Em agosto de 2020, em plena pandemia, a Prefeitura de Piracicaba tinha 155 leitos de Covid-19 à disposição na rede hospitalar que atende os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Do total, 77 eram de UTI e 78 de enfermaria. Um ano depois, os leitos hospitalares à disposição da Covid-19 foram reduzidos e adequadas de acordo com a pandemia para 111: 63 de UTI e 48 de enfermaria. Isso mesmo, trabalhou com menos 44 leitos no período mais crítico da pandemia no 1º semestre deste ano, que se ativados teriam salvos algumas vidas.

Enquanto isso, em março, a Prefeitura se apressou em anunciar e depois construir um Anexo à UPA do Piracicamirim em estrutura metálica, ao valor de R$ 5,4 milhões e contratou uma empresa terceirizada para colocar em funcionamento 42 leitos para a Covid-19, ao custo de R$ 7,6 milhões por 90 dias, ou R$ 2,5 milhões/mês que, certamente, será prorrogado por outros 90 dias. Esse valor será pago utilizando ou não todos os 42 leitos. 

O que pouca gente sabe é que, se o setor público contratasse para o mesmo período de 90 dias os mesmos 44 leitos que foram reduzidos da rede hospitalar do SUS, gastaria R$ 3,6 milhões ou R$ 1,2 milhão/mês desde que utilizasse 100% dos leitos neste período. A diferença é de R$ 4 milhões em 90 dias e poderá passar para R$ 8 milhões caso haja a prorrogação do contrato por igual período, o que é bem provável. 

Não é demais lembrar que a UPA da Vila Cristina e Jaraguá, com 52 leitos, custou, em 2019/2020, o valor de R$ 4,9 milhões para um prédio de 2.400 m2, ou R$ 2.100,00 o m2. Enquanto isso, o anexo metálico, com apenas 600 m2, custou R$ 5,4 milhões ou R$ 8.900,00 o m2. Difícil entender tamanha variação de custo da obra e também o seu custeio.

O Anexo da UPA tem uma vantagem: terminada a pandemia, seus 42 leitos poderão ser utilizados no atendimento normal dessa unidade, em benefício aos seus pacientes que são usuários do SUS. No entanto, seu custo não deverá baixar. 

Enquanto isso, a Prefeitura abriu mão de R$ 5 milhões que o governo do Estado investiria na construção do hospital público veterinário de Piracicaba, que na sua etapa inicial, custaria aos cofres do município cerca de R$ 900 mil/ano, chegando na última etapa a R$ 1,8 milhão ano para sua manutenção. Um ano do hospital veterinário custaria menos que um mês do Anexo da UPA. Em outras palavras, um ano de funcionamento do Anexo manteria o hospital veterinário por 15 anos.

Não é demais destacar que atualmente o SUS de Piracicaba ocupa apenas 40% das UTIs e 35% dos leitos de enfermaria para Covid-19. Se a situação se agravar e dobrar o número de internados, os atuais leitos contratados junto à rede hospitalar ainda vão suportar toda a pressão. Os leitos da UPA são em geral de suporte ventilatório, e a UPA do Piracicamirim tem outros 42 leitos para isso. A prioridade da cidade é por leitos hospitalares e muito pouco de leitos de suporte ventilatório. 

O que poucos sabem é que, quando se contrata e se credencia leitos na rede hospitalar do SUS, quem paga a conta é o Ministério da Saúde, e quando se instala leitos na UPA sem credenciamento, quem paga a conta é a Prefeitura. Por fim, o Anexo metálico anexo à UPA do Piracicamirim foi inaugurado nesta semana. Que ele cumpra a sua finalidade. 

  

Barjas Negri, ex-prefeito de Piracicaba

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