Foto: Davi Negri

A depoente atua há 13 anos como diretora de escola e é funcionária do município desde 2003. Ela solicitou que sua identidade fosse preservada, como também a escola em que desempenha o cargo de direção. Os questionamentos foram feitos na manhã desta sexta-feira (10), no Plenário Francisco Antonio Coelho, pelos vereadores Cássio Luiz Barbosa, o Cássio Fala Pira (PL), Acácio Godoy (PP) e Paulo Camolesi (PDT), que respectivamente são presidente, relator e membro da CPI.
“O mínimo que preconiza o Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar) não está sendo feito”, disse a diretora, ao apresentar como pontos críticos a contratação de uma merendeira sem experiência, falta de tempero para os alimentos e até mesmo material de trabalho, como avental. Ela disse que deixou de disponibilizar o cardápio para acesso aos pais, pois estão ocorrendo muitas mudanças.
A diretora informou ainda que tão logo identificou os problemas fez um comunicado à chefia imediata, pois “não queria deixar ninguém sem alimentação”. Ela lamentou: “o sistema precisava me dar uma resposta para um caos que não fui eu quem criei”.
Um dos episódios relatado pela diretora foi classificado pelo vereador Acácio Godoy como “caótico” e com sérios riscos à saúde dos estudantes. Segundo a diretora, seis crianças na escola possuem necessidades alimentares especiais e dependendo do cardápio oferecido no dia não há como ser consumido por elas. “Se a escola estivesse em 100% do atendimento, sem a pandemia, a alimentação estaria comprometida”, disse.
Também sobre o contrato emergencial, a diretora informou que foi comunicada às 17h50 do próprio dia 20 de agosto, por WhatsApp, de que a merenda seria fornecida pela Nutriplus já na segunda-feira (23). Por conta disso, ela foi orientada a estar disponível na escola no sábado seguinte, das 7h30 às 17h, e se necessário no domingo. “O que foi entregue não foi suficiente para a merenda do primeiro dia, na segunda-feira”, declarou.
Ao ser indagada sobre a diferença no fornecimento de itens para a merenda nos contratos anteriores e o atual, a diretora foi categórica ao afirmar que não há uma regularidade. Segundo ela, a Nutriplus “ainda não conseguiu garantir um padrão mínimo”, com funcionários treinados, EPIs (Equipamento de proteção individual) e condições de higiene de trabalho. Como exemplo, ela disse que hoje o risoto é servido com frango, molho e arroz, enquanto no passado havia também seleta de legumes, milho e cenoura a este prato.
Desde o início do novo contrato, a escola passou por quatro trocas de merendeira. A atual, por exemplo, não possui experiência e utiliza um avental de tecido próprio (quando o ideal é o de plástico, fornecido pela empresa). “Ela não dá conta de carregar a panela sozinha para servir e não consegue fazer a pausa de uma hora de almoço. A cozinha tem que ser lavada todos os dias e uma vez por semana faxina e não está ocorrendo. É algo sobre-humano”, declarou a diretora.
Sobre tal questão, Acácio Godoy lembrou que a merendeira fica mais suscetível aos acidentes de trabalho, enquanto o vereador Cássio Fala Pira disse ter visitado a escola e constatou que se trata de “um trabalho escravo". Cássio completou: “tudo bem que ela é uma pessoa é esforçada, a gente torce para que dê certo. Mas faltou preparo da empresa, principalmente por estarmos na pandemia”.
Em uma determinada ocasião, a diretora teve que usar dinheiro do Fundo Escolar para a compra de tempero e efetuar a compra em um supermercado. Para Cássio Fala Pira, uma demanda como essa pode comprometer a escola como um todo. “A diretora tem que estar preocupada com outras questões da escola e não em tirar o dinheiro da caixinha, que é para um outro tipo de atividade, para repor a merenda. Não é nem o primeiro e nem o segundo relato”, disse o vereador.
A diretora informou aos vereadores que desde 23 de agosto não recebeu qualquer supervisão em sua unidade, mesmo tendo emitido relatórios sobre os problemas. Conforme destacou, a resposta encaminhada pela DAN (Divisão de Alimentação e Nutrição) é de que a empresa foi cobrada das melhorias. “Acredito na educação, confio na minha equipe e na minha comunidade. Tudo o que faço é para manter a regularidade do serviço”, disse.
O vereador Paulo Camolesi defendeu a união de forças para driblar os problemas na educação. “Se não unirmos forças, o sistema vai sempre dividindo e dominando. Precisamos começar a pensar junto a educação de Piracicaba, pelo bem maior das crianças.”

Vereadores da Comissão Parlamentar de Inquérito da Merenda classificaram situação como caótica

Desde o início do novo contrato emergencial para o fornecimento das merendas em Piracicaba, em vigor desde 20 de agosto entre a Prefeitura e a empresa Nutriplus, o atendimento nas escolas ainda não está normalizado. É o que garantiu a diretora de uma unidade escolar do município, em oitiva na Câmara Municipal de Piracicaba, aos parlamentares que conduzem a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Merenda.

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