Piracicaba
11/09/2021 19H57
Foto: Davi Negri
A
depoente atua há 13 anos como diretora de escola e é funcionária do município
desde 2003. Ela solicitou que sua identidade fosse preservada, como também a
escola em que desempenha o cargo de direção. Os questionamentos foram feitos na
manhã desta sexta-feira (10), no Plenário Francisco Antonio Coelho, pelos
vereadores Cássio Luiz Barbosa, o Cássio Fala Pira (PL), Acácio Godoy (PP) e
Paulo Camolesi (PDT), que respectivamente são presidente, relator e membro da
CPI.
“O mínimo que preconiza o Pnae
(Programa Nacional de Alimentação Escolar) não está sendo feito”, disse a
diretora, ao apresentar como pontos críticos a contratação de uma merendeira
sem experiência, falta de tempero para os alimentos e até mesmo material de
trabalho, como avental. Ela disse que deixou de disponibilizar o cardápio para
acesso aos pais, pois estão ocorrendo muitas mudanças.
A diretora informou ainda que
tão logo identificou os problemas fez um comunicado à chefia imediata, pois
“não queria deixar ninguém sem alimentação”. Ela lamentou: “o sistema precisava
me dar uma resposta para um caos que não fui eu quem criei”.
Um dos episódios relatado pela
diretora foi classificado pelo vereador Acácio Godoy como “caótico” e com
sérios riscos à saúde dos estudantes. Segundo a diretora, seis crianças na
escola possuem necessidades alimentares especiais e dependendo do cardápio
oferecido no dia não há como ser consumido por elas. “Se a escola estivesse em
100% do atendimento, sem a pandemia, a alimentação estaria comprometida”,
disse.
Também sobre o contrato
emergencial, a diretora informou que foi comunicada às 17h50 do próprio dia 20
de agosto, por WhatsApp, de que a merenda seria fornecida pela Nutriplus já na
segunda-feira (23). Por conta disso, ela foi orientada a estar disponível na
escola no sábado seguinte, das 7h30 às 17h, e se necessário no domingo. “O que
foi entregue não foi suficiente para a merenda do primeiro dia, na
segunda-feira”, declarou.
Ao ser indagada sobre a
diferença no fornecimento de itens para a merenda nos contratos anteriores e o
atual, a diretora foi categórica ao afirmar que não há uma regularidade.
Segundo ela, a Nutriplus “ainda não conseguiu garantir um padrão mínimo”, com
funcionários treinados, EPIs (Equipamento de proteção individual) e condições
de higiene de trabalho. Como exemplo, ela disse que hoje o risoto é servido com
frango, molho e arroz, enquanto no passado havia também seleta de legumes,
milho e cenoura a este prato.
Desde o início do novo
contrato, a escola passou por quatro trocas de merendeira. A atual, por
exemplo, não possui experiência e utiliza um avental de tecido próprio (quando o
ideal é o de plástico, fornecido pela empresa). “Ela não dá conta de carregar a
panela sozinha para servir e não consegue fazer a pausa de uma hora de almoço.
A cozinha tem que ser lavada todos os dias e uma vez por semana faxina e não
está ocorrendo. É algo sobre-humano”, declarou a diretora.
Sobre tal questão, Acácio Godoy
lembrou que a merendeira fica mais suscetível aos acidentes de trabalho,
enquanto o vereador Cássio Fala Pira disse ter visitado a escola e constatou
que se trata de “um trabalho escravo". Cássio completou: “tudo bem que ela
é uma pessoa é esforçada, a gente torce para que dê certo. Mas faltou preparo
da empresa, principalmente por estarmos na pandemia”.
Em uma determinada ocasião, a
diretora teve que usar dinheiro do Fundo Escolar para a compra de tempero e
efetuar a compra em um supermercado. Para Cássio Fala Pira, uma demanda como
essa pode comprometer a escola como um todo. “A diretora tem que estar
preocupada com outras questões da escola e não em tirar o dinheiro da caixinha,
que é para um outro tipo de atividade, para repor a merenda. Não é nem o
primeiro e nem o segundo relato”, disse o vereador.
A diretora informou aos
vereadores que desde 23 de agosto não recebeu qualquer supervisão em sua
unidade, mesmo tendo emitido relatórios sobre os problemas. Conforme destacou,
a resposta encaminhada pela DAN (Divisão de Alimentação e Nutrição) é de que a
empresa foi cobrada das melhorias. “Acredito na educação, confio na minha
equipe e na minha comunidade. Tudo o que faço é para manter a regularidade do
serviço”, disse.
O vereador Paulo Camolesi defendeu a união
de forças para driblar os problemas na educação. “Se não unirmos forças, o
sistema vai sempre dividindo e dominando. Precisamos começar a pensar junto a
educação de Piracicaba, pelo bem maior das crianças.”
Vereadores
da Comissão Parlamentar de Inquérito da Merenda classificaram situação como
caótica
Desde o início do novo contrato emergencial para o fornecimento das merendas em Piracicaba, em vigor desde 20 de agosto entre a Prefeitura e a empresa Nutriplus, o atendimento nas escolas ainda não está normalizado. É o que garantiu a diretora de uma unidade escolar do município, em oitiva na Câmara Municipal de Piracicaba, aos parlamentares que conduzem a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Merenda.