Foto: Agência Rádio Senado
O atentado terrorista às Torres
Gêmeas completa 20 anos no dia 11 de setembro. E a Rádio Senado preparou uma
reportagem especial sobre o tema. Os ataques foram assistidos por bilhões de
pessoas e provocaram novos desafios no cenário mundial. Mas o que você
fazia naquele momento? Contamos algumas histórias relacionadas aos trágicos
eventos nos Estados Unidos.
Capítulo 1 – O sobrevivente
Larry Jr. Trabalhava no vigésimo
quinto andar da primeira torre atingida em 11 de Setembro de 2001. Como ele
saiu do prédio? O que acontecia na rua?
Clique e ouça - O Sobrevivente - 11 DE SETEMBRO
Capítulo 2 – A arte de contar a história
Simone Duarte, chefe da sucursal da
globo em Nova York, estava quebrando a cabeça para ter uma reportagem em 11 de
Setembro de 2001 para ser apresentada no Jornal Nacional. Aí vieram os atentados.
Clique aqui e ouça - A Arte de Contar História - 11 DE SETEMBRO
Capítulo 3 – Nascidos em 11 de
Setembro
João Carlos Botelho e Maria Baltazar
já nasceram sob a influência de tudo aquilo representado pelos ataques às
torres gêmeas. Mas João e Maria compartilham de uma coincidência: nasceram
exatamente em 11 de Setembro de 2001.
Clique e ouça o - NASCIDOS EM 11 DE SETEMBRO
Transcrição completa e na íntegra.
LOCUÇÃO: EM 11 DE SETEMBRO DE 2001 A CIDADE DE NOVA YORK, NOS ESTADOS UNIDOS, SOFREU UM DOS MAIORES ATENTADOS TERRORISTAS DA HISTÓRIA.
LOCUÇÃO: O BRASILEIRO LARRY (LARRÍ)
JÚNIOR ESTAVA NA TORRE NORTE DO WORLD TRADE CENTER NAQUELE DIA. ACOMPANHE A
PRIMEIRA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”.
UMA PRODUÇÃO RÁDIO SENADO.
TÉC: (Rodrigo) Larry Júnior preparou o café da manhã como em todos os dias. Estava sozinho em casa, nos Estados Unidos, porque a esposa havia viajado para o Brasil. No dia 10 de setembro havia sido aniversário da esposa e Larry deu os parabéns por telefone. Por sinal ele estava com o celular da própria esposa naqueles dias. Acabado o café do dia 11, era hora de ir para o trabalho. Larry caminhou de sua casa por 4 minutos até a estação de trem mais próxima. Entrou no comboio e em 5 minutos estava na sua estação de destino: World Trade Center. Ao sair da estação, mais quatro minutos para entrar em um dos prédios das torres gêmeas, pegar o elevador e chegar até a sua mesa, no vigésimo quinto andar. A torre tinha 110. Era perto de sete da manhã. O economista Larry trabalhava em uma empresa de investimentos: Larry 2 – Sete, sete e quinze da manhã já chegou todo mundo que tinha que chegar no mercado financeiro todo mundo já tá lá. Não tem lá ninguém que chega às oito horas da manhã, tá? Eu chegava no escritório entre seis e meia e sete horas, daí aí dependia mais do horário de pegar o trem que eu pegava um trem e descia dentro WTC. Então eu já estava trabalhando... acho que não chegava duas horas ... eu sinceramente eu não me lembro o horário que eu cheguei aquele dia mas foi um dia normal pra mim. (Rodrigo) O que Larry não imaginava é que aquele 11 de setembro de 2001 seria diferente de tudo. Às 8h46 o economista ouve um estrondo no prédio no qual trabalhava: Larry 5 – Esse momento me deu muito medo, por quê? Porque eu estava sentado conversando e tal, quando ouvi aquele barulho e o choque no prédio ... imagina o seguinte um prédio de cento e sete andares ele faz um jogo ... vai pra esquerda e fica balançando até ele se ajeitar. Eu olhei pro meu chefe do meu lado e digo assim “ó vamos embora que isso aqui vai cair”, foi isso exatamente, essas palavras, ele pegou as coisas dele foi embora nem olhou pra trás eu ainda demorei um pouquinho ajeitando, pegando minhas coisas que eu queria pegar ... mas eu tinha a nítida impressão, tive a nítida impressão naquele momento que o prédio não ia aguentar. (Rodrigo) Era um avião batendo contra uma das torres. O choque foi tão grande que Larry só teve tempo de pegar algumas de suas coisas e descer pela saída de emergência. Ficaram para trás o notebook, um dos seus principais instrumentos de trabalho e, sobre a mesa, uma caneca do Internacional de Porto Alegre que havia sido presenteada por sua mãe. Todos foram rumo a uma das três saídas do WTC: Larry 7 – nós descemos a escada normalmente, ou seja, eu fui pra escada de incêndio porque o andar do WTC era bem grande, tinha eu acho que três, eram três saídas de emergência por andar. Cada setor pegava uma. Então, eu peguei no setor, que era o que estava designado pra nós ali que era a face oposta ao local onde entrou o avião. Então o canal assim, o duto não estava, não tinha fumaça, não tinha fogo, não tinha nem cheiro de combustível tinha muito. Então foi eu dei sorte de pegar a saída mais tranquila e nós começamos a descer. Vigésimo quinto andar ... lá pelo décimo terceiro, décimo quarto, não sei precisar exatamente começaram a aparecer os bombeiros e os bombeiros foram subindo e eles começaram ... o primeiro que subiu, segundo bombeiro que subiu, pediu assim ó gente por favor deixem o lado direito de quem tá subindo livre da escada porque vai subir nosso pessoal todo com uma série de equipamentos pra tentar ajudar o pessoal que tá lá em cima. Tu acredita que nós descemos vinte e cinco andares? Eu fico... eu falo contigo que estou arrepiado cara porque eu me lembro dessa cena como se fosse hoje, nós descemos os vinte e cinco andares sem nenhuma pessoa, nenhuma pessoa tentar passar a frente do outro e nenhuma pessoa nesses vinte e cinco andares entrou naquele lugar onde estava reservado pros bombeiros mesmo não tendo nenhum bombeiro. (Rodrigo) Larry estava nas escadas quando 17 minutos após a primeira colisão, aconteceu a segunda, com um outro avião atingindo a segunda torre do World Trade Center às 9h03 da manhã, horário de Nova York. Ele só viu o efeito desse segundo impacto ao sair do prédio. Ao tentar um jeito de voltar para a casa, presenciou a queda da primeira torre, às 9h59 da manhã. A primeira torre que caiu foi a segunda a ser atingida por um avião: Larry 4 –Quando a gente saiu do prédio a polícia nos orientou pra ir em direção Sul ou seja sair do outro indo pela East side Highway indo em direção aquele local onde é que pega as barcas pra ir pra Estátua da Liberdade, na ponta da ilha ponta sul da ilha. Então eu fui seguindo o fluxo, seguindo todo mundo ali. Quando cheguei na primeira possibilidade que não estava fechada pela polícia, deu ir para a beira do rio porque eu pensei, eu só tenho como ir pra casa ou de trem que era dentro do WTC, tudo fechado ou de barco. Quando eu estava chegando, voltei caminhando pela beira do rio em direção de volta, quando cheguei sei lá a cinquenta, cem metros de onde pegavam as barcas, uma policial disse assim “ó, tá fechado, a guarda costeira fechou, ninguém pode passar” ... Fiquei ali alguns segundos, minutos talvez de indecisão e comecei a caminhar de volta. Quando eu comecei a caminhar de volta lá pra ponta Sul da Ilha eu só escutei aquele barulho e eu olhei por cima do meu ombro esquerdo e eu vi a torre de telefone de televisão que era no topo do outro prédio caindo ... (Rodrigo) Foi uma correria só e Larry ainda sim foi atingido pela fuligem e pela poeira da torre. Nesse meio tempo ele só havia conseguido falar com um amigo e uma amiga da esposa no Brasil, pelo menos para dar as primeiras notícias que ele estava vivo. Mas quem não tinha tanta certeza disso e ficou atônito ao ver aquelas imagens foi um filho de Larry, que assistia tudo pela televisão de uma lanchonete da escola no Brasil: Larry 15 – Ele chegou no bar aí olhou no bar assim, estava passando a cena ... aí o colega dele “cara os cara tão atacando Estados Unidos” “bombardearam” foi essa expressão que o amigo dele usou “bombardearam o WTC” aí ele olha pro amigo e disse “pô meu pai trabalha” “que teu pai trabalha lá” não acreditou ... aí esse amigo depois eu fiquei sabendo disse que o meu filho ficou quinze minutos com olhar fixo na televisão, não atinou falar com ninguém, não atinou nada, ficou ali petrificado. (Rodrigo) Com certa demora a informação que Larry estava vivo chegou a todos os familiares naquele dia. Quando a segunda torre caiu, ele já estava longe da área do WTC. Entre idas e vindas, o economista só conseguiu chegar em casa às seis e meia da noite. (SOBE SOM). Larry voltou ao Brasil ainda naquela semana e ficou um bom tempo sem ir ao local onde aconteceu a tragédia, embora tenha voltado a trabalhar nos Estados Unidos. Fez isso mais de 12 anos depois e visitou o memorial construído no local: Larry 11 – Olha, foi bom e ruim, eu diria que foi mais ruim do que bom porque eu fiquei tão emocionado, eu fiquei tão focado em ver algumas coisas e ouvir vozes das pessoas falando, sabe? Das pessoas ligando pra parentes, aquelas gravações todas. Meu Deus do céu, eu fiquei, eu fiquei naquele lugar ali da das gravações, eu fiquei, sei lá, quinze, vinte minutos ouvindo as gravações. Sabe, foi uma coisa assim, chocante, chocante e o negócio lá foi tão bem feito que trazia até, tu via caminhão de bombeiro, tu via pedaços do antigo prédio sabe? Era uma coisa assim bem muito forte, muito muito me me pegou bem. (SOBE SOM) Larry 12 – ficou muito marcante pra mim é quando tu chega lá tem um determinado ponto que tem a foto de todo mundo que morreu, todas as fotos que eles conseguiram, não sei se estão todos ali, e eu comecei olhar as fotos que tinha e assim eu vi dezenas de pessoas que eu tinha trabalhado junto no primeiro, no primeiro emprego que era lá no oitenta e quatro que eu não sabia que tinha morrido porque eu perdi o contato, eu já tinha saído da empresa, eu já não tinha contato nenhum, mas acho que morreu quase todo mundo que eu conhecia cara, é uma coisa impressionante. Sabe aquele cara aí da comunicação ... eu me lembro que tinha um que era de Trinidad e Tobago, ele gostava de futebol. (Rodrigo) No total os números oficiais apontam a morte de 2606 pessoas em Nova York em decorrência dos ataques de 11 de setembro de 2001. Este trecho da reportagem usa áudios do documentário “O que aconteceu em Onze de Setembro”, da HBO. Da Rádio Senado, Rodrigo Resende.
LOCUÇÃO: ENQUANTO LARRY ENFRENTAVA NA PRÓPRIA PELE O ATAQUE
TERRORISTA, UMA PROFISSIONAL DA COMUNICAÇÃO TINHA A DIFÍCIL MISSÃO DE CONTAR O
QUE ESTAVA ACONTECENDO PARA TODO BRASIL. AS HISTÓRIAS DE SIMONE DUARTE ESTÃO NA
SEGUNDA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”.