
Qatar Airways, Singapore Airlines, Taiwan's China Airlines, Air France e a
holandesa KLM e a alemã Lufthansa tomaram a mesma decisão.
Outro movimento na cidade foi
uma corrida aos bancos. O site de notícias Al Jazeera reportou que centenas de
moradores formaram filas nos caixas eletrônicos para sacar dinheiro de suas
contas, viabilizando uma maneira de fugir do país.
Em uma tentativa de passar uma imagem de moderação, Suhail
Shaheen, porta-voz do Taleban, escreveu em uma rede social que o grupo tem
ordem para não atacar a população. "A vida, a propriedade e a honra não
podem ser feridas e deverão ser protegidas pelos mujahedins [guerrilheiros
islâmicos]", afirmou.
Enquanto o Taleban tomava o
poder no Afeganistão, um avião com militares do país atravessou ilegalmente a
fronteira com o Uzbequistão e caiu, de acordo com o Ministério da Defesa
uzbeque.
O acidente aconteceu na província de Surkhondaryo, na fronteira
com o Afeganistão. Bekpulat Okboiev, médico em um hospital da região, afirmou à
agência de notícias AFP que dois pacientes com uniforme afegão foram
internados. Um deles se ejetou do avião de paraquedas, disse, e os dois ficaram
feridos.
Sem apoio americano, as tropas afegãs tentaram em várias ocasiões fugir para países vizinhos da Ásia central, sobretudo o Uzbequistão, desde o início da ofensiva taleban, em maio, quando começou a retirada estrangeira. No domingo, 84 soldados afegãos foram detidos por forças uzbeques na fronteira.
Foto: Reprodução / Vídeo Imprensa local